Artrite reumatóide! Quando a inflamação ataca as articulações

A artrite reumatóide é uma doença inflamatória crónica que afeta essencialmente as articulações. Para quem sofre desta doença, gestos tão simples como abrir uma porta, agarrar uma caneta ou calçar uns sapatos são verdadeiros obstáculos no seu quotidiano. Felizmente, é possível reduzir o seu impacto na vida dos doentes.

Primeiro surge edema (inchaço) e dores nas articulações, instalando-se gradualmente uma rigidez matinal. Mais tarde aparece dor ao movimento, sensibilidade à pressão e até vermelhidão local. Nalguns casos, este quadro faz-se acompanhar de nódulos subcutâneos nos cotovelos, ou na zona dorsal dos dedos das mãos e dos pés. E nos dias em que a doença está mais ativa, o doente pode sentir fadiga, perda do apetite, febre baixa e dificuldade em dormir. Assim se manifesta a artrite reumatóide, a forma mais comum de artrite e a primeira causa de incapacidade temporária.

tratamentos para a artrite reumatoide

As articulações são o primeiro alvo desta doença inflamatória, que afeta normalmente os punhos e os dedos, mas também pode atingir pés, ombros, joelhos, cotovelos ou ancas, entre outros. E, por norma, fá-lo de forma simétrica. Isto significa que se um joelho ou uma mão estiverem afetadas, o joelho ou a mão do outro lado do corpo geralmente também estão.

No entanto, como doença sistémica que é “pode atingir todo o organismo, desde tendões, ligamentos, músculos e órgãos, como o coração ou os pulmões”, revela o reumatologista Luís Cunha Miranda.

À medida que a doença vai progredindo, a erosão das articulações e a perda de movimentos podem diminuir a capacidade funcional e provocar deformidades importantes, que impedem muitas vezes a execução das tarefas diárias e até profissionais.
Em Portugal, a artrite reumatóide é a doença reumática inflamatória mais prevalente, afetando, segundo Luís Cunha Miranda, cerca de 50 mil portugueses. Embora atinja mais frequentemente as pessoas com idade compreendida entre os 40 e os 60 anos, as crianças e idosos não estão livres de sofrer deste problema, que surge maioritariamente no sexo feminino. Quando se manifesta antes dos 16 anos é conhecida como artrite idiopática juvenil.

Resposta inadequada do sistema imunitário

A causa da artrite reumatóide é desconhecida, mas pensa-se que no seu aparecimento podem estar implicados diversos fatores genéticos e ambientais. Sabe-se também que o sistema imunitário tem um papel importante no seu desenvolvimento. Neste caso existe uma resposta errada do sistema imunitário, que reconhece as próprias células como estranhas e ataca-as causando uma resposta inflamatória nas articulações e outros órgãos.

O diagnóstico da artrite reumatóide pode ser um desafio, pois habitualmente a doença tem um início gradual com sintomas subtis. Uma vez que não existe um único exame clínico que permita o diagnóstico, este só é estabelecido quando o médico relaciona a presença dos sinais e sintomas, detetados no exame físico, com os resultados dos exames laboratoriais e de radiografias.

As análises de sangue realizadas podem revelar a presença de anticorpos como o fator reumatoide. Contudo, isso não significa necessariamente que a pessoa tenha a doença. “Se a parte clínica não estiver presente [apresentação de sintomas], apenas se tem os marcadores no sangue. E muitas vezes são falsos positivos ou são situações que não necessitam senão de alguma vigilância”, adverte o reumatologista.

Nos casos em que a artrite reumatóide já se encontra num estado mais avançado, muitas vezes basta uma rápida observação das mãos, que apresentam deformações articulares típicas, para que o diagnóstico seja definido. De facto, as mãos de um doente reumático oferecem tanta informação em relação à sua doença que podem ser consideradas o seu cartão-de-visita.

