Sopro no coração, tudo o que precisa de saber
O sopro no coração apesar de, na maioria dos casos, não ser uma condição grave, pode provocar desmaios, falta de ar e palpitações. Conheça tudo o que precisa de saber sobre esta condição. Um problema frequente nas crianças, por norma temporário, e que na maioria dos casos não traz muitas aflições. Mas claro, qualquer anomalia que impeça o funcionamento ótimo e normal do organismo traz as suas consequências. Falámos com o cardiologista Carlos Catarino, administrador da Fundação Portuguesa de Cardiologia, que nos ajudou a compreender tudo o que envolve o sopro no coração.
O coração é como um motor onde circula o sangue. E, por norma, todos os motores são constituídos por peças, válvulas, tubos, cilindros, que quando em movimento geram sons. O mesmo se passa com o coração que bate a dois tempos e faz o clássico pum-pum, pum-pum. Carlos Catarino explica-nos que, durante o percurso do sangue pelo corpo, este passa, silencioso, por quatro válvulas no coração que abrem e fecham de forma a controlar a passagem do sangue para os sítios certos, como de fossem portões automáticos. E é no momento em que estas válvulas abrem e fecham que se ouve o famoso “pum-pum” do coração. De acordo com o cardiologista, “o sopro cardíaco acontece quando é possível escutar interferências neste fluxo – o pum-pum –, havendo turbulência do sangue dentro do coração”, ou seja, quando existe um defeito nas válvulas.
Ainda assim, é importante lembrar que o sopro não é uma doença só por si, mas sim um sinal de doença, “se bem que em crianças e em pessoas jovens saudáveis por norma é um achado inocente, sem nenhum significado clínico”, realça o especialista.
Quer isto dizer que existem diferentes tipos de sopro do coração. Segundo o cardiologista, podem existir dois defeitos básicos nas válvulas – estenose ou insuficiência valvular – e isto pode dar origem a sopros sistólicos ou diastólicos, ou seja, a anomalias nas válvulas mitral e tricúspide ou das válvulas aórtica e pulmonar. “Os sopros são graduados em I a VI. Quanto maior o grau do sopro, mais grave é a doença da válvula acometida”, explica.
Carlos Catarino explica que “até 50 por cento das crianças sem problemas cardíacos podem apresentar sopro no coração devido às desproporções entre os tamanhos das estruturas e vasos do coração. Em geral, este desaparece espontaneamente com o crescimento”. No caso dos adultos, “apesar de também haver a hipótese do sopro ser benigno e temporário, esta não é uma condição tão comum como nas crianças”, acrescenta.
São causas deste tipo de sopro benigno a febre, anemia, hipertiroidismo, exercício físico ou gravidez. Neste caso, a patologia é resolvida quando a sua causa é eliminada. O cardiologista explica que “o sopro benigno é sempre sistólico e de baixa intensidade (grau I ou II). Sopros diastólicos ou de grau maior que III são sempre patológicos”.
Por outro lado, o sopro no coração também pode ser sinal de algo mais grave, como uma má formação cardíaca. “Um coração insuficiente costuma estar dilatado fazendo com que os folhetos das válvulas se afastem, provocando regurgitação do fluxo sanguíneo”, explica o cardiologista. Nestas situações, o importante é conseguir identificar a causa o quanto antes, de forma a iniciar o tratamento o mais brevemente possível.
Nestes casos, os principais fatores de risco incluem a história familiar de doenças cardíacas, doenças durante a gravidez, o uso de certos medicamentos, álcool ou drogas durante a gestação, hipertensão arterial, história de febre reumática, enfarte do miocárdio, hipertensão pulmonar, doenças do miocárdio e infeções (endocardite).
Conheça os sintomas de sopro no coração!
Nas crianças, as doenças cardíacas que causam sopros são geralmente congénitas – defeitos de nascimento –, o que faz com que “o sopro patológico venha acompanhado de sintomas como problemas no desenvolvimento, falta de vitalidade, falta de apetite, cianose (lábios arroxeados), entre outros”, refere Carlos Catarino.
Devido à anomalia das válvulas causada pelo sopro no coração, é habitual que as pessoas que sofrem deste problema tenham sintomas como a falta de ar, fadiga, tonturas, desmaios, palpitações, inchaço nas pernas e até sensação de se afogar quando se deita.
Já nos adultos, os problemas das válvulas cardíacas desenvolvem-se ao longo do tempo e são detetados quando o paciente tem sintomas de insuficiência cardíaca, como dor no peito, edemas, falta de ar, fadiga, entre outros.
Se a doença não for tratada, pode agravar-se levando à lesão de outros órgãos como os pulmões e os rins, e, em casos extremos, à morte súbita.
Como é detetado o sopro no coração?
Por norma, o sopro no coração é identificado durante o exame médico de rotina através da auscultação do coração com o estetoscópio. Ao ser detetado são realizados testes adicionais para confirmar a benignidade do sopro. ”O exame definitivo para avaliação dos sopros e, consequentemente, das válvulas do coração é o ecocardiograma com doppler. Este exame permite não só identificar o tipo de lesão nas válvulas, como medir o grau de estenose ou insuficiência e avaliar os danos ao coração em decorrência destas lesões”, explica o cardiologista.
Quais os tratamentos de sopro no coração possíveis?
O tratamento vai variar consoante o tipo e grau de sopro do coração, podendo englobar medicamentos, a realização de um cateterismo (procedimento que permite observar o interior dos vasos sanguíneos e do coração) e a correção cirúrgica da válvula problemática.
O cardiologista refere que no caso dos sopros benignos não há necessidade de tratamento, e quando se trata de crianças, não precisa de se preocupar com restrições ao dia-a-dia pois, segundo o especialista, além de desnecessárias podem ser até mesmo prejudiciais. Isto porque, como já foi referido, na maioria dos casos o sopro desaparece com o crescimento da criança.
No entanto, “no caso de lesão das válvulas, o tratamento é mais complexo. Se a lesão da válvula não acarreta maior esforço ao coração e não há sinais de insuficiência cardíaca, o tratamento é feito clinicamente. Nas situações mais graves, com importante lesão valvular, pode ser indicada a cirurgia para troca da válvula nativa defeituosa por uma válvula artificial”, revela o especialista.
De resto já sabe, o seu coração, assim como todo o organismo, necessita de um estilo de vida saudável, por isso, faça uma alimentação saudável, pratique exercício físico regularmente e cuide de si!
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