Artrite reumatóide, doença que atinge mais mulheres do que homens
Surge sem uma razão aparente e provoca inflamação articular, acompanhada por dor. Não existe cura para a artrite reumatóide, mas existe tratamento para uma doença que afecta 30 a 40 mil portugueses. Assinala-se a 5 de Abril o Dia Nacional do Doente com Artrite Reumatóide, uma doença crónica “que surge sem uma explicação aparente e é caracterizada por uma inflamação articular, podendo atingir qualquer órgão”. A definição é dada pelo reumatologista António Vilar, que refere que “esta patologia ocorre com mais frequência nos adultos entre os 30 e os 50 anos de idade, sendo mais frequente no sexo feminino – cerca de duas a três mulheres para cada homem – surgindo principalmente após a menopausa”.
Em Portugal estima-se que existam 30 a 40 mil pessoas com artrite reumatóide, sendo que em 5% dos casos a doença manifesta-se depois dos 65 anos. Em causa está uma desregulação do sistema imunitário, “mas não se sabe se esta disfunção é causa ou consequência da doença”, explica António Vilar. Entre os factores de risco – conhecidos ou suspeitados – estão o tabagismo, alguns agentes infecciosos, factores genéticos, traumatismos psíquicos ou físicos graves. Do lado contrário, “a gravidez, a amamentação e provavelmente o uso moderado de álcool e os anticonceptivos podem reduzir os riscos”.
Para a Artrite reumatóide não há cura, mas há tratamento:
Apesar de se poder manifestar de várias formas, o principal sintoma é a dor. “Outros sintomas iniciais caracterizam-se por falta de apetite, fadiga, emagrecimento, febre e anemia”, explica António Vilar. “Com o evoluir da doença, as articulações apresentam-se inchadas, quentes, dolorosas e rígidas”. Ainda assim, a artrite reumatóide não é uma doença exclusivamente articular, uma vez que outros órgãos podem ser atingidos, como “o coração, os pulmões, os olhos, a pele ou o sistema nervoso”. Segundo António Vilar, o facto de se tratar de uma doença crónica “não deve levar o doente a descurar o tratamento”, até porque a doença não tem cura, mas tem tratamento. “Quando convenientemente tratada permite proporcionar ao doente qualidade de vida e manutenção de uma actividade regular, até porque a doença pode extinguir-se espontaneamente ou entrar em remissão com a utilização da terapêutica”, (ver caixa).
Com um diagnóstico precoce, o doente pode ter uma boa qualidade de vida, mas quando descurado o tratamento a doença pode levar a que o doente fique numa cadeira de rodas. Daí que seja importante estar alerta para sintomas como dor, inchaço ou calor numa articulação das mãos, punhos, pés ou joelhos. “Se persistirem mais de uma semana sem causa desencadeante é importante consultar o seu médico assistente. A continuação das queixas além de seis semanas recomenda a observação por um reumatologista”, alerta António Vilar. “Importa saber que hoje se consegue o desaparecimento dos sintomas em 90% dos doentes e em 75% a remissão da doença”.
O principal objectivo do tratamento é aliviar as dores, reduzir e se possível, suprimir o processo inflamatório e imunológico, prevenindo as deformações articulares. “Para esse efeito é frequente dividir o tratamento em medicamentos sintomáticos e modificadores da doença”, explica o reumatologista. Nos últimos anos surgiu uma nova classe de medicamentos – modificadores da resposta biológica – que actuam “inibindo uma só molécula do processo inflamatório”, avança António Vilar. “O grande avanço com esta nova classe de medicamentos permitiu tratar formas da doença até então refratárias aos outros fármacos, e pela primeira vez demonstrar remissão do dano estrutural, isto é, da destruição articular”.
