Para que serve o pequeno-almoço?
O pequeno-almoço é muitas vezes descrito como a refeição mais importante do dia.
Mas como em tantas outras coisas, nem sempre damos a devida atenção ao que é importante. É de manhã, o sono ainda aperta e se não é a falta de tempo, pode ser a vontade que não ajuda.
Às vezes é fácil esquecê-lo. Ou simplesmente trocá-lo por um simples copo de leite ou um café. Ou então por aquele pacote de bolachas que ali estava tão à mão. Seja porque dá trabalho, porque não há tempo ou porque simplesmente àquela hora não apetecia nada, são muitas as desculpas que arranjamos para evitar um pequeno-almoço saudável.
Mas antes de acordar, amanhã de manhã, já esquecido(a) do que leu hoje no Inspire Saúde, talvez não seja má ideia desmascarar algumas das armadilhas que trazem estas desculpas. É que não tomar o pequeno-almoço, ou ficar simplesmente pela tal tentativa de “enganar o estômago”, é o tipo de gesto que costuma fazer ricochete.
O facto de não se comer de manhã fará com que à hora de almoço se tenha de comer mais para se sentir saciado. Se o deixou de parte porque havia outras coisas mais importantes, não estranhe se não estiver no seu melhor quando for preciso lidar com tarefas que requerem atenção. E aqueles minutos que poupou ao evitá-lo? Não se admire se perder bem mais do que esses minutos ao longo do dia.
Para que serve o pequeno-almoço?
O pequeno-almoço é primeira refeição do dia. Em regra, é também a primeira após o corpo ter descansado durante uma noite de sono. Geralmente, quando chega a hora do pequeno-almoço, já passaram 8 ou 10 horas desde a última refeição. Mesmo que o apetite ainda esteja mais ensonado do que a pessoa, o jejum foi prolongado e é essencial voltar a repor nutrientes.
Ana Carolina Soares, nutricionista, explica-nos que “para travar o estado catabólico em que acordamos, o pequeno-almoço deve conter alguma fonte de hidratos de carbono e é uma refeição que deve acontecer pouco depois de acordarmos, um máximo de 30 a 45 minutos depois de acordar”.
Um bom pequeno-almoço prepara-nos para mais um novo longo dia que temos pela frente. Trata-se de uma necessidade física mas também mental. E a verdade é que quando o pequeno-almoço é correto, não passa muito tempo até sentirmos os benefícios. “Quer em termos energéticos, quer do próprio controlo do apetite e bem-estar ao longo do dia”, especifica a nutricionista.
No caso das crianças – e sabemos que por vezes a birra já está à espreita – a responsabilidade ainda é maior. Talvez ainda mais importante do que garantir que a criança segue para a escola com a mochila devidamente arrumada, é garantir que sai apta para o dia de aulas que se avizinha.
O pequeno-almoço faz a diferença em termos de concentração, o que por sua vez fará a diferença em termos de resultados escolares. Um estudo norte-americano – The State of Family Nutrition and Physical Activity Report: Are We Making Progress? – comprova que mesmo uma criança que esteja bem nutrida, mas que tenha o hábito de “saltar” o pequeno-almoço, terá mais dificuldades na resolução de problemas. E isto não é tudo.
Dar o exemplo
Durante a noite, os níveis de açúcar no sangue vão baixando um pouco, à medida que as horas de sono avançam. “Mesmo sem ter uma atividade física frenética, as crianças consomem muito açúcar durante a noite”, explica-nos o pediatra Mário Cordeiro em O Livro da Criança. O que quer dizer que mesmo que não estejamos perante nenhuma crise de hipoglicemia, a verdade é que esta simples desregulação pode ter influências não só a nível físico e cognitivo, mas até a nível emocional.
Recuperando a história do João, um caso que o pediatra Mário Cordeiro cita como exemplo no seu livro, notava-se-lhe durante a manhã um comportamento mais impaciente e até agressivo, que geralmente só passava depois do almoço.
Entre a azáfama matinal e as já habituais indecisões do João sobre o que comer num pequeno-almoço correto tornara-se a exceção quando deveria ser regra. Mas a solução para estas mudanças de comportamento era até bastante simples: alguma firmeza, negociação e capacidade de antecipação.
Combinando de véspera o que seria o pequeno-almoço na manhã seguinte, evitavam-se as discussões matinais, mas também a tal impaciência do João durante a manhã. E com tão pouco tombava-se o tal gigante. Vistas bem as coisas o problema não era assim tão grande.
Enquanto nutricionista, Ana Carolina Soares sabe que “a falta de tempo ou de apetite ao acordar” são as desculpas mais comuns. Mas como vimos no exemplo do João, a solução é possível. “Deixar tudo preparado de véspera” é uma hipótese que a nutricionista também refere, mas se não houve oportunidade na noite anterior, pode-se sempre “recorrer a estratégias mais práticas que se tornem ‘portáteis’ na deslocação até ao trabalho”.
Afinal de contas, um pão, um iogurte ou uma peça de fruta são alimentos fáceis de transportar e de consumir na maior parte dos locais. De resto, quem tem filhos também não pode pensar que insistir com a criança chega. Esta é mais uma situação em que se adequa perfeitamente a expressão “ensinar pelo exemplo”.
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