 

Sintomas da artrite que indicam quando procurar ajuda:

A dor, a incapacidade e as limitações das articulações não são normais e não podem ser aceites como tal. Procure o seu médico se tiver qualquer uma das seguintes manifestações:

– dor, envolvendo uma ou mais articulações especialmente de manhã, melhorando com o movimento e que, sem causa aparente, persiste por dias ou semanas

– rigidez matinal (sensação de “prisão” dos movimentos), com uma duração superior a 30 minutos

– inflamação articular

– febre baixa

– fadiga

 

Tratar o doente como um todo

Ainda não existe um tratamento que possa curar, definitivamente, a artrite reumatoide. No entanto, existem tratamentos que melhoram a capacidade de executar as atividades diárias e o bem-estar dos doentes, por meio da redução da inflamação, alívio da dor e redução dos danos articulares.

E, ao contrário do que acontecia antigamente, quando não se pensava sequer em remissão da doença, “hoje, com os medicamentos e com a forma de gestão de doentes que temos, conseguimos torná-la num dos objetivos do tratamento”, sublinha Luís Cunha Miranda. Quando se fala em remissão, os especialistas referem-se aos casos em que a artrite reumatóide está de tal modo controlada que permite ao doente viver a sua vida com normalidade.

De acordo o reumatologista, os tratamentos para a artrite reumatóide vão desde simples medidas de alívio dos sintomas e terapias não medicamentosas até ao uso de fármacos com mecanismos de ação complexos, que têm de ser geridos caso a caso. Tal como nos diz, “nem todos os medicamentos são para todos os doentes. Há doentes que respondem a uma primeira linha de medicação. Há outros aos quais temos de juntar vários medicamentos. E ainda outros em que, por as estratégias anteriores falharem, temos de chegar a uma terapêutica mais diferenciada, mais cara, mas também bastante eficaz, que é o caso das terapêuticas biológicas”. Estas últimas são compostas por medicamentos produzidos geneticamente, que vão agir bloqueando as moléculas e células que dão origem à inflamação.

No entanto, o tratamento não passa apenas pela toma de medicação. “O doente é muito mais do que isso. O doente não é só a doença”, constata o reumatologista. Isso significa que o médico tem de ter em conta não só o controlo dos sintomas, mas também tem de entender que a doença pode repercussões familiares, laborais e físicas.

Para Luís Cunha Miranda, é fundamental perceber que estes doentes têm de ser reabilitados para o trabalho. “Nós não podemos viver numa sociedade em que estas doenças são consideradas como doenças menores ou doenças para reformar. Nós temos de colocar as pessoas a funcionar”, afirma. E isso implica a realização de um diagnóstico precoce, o seguimento em consultas de reumatologia e um plano de tratamento que implica medidas farmacológicas e não farmacológicas.

Portanto, para além dos medicamentos, “existe ainda a possibilidade de se recorrer à medicina física e de reabilitação e, em alguns casos, à cirurgia”, refere o reumatologista. E, contrariamente ao que poderíamos pensar, a prática de exercício físico é totalmente recomendada ao doente com artrite reumatoide.

 

Viver apesar da doença

Não se conhece uma maneira de prevenir a artrite reumatoide. No entanto, é possível diminuir a gravidade da doença, de forma a reduzir a incapacidade funcional e a melhorar a qualidade de vida. Para isso, é fundamental estarmos atentos à saúde das nossas articulações e informarmos o médico de família ou o reumatologista assim que surgirem os primeiros sintomas.

Sendo uma doença progressiva, o diagnóstico e tratamento precoces são essenciais. “Se conseguirmos encontrar esta doença antes dos três a seis meses de evolução, podemos claramente ter uma doença que consegue ser controlada e que consegue ser gerida de forma a que a pessoa não tenha incapacidade”, salienta Luís Cunha Miranda.

Mas, acima de tudo, o importante é que o doente consiga ter uma vida ativa. Por isso, terminamos com um dos conselhos que o reumatologista dá a quem vai à sua consulta: “deve-se viver o mais plenamente possível apesar da doença. Não viver para a doença. Nem viver contra a doença. Há que aceitar que se tem uma doença crónica e arranjar estratégias que permitam ter uma vida o mais próximo do normal possível”.

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