A missão da ANDAR:
Para ajudar os doentes a fazer face à doença, surgiu em Abril de 1995 a Associação Nacional dos Doentes com Artrite Reumatóide – ANDAR). Entre os principais objectivos destacam-se “a defesa dos interesses dos doentes, visando a sua qualidade de vida e a integração social, familiar e laboral, mediante medidas de prevenção no combate à doença; realização de acções de informação; organização de encontros de doentes onde possam expressar as suas dificuldades e dúvidas, além da construção de um Centro de Acolhimento para doentes com artrite reumatóide”, explica Arsisete Saraiva, presidente da ANDAR.
Entre as principais vitórias da associação, destaque para o reconhecimento como IPSS, a comemoração do dia nacional da doença (data de fundação da associação) e o acesso de todos os doentes aos medicamentos biotecnológicos. Recentemente, a cantora Ana Moura participou numa campanha para alertar para doença, um momento importante pois “a imagem de uma figura pública é sempre importante para fazer passar a mensagem”
De doente com artrite reumatóide a instrutora de fitness:
O dia 14 de Fevereiro vai ficar para sempre gravado na memória de Joana Pereira. Foi no Dia dos Namorados que começou a sentir os primeiros sintomas de rigidez nas mãos e nos pés, sem razão aparente. “Tinha dores horríveis, os dedos estavam inchados e pensei que tinha fracturado alguma coisa”. Contou à mãe, que a acompanhou ao hospital, onde lhe receitaram um anti-inflamatório. Voltou outras vezes ao hospital, mas ninguém conseguia encontrar uma razão para as dores que sentia. “Não conseguia escrever, não conseguia andar, não tinha forças para nada. E tudo aconteceu de um dia para o outro”.
Foram necessários nove meses, período em que quase deixou de andar, até que numa consulta de reumatologia ouviu o diagnóstico: artrite reumatóide. “Na altura tinha 17 anos e achei que bastavam uns comprimidos para ficar boa”. Mas não era assim tão simples e passadas três semanas Joana foi internada. “O médico ficou escandalizado com o meu caso, pois eram muito raras as manifestações da doença na minha idade”. Joana perdeu a conta aos internamentos que se seguiram. “Revoltei-me! Gostava de fazer desporto, o meu hobbie preferido era dançar e tive de deixar tudo o que gostava. Quando comecei a tomar cortisona fiquei irreconhecível. Estava muito inchada e não queria ir à escola. Tinha vergonha”. Aos 21 anos foi obrigada a submeter-se a uma cirurgia para fazer prótese total da anca, pois tinha uma diferença de 8 cm de uma perna para a outra. Mas Joana não desistiu e aos 22 anos já trabalhava no Instituto de Medicina Legal, emprego com que sempre sonhou. Até que um novo contratempo voltou a trocar-lhe as voltas: “supostamente numa das autópsias fui contagiada com tuberculose e como andava a fazer o tratamento para a artrite reumatóide (o meu corpo sempre rejeitou os tratamentos) tive de ser internada numa ala de isolamento durante dois meses. Cheguei a pesar 36 kg, fiquei em risco de vida”. Aconselhada a desistir do emprego devido à artrite reumatóide, viu-se obrigada a fazer uma nova cirurgia ao pé direito e foi durante o período de recuperação que começou a pensar numa profissão alternativa. “É muito complicado dizerem que não podemos exercer a profissão que escolhemos, mas não me deixei ir abaixo e comecei a fazer algumas formações remuneradas, a pensar em alternativas”.
Entretanto, a administração de um tratamento que já tinha feito anteriormente reactivou a tuberculose, obrigando a um novo internamento. E quando tudo parecia estar perdido surge uma luz ao fundo do túnel: um tratamento que o corpo de Joana não rejeitou. “Há 8 meses que faço o tratamento e ainda não tive qualquer rejeição. Actualmente com 30 anos, Joana submete-se a um tratamento de quatro em quatro semanas, que não pode ser interrompido, mas que lhe dá uma nova esperança. “Consigo ser instrutora de fitness, já não tenho receio de ficar sozinha a tratar da minha filha e o melhor de tudo: a doença entrou em remissão. Está estabilizada. Não avançou”.
“Importa saber que hoje se consegue o desaparecimento dos sintomas em 90% dos doentes e em 75% a remissão da doença”
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