Diabetes – Quando nos falta o açúcar.
A diabetes é muitas vezes ignorada, mas é uma doença que pode surgir em qualquer idade.
Embora existam actualmente tratamentos eficazes que permitem levar uma vida normal, o diagnóstico precoce é ainda a melhor arma para evitar complicações graves.
Durante muito tempo os médicos deram mais importância à diabetes infantil, que obriga a injecções diárias de insulina. Aperceberam-se, entretanto, que se tratava de um erro, já que a diabetes em idade adulta implica os mesmos riscos para a saúde.
Mas dois problemas se levantam: cerca de 25 por cento de diabéticos ignoram a sua própria doença; e entre aqueles que dela têm consciência, mais de metade não a vigia convenientemente, a maior parte das vezes por falta de informação. Para ajudar a compreender mais claramente o tema, apresentamos-lhe quatro situações comuns e o modo como reagir perante as mesmas.
O seu filho é diabético
Em primeiro lugar, não se culpabilize. Você não é responsável, até porque a grande maioria das diabetes infantis não tem antecedentes familiares. Em segundo lugar, não se preocupe demasiado. O seu filho terá necessidade de levar injecções diárias de insulina, mas elas são indolores. Além disso, não está sozinha para o ajudar: uma equipa médica irá apoiá-la, podendo também recorrer às associações de diabéticos.
Deverá, contudo, vigiar o crescimento do seu filho. Com o acompanhamento devido, um jovem diabético deve crescer como as outras crianças e sem apresentar excesso de peso. O seu papel é o de levá-lo a aprender a tomar conta de si próprio.
Deverá, pois, encontrar a justa medida entre apoiá-lo o suficiente, e não o proteger demasiado. Esteja presente nos momentos em que lhe for difícil enfrentar a doença, mas não ande sempre atrás dele. Incentive-o a fazer desporto e a conviver com as outras crianças.
Se, na escola, a professora se mostrar preocupada, peça ao médico do seu filho para intervir, informando-a do que fazer em caso de crise. Por último, consciencialize-se de que a adolescência será um período particularmente difícil, durante o qual o seu filho se arrisca a passar por momentos de grande desânimo. Não hesite em pedir ajuda especializada e encoraje-o a participar em colónias de férias, ou outras actividades, organizadas pelas associações de diabéticos.
Se tem uma filha, não se preocupe quanto às suas possibilidades de vir a engravidar; hoje em dia, em caso de diabetes, mães e bebés não correm quaisquer riscos especiais, desde que a gravidez seja seguida por uma equipa especializada.
Quando o pâncreas se desregula
Existem dois tipos de diabetes:
• A forma juvenil, que aparece na infância ou adolescência, é devida a uma perturbação do sistema imunitário que leva à destruição das células do pâncreas responsáveis pela produção de insulina. Essa hormona permite a entrada do açúcar nas células e, na sua ausência, este vai directamente para o sangue, o que conduz à “hiperglicemia“.
• Os diabetes em idade adulta, que se declaram, maioritariamente depois dos 40 anos, são devidos a uma outra razão. As células do organismo tornam-se resistentes à insulina. Para tentar forçar a passagem, o pâncreas produz cada vez mais insulina, mas esgota-se e a hiperglicemia aparece. Mas, seja qual for a sua origem, este excesso de açúcar é tóxico, nomeadamente para os olhos (risco de cegueira), os rins (insuficiência renal) e as artérias, que têm tendência para se entupirem (enfartes, arterite, impotência sexual).
Aos 40 anos descobre que é diabética
Esta notícia, embora não seja, evidentemente, agradável, também não representa uma catástrofe. O mais importante, para já, é que se convença de duas coisas. Em primeiro lugar, mesmo que não apresente nenhum sintoma, os perigos para a sua saúde são reais.
Mas se lidar correctamente com a doença pode evitar complicações: hoje em dia está provado que um bom equilíbrio da glicemia (a percentagem do açúcar no sangue) a protegerá das mesmas.
Depois, para ficar com todos os trunfos do seu lado, deve alterar algumas regras de vida:
• Altere os hábitos alimentares.
Não se trata de seguir um regime draconiano mas, antes, de se alimentar de uma forma mais correcta: evite andar a petiscar durante todo o dia, não salte refeições, beba menos álcool e coma menos gorduras (menos do que doces).
Na verdade, a redução do açúcar não é prioritária na dieta de um diabético. Peça ajuda a um médico nutricionista e, sobretudo, aprenda a ler os rótulos: um chocolate “magro” contém com certeza menos açúcar, mas muito mais gorduras, logo, nada de excessos.
• Perca peso.
Saiba que 80 por cento dos casos de diabetes que surgem em idade adulta, atingem pessoas com excesso de peso. Uma alimentação mais saudável, mais equilibrada, ajudá-la-á a emagrecer.
• Pratique uma actividade física.
Para que esta resulte deve ser levada a cabo de forma contínua. Se escolher um desporto, faça-o pelo menos uma vez por semana, depois do assentimento do seu médico. Se optar por andar a pé, o mínimo deverá ser uma hora diária, diversas vezes por semana.
• Vigie os níveis de glicemia. Defina, com o seu médico, qual a percentagem correcta. Para algumas pessoas, usar um aparelho de autocontrolo é um incentivo. Para outras, é inútil e motivo de angústia. Os cuidados alimentares podem, por vezes, ser suficientes para fazer baixar a glicemia. Caso contrário, o seu médico indicar-lhe-á qual a medicação apropriada.
• Deixe de fumar. A diabetes, como o tabaco, provocam uma aceleração do envelhecimento das artérias. Se quer evitar as complicações oculares, renais e cardíacas (enfartes), não multiplique os factores de risco.
