Licença de Maternidade – um direito ou um dever?
A maternidade é um projeto a longo prazo embora assuma maior importância nos primeiros anos de vida da criança, dadas as necessidades de cuidados primários para um bom desenvolvimento.
A experiência de maternidade é infinitamente variável mas, em grande medida, depende do significado que lhe é atribuído. Toda a mulher passa por um processo de adaptação para a maternidade que começa durante a gravidez.
Para além das adaptações psicossociais, existem também fatores ligados à própria mulher, ao bebé e ao meio envolvente. O relacionamento conjugal é também um aspeto de extrema relevância na adaptação à maternidade.
No geral a opinião médica é que a mãe deverá ficar o máximo tempo possível com o bebé. Há muitos ganhos neste tempo ser vivido ao máximo com a mãe, tais como ganhos psicológicos, nutricionais e imunológicos.
Aqui entra a questão da amamentação onde uma criança amamentada com o leite materno é muito mais resistente a gastroenterites e doenças infecciosas. As políticas sociais mais protetoras da maternidade defendem isto mesmo. No entanto as licenças em Portugal são bastante inferiores a países como os nórdicos, a Inglaterra ou a Alemanha.
O que a psicologia nos diz é que realmente os primeiros meses são de uma extrema importância para a criação do vínculo afetivo. A relação da mãe com o seu bebé tem sido descrita como um processo gradual de envolvimento afetivo da mãe com o seu filho e que tem como base o desenvolvimento de determinadas competências por parte do bebé, pelo que os dois se influenciam mutuamente na construção desta relação.
A qualidade da interação mãe-bebé traduz-se assim na capacidade de sincronização entre os dois elementos, e parece ser em grande parte influenciada por variáveis maternas surgindo como um fator importante no desenvolvimento e bem-estar posterior da criança.
Todo o ser humano procura segurança mas é no início das nossas vidas que mais precisamos dela para sobreviver. É esta relação de proteção/securização que vai permitir um bom desenvolvimento emocional do bebé e da criança.
Relacionamento dos pais no primeiro ano de vida do bebé
Criar momentos de qualidade na relação possibilita ganhos para todos os membros da família, e para isso acontecer por vezes é importante parar as rotinas pessoais e profissionais para nos dedicarmos inteiramente à criança por um momento que seja.
Assim, durante o primeiro ano de vida, mãe e bebé vão conhecer-se jogando a vida em conjunto, vão constituindo uma díade de ritmos e sincronias. Se a segurança é um ingrediente crucial para o desenvolvimento do bebé, a proteção oferecida pela figura materna é a sua condição básica.
Acontece que, muitas vezes, a mãe, mulher trabalhadora, tem que voltar para o trabalho mais cedo do que queria ou por outro lado vive num limbo entre a necessidade de cuidar do bebé e de dedicar-se às suas próprias necessidades (económica, social, profissional, etc.).
Não só a criança precisa dos poucos meses de licença da mãe como também é essencial para uma mãe fazer uma pausa para conseguir dedicar-se às necessidades do seu bebé e das suas próprias enquanto mãe. Os primeiros meses de vida de um bebé são também os primeiros meses de vida de uma mãe, e de um pai claro. Mesmo quando falamos de mães de “segunda viagem”, as experiências são sempre novas.
É essencial para a criança ter um cuidador tranquilo, e sensível às necessidades do bebé. Se uma mãe não estiver num estado de tranquilidade e serenidade não conseguirá ter a sensibilidade para reconhecer as necessidades do bebé quando este tenta comunicar com ela.
Por mais difícil que seja, é importante que a mãe cuide de si mesma, para poder cuidar do bebé com maior tranquilidade e sensibilidade, e para que isto aconteça, mais do que voltar ao trabalho, a mãe necessita de apoio.
Tentar ser a Super-Mulher pode ter o resultado inverso. Será de extrema importância ter uma equipa de suporte, onde entra o pai, a restante família ou mesmo uma baby-sitter, para que o equilíbrio entre necessidades do bebé e necessidade individuais dos cuidadores seja alcançado.
A maternidade e a dedicação aos filhos é um dos fatores que leva à ideia de que a mulher se dedicará menos a outras tarefas. No entanto ser mãe, nos dias de hoje, tem um cariz muito social. Tudo o que nos rodeia influencia na decisão de construir um projeto de gravidez.
Seja por questões profissionais ou pessoais, a mulher está constantemente a ser “bombardeada” com valores e crenças que influenciarão nesta tomada de decisão.
Quando as opções de uma mãe são postas à prova pelo escrutínio social, o mais certo é que surjam sensações de ansiedade, dúvida, ambivalência e baixa auto-estima.
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Para evitar estas sensações uma mãe poderá utilizar as seguintes estratégias:
•Filtrar a informação – nem tudo o que nos dizem tem relevância ou deve ser tomado em conta;
•Evitar o contacto frequente com pessoas que transmitam ansiedade e pensamentos negativos sobre a maternidade e o bebé;
•Aprender a dizer “não concordo”;
•Organizar por prioridades uma lista de coisas a fazer – para que se sinta segura nas suas atitudes e ideais;
•Foco no positivo e construtivo;
•Partilha de sentimentos (ansiedades, frustrações, tristezas, alegrias…) com os que estão mais próximos.
Num tempo em que o trabalho feminino surge como forma de afirmação pessoal, de sociabilidade e de resistência à dominação masculina, é importante discutir temas como a crescente competitividade entre homens e mulheres no mercado de trabalho, uma também crescente individualização para os dois sexos, bem como a adaptabilidade da instituição família perante estas alterações.
A pressão no mercado de trabalho para que a mulher não engravide ou para que não passe muito tempo ausente da sua atividade profissional é muita e provoca sentimentos de ambivalência na mulher. Mas os trabalhadores com filhos tem direitos legais.
No nosso país algum trabalho tem sido feito a nível legal, no sentido de incluir o pai nos cuidados primários nos primeiros meses de vida do bebé.
Desde 2009 que a lei permite que a licença seja partilhada entre mãe e pai. No entanto há ainda um longo caminho a percorrer, sendo que, esta ambiciosa gestão igualitária entre família e carreira só traz benefícios para todos os intervenientes.
Além do aumento da auto-estima, da resiliência e da motivação para as mulheres e das excelentes oportunidades de se relacionarem com os filhos e de criarem laços fortes para os homens, as crianças são as que ganham mais ao poderem interagir em tempo de qualidade com ambos os progenitores/cuidadores, podendo estas tirar um enorme proveito quando esta gestão de tempo é equilibrada e simétrica.
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