Alimentação das crianças com conta, peso e medida.
A alimentação das crianças requer cuidados que muitas pessoas não acautelam.
Muitos pais e avós tendem a perder as preocupações que tinham inicialmente com os seus bebés à medida que vão crescendo.
Com os pedidos insistentes dos filhos ou netos, é quase impossível resistir. “Vou só dar um pedacinho para que ele possa provar”.
O problema é quando o pequeno pedaço se transforma em vários e a criança se habitua ao sabor do chocolate, do açúcar e de outros produtos pouco saudáveis.
A Dra. Clara Matos, secretária-geral da Associação Portuguesa dos Nutricionistas (APN) e Directora da Unidade de Nutrição do Centro Hospitalar Trás-os-Montes e Alto Douro explica-lhe quais os alimentos que podem dar-se ou não nos primeiros 12 meses do seu filho.
Quais os alimentos que podem oferecer-se no primeiro ano de vida?
Até aos 4 meses, a alimentação deve ser exclusivamente láctea. Entre os 4 e os 6 meses de idade, o leite materno ou o leite de fórmula artificial, por si só, deixa de ser suficiente para satisfazer as necessidades nutricionais do bebé, pelo que surge a necessidade de introduzir novos alimentos, isto é, de dar início à diversificação alimentar.
A introdução de novos alimentos deve ser iniciada, entre os 4 e os 6 meses, dependendo se o aleitamento é artificial ou materno e, obviamente, da evolução estato-ponderal da criança. Idealmente, se a mãe estiver a amamentar com êxito (isto é, se o bebé se mantém na curva de percentil de crescimento normal) e, claro, se tiver essa oportunidade em termos profissionais, dever-se-á iniciar aos 6 meses.
A diversificação alimentar não obedece a um esquema rígido, embora tradicionalmente se inicie com uma papa de cereais sem glúten (arroz ou milho), porque o sabor é semelhante ao do leite, e por isso poder facilitar o processo de transição para a alimentação sólida.
No entanto, há profissionais que entendem que a introdução de novos alimentos se deve iniciar com a sopa de legumes, principalmente quando o bebé é “gordinho”, por ser menos calórica.
Os restantes alimentos deverão ser introduzidos de forma gradual e progressiva para que, aos 12 meses, a criança esteja apta a fazer todas as refeições com a sua família.
Que alimentos ou produtos devem erradicar-se nas refeições dos bebés?
É consensual que o sal não deverá ser adicionado aos alimentos durante o período da diversificação alimentar.
O elevado consumo de sal na infância pode ser associado a posterior hipertensão arterial. Além disso, as crianças podem habituar-se ao sabor salgado, o que pode afectar as subsequentes preferências e ingestão alimentares.
De igual forma, o açúcar está associado ao desenvolvimento de cáries dentárias, pelo que o seu consumo deverá ser restringido, sendo importante assegurar uma boa higiene dentária tão cedo quanto possível.
Alguns alimentos, como o leite de vaca, clara de ovo, peixe, marisco, trigo, espinafres, amendoins, nozes e outros frutos secos, morangos, kiwi, citrinos e chocolate são potencialmente alergénios, pelo que também deverão ser evitados até ao ano de idade.
Deverá esperar-se pelos 6 meses para a introdução do glúten (presente no trigo, centeio, cevada e aveia), pois a sua inserção precoce aumenta o risco de doença celíaca.
Também as nozes, amêndoas, avelãs e outros frutos secos não devem ser dados pelo risco de engasgamento.
O mel também não deve ser dado antes do ano de idade, uma vez que a flora intestinal ainda não está totalmente formada, e pode conter toxinas.
O facto de alguns avós darem muito açúcar, chocolate ou batatas fritas às crianças pequenas pode ser prejudicial ao seu crescimento?
Claro que sim, até porque se sabe que uma alimentação desequilibrada desde os primeiros anos de vida, pode conduzir ao aparecimento de doenças crónicas não transmissíveis como a obesidade, a diabetes, a doença cardiovascular, alguns tipos de cancro, em idades cada vez mais precoces.
Além disso, em concreto nestas idades, por serem ricos em gorduras, açúcar, conservantes ou corantes, podem comprometer o crescimento e desenvolvimento, aumentar o risco de doenças como alergias, e, por competirem com alimentos mais ricos nutricionalmente, causar carências de vitaminas e minerais.
Que conselhos dar a pais e avós mais despreocupados e que tendem a dar aos filhos ou netos tudo o que estes lhes pedem?
O período de diversificação alimentar deve ser encarado como muito importante para estabelecer bons hábitos alimentares e preferências.
Os pais e avós têm que ter consciência que desempenham um papel fundamental em todas as questões que digam respeito aos seus filhos, devendo desde logo dar o exemplo, na prática de uma alimentação saudável.
Boas alternativas:
– A experiência com novos alimentos desenvolve o gosto por novos sabores, pelo que os alimentos devem ser oferecidos em pequenas porções, separadamente para a sua identificação de texturas e sabores por parte da criança.
– É normal que a criança rejeite rejeitar novos alimentos na primeira tentativa de introdução, pelo que se deve ir insistindo, mas não se deve usar a alimentação como recompensa nem punição.
– A refeição deve ter um aspecto apetecível e a hora da mesma deve decorrer em ambiente calmo, sentando, sempre que possível, o bebé à mesa.
A introdução de novos alimentos deve ser iniciada, entre os 4 e os 6 meses, dependendo se o aleitamento é artificial ou materno.
Os pais e avós têm que ter consciência que desempenham um papel fundamental em todas as questões que digam respeito aos seus filhos.
A refeição deve ter um aspecto apetecível e decorrer em ambiente calmo, sentando, sempre que possível, o bebé à mesa.
Entrevista: Dra. Clara Matos, nutricionista
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