Em que estás tu a pensar..? Distração durante a atividade sexual
E quando durante a atividade sexual deixamos de estar focados no que estamos a fazer e começamos a pensar? Seja porque a nossa necessidade de controlo nos faz assumir o papel de espectador, seja porque o pensamento nos foge para assuntos mais prosaicos como o que fazer para o jantar? E há diferenças entre as mulheres e os homens neste aspeto?
As dificuldades sexuais podem acontecer por diversas razões, desde as doenças e respetivos tratamentos (razões biológicas), mal-estar psicológico, sentimentos de tristeza, culpa, ou outras inibições como a vergonha ou o medo (razões psicológicas), ou problemas na relação, conflitos com o parceiro, não se sentir compreendida, bem-amada, bem cuidada, ou pela familiaridade com que o sexo acontece (razões relacionais), até alguns aspetos que têm que ver com a nossa educação e socialização sexual, ou até com fatores religiosos (razões socio-culturais).
Mas há ainda outros aspetos que podem perturbar a atividade sexual e impedir o prazer. Por exemplo, quando surgem determinados pensamentos durante o sexo, sem que a pessoa queira, e que acabam por impedir a concentração nos estímulos sexuais. Estes pensamentos são muitas vezes involuntários e sobre os mais variados temas. Podem estar relacionados com o medo de falhar, de não agradar, de não ser suficientemente atrativo(a), de não estar a fazer as coisas certas – e podem revelar alguma ansiedade de desempenho – e assim caracterizar o papel de espectador de que falavam Masters e Johnson.
Ou seja, a pessoa sai do seu papel de participante e passa a assumir um papel de espectador, de observador de si próprio e das suas ações. E esta hipervigilância, este “não largar o controlo”, podem ser altamente perturbadores da excitação e consequentemente, do prazer sexual. O controlo espanta o desejo.
Mas não ficamos por aqui. O conteúdo dos ditos pensamentos involuntários, pode ainda estar relacionado com os mais diversos assuntos, desde o almoço dos filhos no dia seguinte, a lista do supermercado, a máquina de roupa para estender, um problema do escritório, ou a roupa para vestir no dia seguinte. Estes pensamentos invasivos parecem ganhar vida própria e o seu protagonista desconcentra-se da atividade em que está envolvido. Na prática clínica, esta é uma observação recorrente das mulheres. Nos homens, a distração cognitiva tem mais a ver com a observação da sua performance sexual.
Por outro lado, também é sabido que as mulheres são mais multitasking do que os homens, ou seja, elas conseguem fazer melhor várias coisas ao mesmo tempo. Mas, o reverso da medalha, é uma menor capacidade de concentração, de estar focado. Mas será verdade que a distração cognitiva afeta mais as mulheres? E estará relacionada com outras variáveis cognitivas ou emocionais? E qual é a relação entre a distração e as dificuldades sexuais?
Ana Alexandra Carvalheira, sexóloga, docente universitária e investigadora
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