Doenças reumáticas: conheça os fatores de risco
Andar, levantar-se de uma cadeira ou abotoar uma camisa podem ser atividades difíceis e dolorosas de fazer para quem sofre de uma doença reumática. Apesar dos seus efeitos serem progressivos, é possível eliminar alguns fatores de risco de forma a impedir a sua evolução. Mas para isso, há que conhecê-los.
“Tenho reumatismo”. Esta é uma expressão frequente entre quem sofre de uma das muitas doenças reumáticas, que geralmente se manifestam através de dores musculares ou esqueléticas. O termo não é rigoroso do ponto de vista médico – até porque querendo dizer tudo, na verdade quer dizer muito pouco –, mas ainda é uma designação usada pelos doentes quando se referem ao problema que os aflige.
Sob a designação de doenças reumáticas escondem-se mais de uma centena de patologias, que partilham sintomas como a dor, a tumefação (inchaço), a limitação da mobilidade e, em alguns casos, a incapacidade da região afetada. No entanto, são todas doenças muito diferentes.
João Madruga Dias, reumatologista, enumera como exemplos desta diversidade a artrite reumatóide, a espondilite anquilosante, a artrite psoriática, o lúpus eritematoso sistémico, a osteoporose, a osteoartrose, a fibromialgia e a gota úrica. Contudo, “estas são apenas algumas das doenças do campo da reumatologia e nem todas têm a mesma prevalência na população, nem a mesma gravidade”, realça o reumatologista.
Apesar de ainda não ser possível apontar com total certeza o número de portugueses atingido por doenças reumáticas (o 1º Inquérito Nacional sobre Doenças Reumáticas em Portugal encontra-se em fase de análise de resultados), estima-se que cerca de 2,7 milhões de pessoas sofrem de algum tipo de queixas reumáticas.
Conhecidas por afetarem as articulações, “muitas destas doenças são consideradas multissistémicas por afetarem vários órgãos diferentes, por vezes com consequências graves”, constata João Madruga Dias. Pele, glândulas salivares, olhos, músculos, intestinos, coração, rins, pulmões e até o cérebro são alguns dos órgãos que podem ser atingidos por uma doença reumática.
Quem corre maior risco de doenças reumáticas?
As doenças reumáticas são a primeira causa de baixa laboral e o principal motivo de incapacidade dos portugueses. Como tal, é importante alertar para o diagnóstico atempado destes problemas, muitas vezes impercetíveis ou ignorados pelos próprios doentes durante anos. Mas não só. Também importa conhecer os fatores que levam ao aparecimento destas doenças, de forma a poder eliminá-los ou minimizá-los. Pelo menos nos casos em que isso é possível.
Tal como noutras patologias, sabe-se que existem pessoas mais predispostas a desenvolver este tipo de problemas, mas a verdade é que, como refere João Madruga Dias, ainda não se conhecem os fatores de risco da maioria das doenças reumáticas. “Sabemos que o componente genético (que ainda não conseguimos alterar) é muito importante. Existe uma interação com meio onde vivemos, um fator ambiental que poderá servir como gatilho para desencadear a doença, mas em diversas patologias reumáticas ainda não é claro qual é esse fator”.
No entanto, existem algumas exceções. A osteoporose é uma das poucas doenças cujos fatores de risco estão bem estabelecidos. Hoje sabe-se, por exemplo, que sexo feminino, idade, menopausa precoce, índice de massa corporal baixo, história pessoal ou familiar de fratura prévia, uso de glucocorticóides, tabagismo e consumo de álcool são alguns dos principais fatores de risco para esta doença.
Apesar do desconhecimento que envolve a maioria das patologias, os especialistas têm uma certeza: cada doença reumática apresenta fatores de risco específicos, relacionados, por exemplo, com a atividade laboral ou a prática desportiva. Mas também existem fatores comuns entre algumas patologias. A idade é um deles.
Ao contrário do que algumas pessoas possam pensar, não são só os idosos que sofrem de doenças reumáticas. Existem determinadas patologias, como a artrite idiopática juvenil, que afeta crianças e jovens, ou como a espondilite anquilosante, que surge especialmente em homens jovens (entre os 20 e os 30 anos).
Por essa razão, o reumatologista afirma que “é importante desfazer o mito de que quem padece de doença reumática é o idoso. É precisamente em pessoas em idade ativa e jovens que algumas das patologias reumáticas mais graves e incapacitantes incidem”. No entanto, não podemos esquecer que certas doenças estão indissociavelmente ligadas ao envelhecimento, como é o caso da osteoartrose (maior incidência acima dos 50 anos) e da osteoporose (mais comum em mulheres pós-menopáusicas).
Para além da idade, as doenças reumáticas parecem ser mais frequentes no sexo feminino. Contudo, há que ver caso a caso, que é como quem diz doença a doença. Por exemplo, de acordo com vários estudos, a artrite reumatóide, o lúpus e a esclerose sistémica afetam maioritariamente as mulheres, enquanto a espondilite anquilosante e a gota úrica vê nos homens o seu alvo preferencial. De acordo com João Madruga Dias, esta predominância não significa, porém, que as doenças sejam exclusivas de um determinado sexo. Apenas surgem com maior frequência num deles, não se conhecendo, em muitos casos, o motivo exato para que tal aconteça.
O sedentarismo, a obesidade, o tabagismo, a ingestão de bebidas alcoólicas em excesso, o consumo de certos medicamentos, bem como a existência de outros problemas de saúde, são também considerados fatores de risco para algumas doenças reumáticas.
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