Procriação Medicamente Assistida: o milagre da vida recriado em laboratório
A infertilidade conjugal é considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um problema de saúde pública que se estima que atinja 10 a 15% dos casais em idade fértil a nível mundial. Hoje em dia, no entanto, a ciência tem respostas para estas situações. Saiba quais.
Foi a um sábado, 25 de Julho de 1978 que o mundo assistiu, ainda incrédulo, ao nascimento de Louise Brown, a primeira bebé-proveta, ou seja, a primeira criança a nascer concebida através da técnica da Fertilização in Vitro (FIV). A técnica desenvolvida por Robert Edwards e Patrick Steptoe recriou em laboratório o milagre da vida e, nesse dia além de se ter concretizado o sonho dos pais de Louise, abriu-se a porta da esperança para milhões de casais com problemas de fertilidade.
Grande parte dos casais tem planos para o seu futuro que incluem ser pais, mas nem todos vão conseguir alcançar esse sonho levado pela mão da mãe natureza: muitos vão precisar da ciência para o concretizar através de uma intervenção médica.
Talvez por essa razão o termo “esterilidade” tenha sido há muito banido da literatura e vocabulário médico passando, a partir de certa altura, a falar-se em infertilidade, para denominar o casal que tinha alguma dificuldade em conseguir uma gravidez. E hoje em dia, “nos países nórdicos e anglo-saxónicos a literatura médica nesta área já abandonou também o termo infertilidade e fala em sub-fertilidade, porque com as técnicas e tecnologias disponíveis, potencialmente toda a gente é fértil, com raríssimas exceções”, explica Calhaz Jorge, ginecologista-obstetra, responsável pela Unidade de Medicina da Reprodução do Hospital de Santa Maria.
As técnicas, as taxas de sucesso e os riscos da Procriação Medicamente Assistida:
As técnicas utilizadas na PMA são essencialmente três: a Inseminação Artificial (IA) que consiste na recolha de esperma que posteriormente é injetado no útero da mulher na altura da ovulação, com ou sem estimulação hormonal prévia; a Fecundação in vitro (FIV) na qual, após a estimulação dos ovários, os óvulos produzidos são aspirados e unidos aos espermatozoides sendo colocados em estufas e transferidos posteriormente para o útero materno; e, por fim, a Injeção Intracitoplasmática na qual os óvulos são recolhidos da mulher da mesma forma que para uma FIV, mas cada um é penetrado por um único espermatozoide que é microinjectado diretamente no interior do óvulo, sendo uma técnica indicada no caso de a qualidade do esperma ser baixa.
As técnicas em si não implicam grandes riscos nem apresentam contraindicações de valorizar, o que pode estar contraindicado é a própria gravidez. Ou seja, por norma a preocupação é saber se a mulher suporta uma gravidez que, sendo uma coisa natural, não é isenta de riscos, sobretudo se há alguma doença subjacente. Como explica Calhaz Jorge, “a técnica em si pode ter alguns riscos e incómodos, inerentes a qualquer ato cirúrgico, mas que são controlados e não constituem uma contraindicação em si. Uma contraindicação é, por exemplo, a mulher não ser saudável ou não ter um útero saudável para poder receber a gravidez: “aí não se faz a PMA mas não por causa das técnicas e sim porque a mulher não poder receber uma gravidez.” É o caso das insuficientes renais.
Quanto à parte que mais interessa aos casais, as taxas de sucesso destas técnicas, não é fácil avançar com números, De acordo com Calhaz Jorge “são valores que variam de centro para centro, e consoante a população utente – se é mais velha, mais nova, mais doente ou menos doente – e, mesmo dentro de cada centro, é muito diferente se estamos a falar de uma jovem de 20 anos ou uma senhora de 38 ou 39 anos.”
Por esta razão, as taxas de sucesso são sempre números grosseiros e orientadores, ainda assim, de acordo com Calhaz Jorge, a taxa de sucesso da fertilização in vitro na Unidade do Santa Maria ronda os 35 % por ciclo, sendo a da microinjecção um pouco superior. Já a inseminação intrauterina, segundo o especialista, “tem uma taxa de êxito que anda entre os 15 e os 16%. Tenta aproximar-se da taxa de 20 a 25% que é espontânea na nossa espécie, mas não chega lá.”
De acordo o Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida (CNPMA) estima-se que da utilização clínica dos métodos de Procriação Medicamente Assistida (PMA) já tenham nascido mais de 3 milhões de crianças. Em certos países europeus 5% ou mais das crianças nascidas resultam de PMA, pelo que estamos a falar de soluções com enorme relevância não só individual, como também social. Em Portugal, segundo o CNPMA, em 2005 (últimos dados disponíveis) o número de crianças nascidas fruto de tratamentos com PMA representou cerca de 0,9% do total de crianças nascidas.
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