Programa Son-Rise, um outro olhar sobre o autismo
Criado nos anos 70 por um casal americano, o programa Son-Rise aborda o autismo com princípios, métodos e técnicas pouco convencionais. E os pais afirmam que vêem resultados. Conheça mais sobre a história e abordagem deste programa pouco convencional.
A história do Programa Son Rise começou na década de 70, nos Estados Unidos, quando Bears e Samahria Kaufman viram o seu filho, Raun Kaufman, na altura com 18 meses, ser diagnosticado com autismo severo. Na época, o autismo era considerado uma doença mental, o prognóstico que lhes apresentavam era de que Raun nunca seria normal e o destino proposto – já que o consideravam “irrecuperável”- era uma instituição.
Bears e Samahria não aceitaram esta “sentença” que lhes apresentavam de um Raun que nunca seria de outra forma. Com o objectivo de o trazerem para o seu mundo, entenderam que teriam primeiro de entrar no mundo dele, para lhe captar a atenção, conquistar a confiança e criar uma relação. Tentaram utilizar outras armas: em vez de reprimirem os seus comportamentos estereotipados, passaram a fazer o oposto juntando-se a Raun nas mesmas atitudes até lhe captar a atenção, estabelecer contacto visual e criar a possibilidade de sociabilização.
Três anos após terem iniciado o programa, a nova avaliação do filho determinou que estava dentro de todos os parâmetros adequados para uma criança da sua idade. Hoje, Raun é um adulto sem vestígios de qualquer perturbação do espectro do autismo e um orador enérgico e comunicativo, sendo ele próprio professor e formador dos Programas Son-Rise ministrados pelo Autism Treatment Center of América fundado pelos pais em 1983. Faz jus ao nome do programa criado para si pelos pais. (Son-Rise, numa tradução livre: ascensão do filho e também uma clara alusão a sunrise, ou seja, nascer do sol.)
Milhares de pais, terapeutas e médicos de cerca de 66 países já frequentaram os programas, entre eles Susana Silva, a presidente da Associação Vencer Autismo, que além de outras atividades divulga e promove o acesso ao Son-Rise.Quando a filha, com dois anos de idade foi pela primeira vez sinalizada por se perceber que alguma coisa não estava bem, embora ainda sem o diagnóstico fechado, Susana iniciou uma peregrinação que os pais das crianças com problemas de desenvolvimento bem conhecem: médicos, terapeutas, exames, mais médicos, mais terapias. Com poucos resultados.
Em 2009 ouviu falar do Son-Rise e, na sua pesquisa, viu vários dos vídeos disponíveis online, pelo que começou a aplicar em casa com a filha as técnicas ensinadas. Conta que viu resultados imediatos, o que a levou a embarcar para a formação de cinco dias nos EUA. A evolução que viu acontecer na sua filha ao longo dos seis meses seguintes foi tão significativa que decidiu que queria partilhar o programa com as outras pessoas que se debatiam com os mesmos desafios, e assim nasceu a Vencer Autismo.
Os princípios Son-Rise
Qual é afinal a abordagem e quais as técnicas utilizadas por este programa? Primeiro pressuposto: a condição do autista não é irrecuperável. Razão pela qual o primeiro dos seus princípios é afirmar que o potencial de cada criança é ilimitado. (ver caixa) “Por vezes há alguma renitência em aceitar a palavra recuperação”, diz Susana Silva, mas a presidente da Vencer Autismo argumenta que falar em recuperação pode passar por conseguir que o autista faça coisas tão simples (para ele complicadas!) como ir ao supermercado, fazer uma refeição ou saber que tem de tomar banho.
Depois, o autismo é encarado não como um problema comportamental e sim, relacional. Adquirir competências é uma prioridade, mas não é a única. Susana dá dois exemplos – reais – esclarecedores: de nada serve uma criança entrar numa sala vazia e dizer bom dia, ou ir vestir um casaco antes de ir para a rua quando na rua estão 40 graus.
O método defende que a chave de toda a aprendizagem é a motivação e não a repetição, pelo que a abordagem mais eficaz é procurar as motivações específicas de cada criança, usando-as para lhe ensinar as competências que precisa de adquirir. “Se queremos que a criança aprenda as cores e as cores não lhe interessam nada, temos de ir à sua motivação. De que é que gosta? Gosta de números, gosta de dinossauros? Usamos pois os números ou os dinossauros para ensinar as cores”, argumenta Susana Silva.
O programa passo a passo
O Son-Rise é um programa domiciliar, no qual os pais são os coordenadores, logo quem estabelece as bases de trabalho e os objetivos, de acordo com o conhecimento que têm da sua criança e seguindo alguns princípios e técnicas.
