Como educar uma criança? Orientações na educação dos filhos!
A educação das nossas crianças tem assumido um papel de destaque entre pais, professores, educadores, psicólogos e público em geral. Apesar dos problemas neste âmbito existirem desde sempre, a verdade é que a importância que lhe é atribuída se tem vindo a alterar e a intensificar. Todavia, inúmeros erros continuam a ser cometidos na hora de educar os filhos e são estes erros que mais tarde se irão refletir no bem-estar psicoemocional desta criança que entretanto irá crescer.
Enquanto psicóloga, vou acompanhando em consulta não apenas crianças mas igualmente adolescentes e adultos. É neste contexto, onde os problemas são encarados de outra perspetiva, que emergem as lacunas educacionais e nos apercebemos do real impacto que a educação tem na vida de uma pessoa. Não é difícil julgar um pai ou uma mãe pela birra que um filho acaba de fazer e, colocar em causa a educação que está a ser dada. Contudo, a educação vai mais além, interfere significativamente na definição da nossa personalidade, eventualmente mais do que qualquer fator biológico.
Muitos dos sintomas que cada pessoa nos apresenta em consulta, não são mais do que o reflexo da educação que receberam, dos valores que lhes foram incutidos, das crenças que lhes enraizaram, das marcas que lhes deixaram. É aqui que nos apercebemos que educação e psicopatologia se interligam de forma bastante coesa. Muitos serão capazes de concordar com isto, mas não estamos a falar apenas de uma educação pautada pela rigidez, por exemplo, estamos igualmente a falar de crianças que receberam uma educação onde a proteção ultrapassa a barreira do saudável.
Dar amor também é dar responsabilidades!
São estas crianças que nunca necessitaram ultrapassar obstáculos, que nunca sentiram a responsabilidade e às quais nunca foi dada suficiente autonomia, que mais tarde desenvolvem sérios problemas emocionais. Contudo, não questionamos o amor destes pais que não se apercebem que à medida que vão amando, vão condicionando o futuro dos filhos. Amar e mimar não significa deixar os filhos dormir nas camas dos pais até à adolescência, não significa fazer-lhe a cama, preparar-lhe a roupa ou dar-lhe a comida na boca. Precisamos dar autonomia às nossas crianças para que estas se vão preparando para o dia em que terão que sair de casa.
Crianças exageradamente protegidas tenderão a tornar-se adultos que dependem excessivamente dos outros, que não conseguem tomar decisões sozinhos, que necessitam de alguém sempre a seu lado, que não conseguem enfrentar os problemas com os quais se irão deparar ao longo da vida, nomeadamente a necessidade de sair de casa para ir estudar ou trabalhar.
Do mesmo modo, temos o inverso, pais demasiado permissivos que se vão esquecendo da importância das regras, da utilidade de ouvir “não”. Muito se tem falado deste “não”, mas a verdade é que ele não é apenas um cliché, mas sim a preparação para uma vida que reserva a cada um de nós obstáculos, barreiras e frustrações. É por isso importante compreender desde cedo que as coisas nem sempre são como desejamos, que nem sempre podemos ter tudo o que queremos, que as coisas se conseguem com esforço.
Impor regras é fundamental e, embora se deva compreender e dar espaço à criança para se expressar, em último recurso, os pais são a figura de autoridade e, não devem, em circunstância alguma deixar-se manipular ou esquecer-se que possuem este estatuto.
Transmitir valores e dar-lhes do seu tempo
O processo de crescimento faz-se errando e recomeçando, não podemos querer que os nossos filhos cresçam sem errar ou sofrer. Julgo que aquilo que atualmente observamos é uma tentativa de “corte” com um passado demasiado autoritário e sem muitos dos bens essenciais. Muitos dos que por isto passaram tentam agora dar tudo o que podem aos seus filhos. Mas, cuidado com os exageros! Será mesmo necessário um tablet aos 5 anos ou um telemóvel de gama alta?
Não raras vezes me vejo obrigada a “relembrar” aos pais que estão a formar adultos, que a educação não é uma mera circunstância, mas sim algo que deve ser refletido. Que valores estão a transmitir aos filhos? Lembrem-se que estes são incutidos maioritariamente pelos pais e sobretudo por aquilo que observam nos pais e não tanto por aquilo que eles dizem. Vocês são o exemplo para os vossos filhos, serão até determinada altura os seus heróis. Deem-lhes motivos para que, quando adultos, olhem para trás com orgulho no trabalho que os seus pais fizeram com eles.
Recordem-se também que devem passar tempo de qualidade com os vossos filhos. Bem sabemos que o atual panorama laboral não deixa muito tempo para dedicar à família. Mas devemos pensar que as crianças são atualmente sobrecarregadas com a escola, o atl, as aulas de música ou o desporto. Devemos lembrar-nos que são crianças, não devem ter um horário mais preenchido que os próprios pais. Precisam brincar e precisam de pais com tempo para brincar com eles.
Mas, será esta relação tão linear assim? No ser humano, nada é linear. E existe algo a que chamamos “resiliência”, ou seja, capacidade de superar obstáculos e reinventar-se perante as adversidades. Existem também as características individuais de cada um, bem como as relações que se estabelecem com o meio envolvente, o que faz de nós, seres biopsicossociais. Quer isto dizer que, apesar do tipo de educação recebida, o ser humano tem a capacidade de seguir o seu caminho saudavelmente, uma vez que o peso dos restantes fatores é igualmente grande.
Recentemente, perante uma atitude menos adequada de uma criança, e após a repreender, pedi ao pai que não fosse muito “duro” com ela. Eis a resposta: “não me posso descartar do meu papel de educador“. Isto reflete toda a mensagem que eu quero transmitir. Devemos amar os nossos filhos, devemos protegê-los, mas devemos também educá-los e autonomizá-los. Lembrem-se, pais e amigos têm funções diferentes, sejam próximos dos vossos filhos, mas não se esqueçam que a vossa função principal é ser pais. Não a troquem pela função de amigo.
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