Aprender a viver com a diabetes
Aquela que é conhecida como a “doença silenciosa” não é uma sentença. E pode até ser um alerta para mudar de vida, que começa logo pelos hábitos mais simples. Veja aqui o que pode começar já a fazer.
Comer bem e fazer exercício são o tipo de conselho com que toda a gente concorda. No entanto, da ideia à prática são muitos os obstáculos com que nos podemos deparar. Mas há formas fáceis e muito práticas de derrubar estes obstáculos, que, muitas vezes, estão só na nossa cabeça. Comecemos pela atividade física.
Por vezes temos uma ideia redutora do que é fazer exercício. Entenda-se: ser ativo de uma forma saudável não tem de implicar um treino diário, extenuante, como se o objetivo fosse ser como o Arnold Schwarzenegger nos idos anos 80. Significa acima de tudo uma pessoa mover-se mais.
O nosso corpo precisa de uma atividade física estruturada, que implique exercícios moderados, mas que possam ser mantidos por um tempo prolongado, tais como marcha, corrida lenta, natação ou dança. É desta diversidade que também resulta uma maior consciência das capacidades do nosso corpo. E é assim que se começa a combater o sedentarismo, o que nos “ajuda a reduzir os níveis no sangue e melhora a capacidade que o corpo tem de utilizar a insulina”, como nos explica A Diabetes na sua Mão, livro da autoria de Francisco Sobral do Rosário, Maria João Afonso e José Manuel Boavida, publicado com o apoio da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP).
A diabetes é o tipo de doença que traz preocupações da mais variada índole. Um diagnóstico pode implicar mudanças ao nível da alimentação, da rotina diária, para além do cuidado no acompanhamento da doença. É por isso que o primeiro passo passa por aceitar e compreender o diagnóstico. Para tal será importante o apoio do médico, que será sempre uma ajuda essencial para que a doença, no dia-a-dia, se mantenha controlada.
Como passar à prática
A atividade física pode ser estimulante, divertida e enquadrar-se em qualquer rotina, por muito que coisas como o tempo, a idade avançada, ou simples aborrecimento possam intimidar.
Alguns conselhos práticos: usar as escadas em vez do elevador, aproveitar para introduzir pequenas caminhadas ao longo do dia (por exemplo sair uma paragem de autocarro mais cedo, estacionar o carro mais longe, até aproveitar tempos de espera para andar um pouco), levantar-se um pouco mais cedo para incluir algum tipo de exercício ou uma simples caminhada matinal. Participar em classes desportivas é outra boa forma de definir no dia-a-dia um momento específico para o exercício.
Para quem quer seguir um regime de maior exercício, convém nunca esquecer o mais básico: alimentar-se corretamente (sobre isto falamos já de seguida neste artigo), fazer alongamentos antes e depois da atividade e beber líquidos antes, durante e depois do treino, para evitar a desidratação. Tratam-se de preocupações que todos devemos ter mas que um diabético não pode, de todo, descurar. Quanto ao calçado, este deve ser confortável e adequado e as meias devem ser de algodão, sem costura interna.
Relembre-se no entanto que todas estas sugestões não dispensam a conversa com um especialista. É importante que quem tenha sido diagnosticado com diabetes ou se encontre em situação de pré-diabetes fale com o médico, precisamente para saber quais são os exercícios mais indicados e que cuidados se devem ter. Como não há duas pessoas iguais, convém perceber-se o que resulta melhor connosco. Daí ser essencial procurar atividades físicas que nos mantenham também motivados, como por exemplo aproveitar para fazer uma caminhada em companhia, ou até algo tão simples como quem tem crianças a seu cargo, ser capaz de tirar um pouco mais de tempo para brincar com o filho.
No caso das pessoas tratadas com insulina, as preocupações com o exercício físico são sensivelmente as mesmas. Pontualmente poderão ser necessários reforços de hidratos de carbono em exercícios mais intensos, por exemplo, que ajudam o corpo a responder melhor às exigências do momento. E, naturalmente, ter sempre em conta os valores da glicemia, que permitirá saber que cuidados ter, antecipando problemas.
Finalmente, uma pergunta que por vezes ocorre é precisamente que quantidade de exercício se pode fazer? Haverá um ponto em que o esforço é demais? A resposta inevitavelmente é um pouco ambígua: sim e não. Em primeiro lugar há outras questões que a pessoa deve colocar a si mesma: tenho praticado exercício com regularidade? sinto-me bem a fazer determinados esforços?. A verdade é que a relação do nosso corpo com a atividade física varia ao longo da vida, acompanhando a idade, a intensidade e as mais diversas circunstâncias. O importante é saber que a evolução se faz de forma gradual. Com o tempo e a prática torna-se mais fácil acrescentar mais um quilómetro à corrida ou uma série extra de exercícios abdominais.
Comer bem para se mexer melhor
Da mesma forma que se podem mudar pequenos hábitos de exercício, também se podem corrigir hábitos alimentares sem ser preciso passar fome. Ainda no livro A Diabetes na sua Mão, podemos também ver que, ao longo dos anos, “as recomendações alimentares para as pessoas com diabetes têm evoluído (…) no sentido de regras nutricionais semelhantes à alimentação saudável da restante população”. Isto quer dizer que mitos antigos, como a total proibição de consumo de açúcares, têm sido aos poucos desmontados, embora possam permanecer no imaginário popular.
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