O ponto de partida é haver um playroom, ou seja, um espaço sem distrações (aparelhos eletrónicos não entram!) e onde o “sim” é promovido. Esta divisão – que pode ser o quarto da criança fazendo-lhe se necessário algumas adaptações – vai ser o espaço de trabalho entre os pais e a criança.
A criança está sentada no chão a folhear um livro de seguida? Está a correr sem parar em zinguezague? Está a alinhar legos ou carrinhos de brincar? Está a balançar-se? Os pais devem observar o comportamento do/a filho/a e entender a sua estereotipia, posto isso, em vez de o tentarem parar, devem iniciar precisamente o mesmo comportamento, num passo a que o programa chama de joining. (juntar-se a) E devemos encarar esta ação precisamente como juntarmo-nos à criança: não devemos apenas imitá-la e sim participar verdadeiramente na atividade que a criança está a fazer.
Posto isto, o adulto deve aguardar uma “luz verde” da criança que indica a sua disponibilidade para a interação: pode ser parar o que está a fazer e estabelecer contato visual, tocar o adulto, ficar a olhá-lo a observar o que está a fazer. E quando isto acontece, o adulto deve tentar iniciar de imediato outra atividade que seja diferente e que ache que possa ter interesse para a criança. “Temos de tentar ser o seu brinquedo preferido”, explica Susana Silva.
O sim e o reforço positivo são técnicas chave de toda esta interação. A criança está mais do que habituada a que lhe digam que não, a que a tentem forçar abandonar os seus comportamentos, a que a corrijam e digam que está errada ou que o que está a dizer ou fazer não tem sentido.
Por isso, além do playroom ser o espaço do sim, onde tudo (com as devidas limitações do bom senso) é permitido é também um espaço de celebração: cada tentativa de comunicação ou interação deve ser efusivamente celebrada. Se a sua criança tentar dizer algo, aplauda e festeje vivamente! O objectivo é que a criança se entusiasme e tente outra vez. E não são apenas os sucessos que merecem ser celebrados, as tentativas e o esforço também.
Em vez de tentar forçar a criança a entrar num mundo que não compreende, criar uma ligação e abrir um canal de comunicação e relação com ela é a chave, defendem. Talvez seja possível resumir o espírito do Son-Rise numa frase, por vezes usada nos seus vídeos de demonstração: “ Eles mostram-nos como entrar no seu mundo e depois nós mostramos-lhes como vir para o nosso.”
Princípios do método The Son-Rise Program®
- O potencial da sua criança é ilimitado.
Um dos princípios do Son-Rise é não aceitar o conceito de “falsa” esperança. Afirma que não sendo possível prever o que cada criança vai alcançar, não é aceitável que seja à partida afirmado aquilo que não vai alcançar.
- O Autismo nunca é uma perturbação comportamental
O programa classifica o autismo com uma perturbação relacional e interativa, razão pela qual a dinâmica e o método de brincadeiras focam tão intensamente a socialização.
- A motivação, e a não repetição, são a chave de toda a aprendizagem.
De acordo com este princípio, as abordagens tradicionais são “contra o cérebro”, tentando formatar as crianças ensinando-as através da repetição infinita.O método Son-Rise procura as motivações específicas de cada criança e usando-as para lhes ensinar as competências que precisam de adquirir.
- Os comportamentos repetitivos (estereotipias) da sua criança tem uma enorme importância e valor.
Uma das técnicas mais conhecidas do Son-Rise é os pais ou voluntários juntarem-se à criança no seu comportamento repetitivo em vez de a parar, numa tentativa de criar afinidades e promover o contacto ocular, o desenvolvimento social e inclusão de outros nas brincadeiras.
- A sua criança pode evoluir no ambiente adequado.
A maioria das crianças dentro do espectro autista está sobre-estimulada por uma quantidade de distrações nas quais a maioria de nós nem sequer repara. Por isso, é necessário trabalhar com a criança num ambiente apropriado, sem distrações e que facilite o contato: o playroom.
- Os pais e profissionais são mais efetivos quando se sentem confortáveis, e otimistas acerca das capacidades da sua criança e com esperança relativamente ao seu futuro.
Muitas vezes, os pais são confrontados com diagnósticos assustadores e pessimistas relativamente à sua criança. O programa tenta ajudar os pais a focarem-se na atitude e a recuperar o otimismo e a esperança, que tornarão que o seu trabalho com a criança seja muito mais produtivo.
- O The Son-Rise Program® pode ser combinado com outras terapias complementares tais como: Intervenções Biomédicas; terapias sensoriais; Dietas sem Glúten e sem Caseine, Terapias de integração auditiva entre outras.
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