Sofre da doença há diversos anos
Está talvez na altura de fazer o ponto de situação e de avaliar se sabe lidar com a sua doença. Longe vai o tempo em que os diabéticos seguiam passivamente os conselhos do médico. Tal atitude não deu bons resultados: 40 por cento dos doentes apresentava complicações sérias ao fim de dois anos.
Os especialistas concluíram que os tratamentos se mostram muito mais eficazes se o diabético se torna, em certa medida, o seu próprio terapeuta.
Entretanto, esforce-se por cumprir as regras seguintes:
• Tome regularmente os seus medicamentos.
Não se esqueça de os tomar à hora do almoço.
• Reaja em caso de mal-estar.
Deve mastigar um pacote de açúcar ou beber um copo de água com três pacotes dissolvidos e, em seguida, comer um fatia de pão ou uma pequena sandes de fiambre.
• Faça a medição da sua percentagem de hemoglobina.
Trimestralmente, junto do seu médico assistente, o que permitirá ficar a conhecer a percentagem média da sua glicemia dos três meses anteriores. Um índice inferior a 6,5%, entre 6,6 e 8%, ou superior a 8% significa, respectivamente, que os seus diabetes estão bem, medianamente ou mal controlados.
• Exija que o seu médico se preocupe com o estado dos seus rins.
Fazendo análises à urina, pelo menos uma vez por ano.
• Consulte anualmente um oftamologista.
Os diabetes são a primeira causa de cegeira antes dos 50 anos. Um simples controlo anual (exame à retina com uma lâmpada especial) permite despistar as lesões, no seu início, e tratá-las.
• Tenha atenção aos seus pés.
Não se esqueça que eles são frágeis e que as suas feridas cicatrizam mal. O seu médico deve verificar com regularidade o estado da sua circulação sanguínea a esse nível. Em França, por exemplo, a arterite é responsável por 5 000 amputações todos os anos.
Existem Diabetes na sua Família
Se existe um caso de diabetes na sua família, se sofre de excesso de peso, se deu à luz bebés com mais de 4,5 quilos, corre o risco de desenvolver diabetes.
A partir dos 30/35 anos, deve medir anualmente, em jejum, a sua glicemia, para verificar se ela é inferior a 1,26g/l.
Atenção, trata-se de um novo valor, definido recentemente pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Na medida em que é uma doença que, no início, não apresenta sintomas, a sua despistagem regular é a única forma de não intervir demasiado tarde.
Actualmente, os diabetes em idade adulta são demasiadas vezes detectados com sete a dez anos de atraso. Ora, é precisamente durante esse período que as complicações graves da doença se instalam. O aparecimento de um excesso de peso ao nível abdominal deve ser considerado um alerta, já que pode ser um factor de risco para o desenvolvimento da doença. A partir dos 45 anos, a doença deverá ser controlada de três em três anos.
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É possível, se adaptar a sua alimentação aos seus gostos e educação. Durante muito tempo, a dieta do diabético consistiu, erradamente, em reduzir o açúcar. Actualmente os médicos já não se focalizam no açúcar, por duas razões. Por um lado, porque suprimi-lo significa aumentar as gorduras, já que é necessário substituí-lo. Por outro, porque os medicamentos actuais permitem um melhor controlo da glicemia. As restrições ao açúcar já não são, portanto, tão severas, e definem-se caso a caso.
Sinais de alerta
Embora os diabetes sejam, muitas vezes, descobertos por acaso, devido a uma análise ao sangue por motivos diversos, existem alguns sinais que o devem alertar:
– sede excessiva;
– vontade anormal de urinar;
– emagrecimento;
– infecções cutâneas recorrentes;
– dar à luz um bebé com mais de 4 quilos;
– cansaço.
Descubra os Tratamentos do Futuro
Bombas portáteis que permitem, de forma regular, a introdução sub-cutânea de insulina. Trata-se de um grande progresso para os diabéticos que não conseguem, com as injecções, reequilibrar a glicemia. Porém, só numa minoria de pacientes será implicada nesta solução, e esse tratamento está reservada aos hospitais.
Os médicos esperam dispor em breve de um pâncreas artificial, capaz de medir a percentagem de açúcar no sangue, deduzir a dose de insulina necessária e depois injectá-la automaticamente no paciente. Diversos anos de trabalho serão ainda necessários, mas esta parece ser a técnica actualmente mais promissora.
Contudo, estas soluções ainda se circunscrevem a casos muito específicos e são praticadas apenas em casos muito pontuais. Duas outras pistas continuam entretanto a ser exploradas: a transplantação de pâncreas e a das suas células.
O médico Luís Gardete Correia, endocrinologista e director clínico da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP) vê com bons olhos as experiências que se estão a realizar neste campo.
O transplante de células de um pâncreas morto, e sua posterior injecção, de modo a ficarem retidas ao nível do fígado do doente, pode vir a conhecer grandes desenvolvimentos com a utilização de três novas drogas imunosupressoras, que evitam mais eficazmente a rejeição destas células.
Actualmente, estão a ser seguidos alguns doentes que têm vindo a conseguir aguentá-las por períodos de, aproximadamente, um ano. Resta esperar por novos desenvolvimentos e descobertas que, necessariamente, irão aparecer com o passar dos tempos.
Associações de apoio
A Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP), fundada em 1926 e primeira do género em todo o mundo, é a mais representativa. Disponibiliza um vasto leque de serviços, que vão desde a investigação, análises, atendimento e apoio a clientes, às consultas das várias especialidades relacionadas com o problema da diabetes.
Existem, porém, outras associações de âmbito mais regional e circunscrito, mas que não dispõem deste tipo de apoio.
Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP)
Rua do Salitre, 118 – 120
1250 – 203 Lisboa
Tel.: 21.381.61.00
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