O que origina a violência dos adolescentes?
Os adolescentes aprendem o que vivem, defendem as autoras Dorothy Nolte e Rachel Harris. Com o que vivem em casa, na escola, na rua, nos jogos de computador e playstation, com os amigos e com tudo o resto que os envolve e é passível de os moldar. Falar de violência na adolescência é falar de tudo isto e de muito mais.
Por si só a adolescência já é uma fase de desenvolvimento muito exigente, aliciante e de construção, do próprio, de uma família e de uma comunidade. Falar da adolescência é falar de uma década de desenvolvimento entre os 11 e 20 anos, não estando nem o seu início nem o seu fim claramente definidos. Este período inicia-se com a maturação sexual (puberdade), sendo um período pautado por outras grandes mudanças, quer ao nível do Sistema Nervoso Central (SNC), quer a nível físico, emocional, cognitivo, moral, familiar e social. Estar na adolescência é viver num limbo emocional, ora muito feliz ora muito zangado.
Para além das mudanças físicas e de aparência serem dramáticas, e consequentemente causarem estranheza pela velocidade a que ocorrem, a primazia do sistema límbico (sede das emoções e responsável pelo controlo emocional) neste período de desenvolvimento, contribui significativamente para uma vivência emocional desenfreada e irrefletida, podendo aqui enquadrar-se alguma da justificação para o aparecimento de comportamentos irrefletidos, desajustados e violentos.
Isto porque, a maturidade do SNC só se atinge por volta dos 25 anos, com a maturação do córtex pré-frontal (responsável pelo controlo dos impulsos e pela capacidade de antecipação de riscos e consequências).
Ou seja, a imaturidade biológica, o desfasamento entre o sistema Límbico (emoção) e o Córtex Pré-frontal (responsável pela razão e poder de antecipar consequências), justifica a impulsividade, a imaturidade emocional, a necessidade de satisfação imediata (desejo e busca de prazer), a atração pelo risco e a pouca capacidade de planeamento de decisão que carateriza a adolescência.
A oscilação emocional, com o predomínio de emoções muitas vezes contraditórias, fazem muitas vezes o adolescente verbalizar “não sei o que se passa comigo”, “não sei porque me sinto assim”.
Os jovens têm dificuldade nesta altura, em aprender o mundo de forma assertiva e racional, pelo predomínio do Sistema límbico e pela incompreensão das vivências emocionais. Se durante os primeiros anos de vida as conquistas da criança são andar e falar, durante a adolescência as conquistas são aprender a gerir o limbo emocional em que vivem, a reconstruir o mundo à sua volta e a integrar-se da forma mais satisfatória possível, num grupo de amigos.
Ao contrário do que muitos pais acham, o filho adolescente precisa de atenção, apoio, disponibilidade, conforto, carinho e elogios. O facto de se mostrarem num processo de emancipação, não significa que não precisem de orientação, de presença, questionamentos e regras, antes pelo contrário.
O mundo em torno do adolescente
Enquadrada a adolescência, há agora necessidade de enquadrar tudo que envolve o adolescente: a família, a escola, os amigos, as políticas sociais e o estado de país. Para se falar de violência na adolescência precisa-se de olhar para o adolescente que vive um corpo que acorda diferente todos os dias mas também sobre as mudanças familiares, culturais e sociais que vive. Como verá um adolescente o estado do seu país e tudo o que se passa à sua volta? A reflexão sobre a violência dos adolescentes também deveria partir daqui.
Vivemos num país que se apresenta todos os dias na televisão como endividado e triste diria, onde o desemprego, a descrença e a competição ganham níveis impensáveis, onde a noção de segurança e suporte são poucas.
Os jovens passam cada vez mais tempo na escola e em casa sozinhos, passando grande parte do tempo entregues a si próprios, às suas emoções, à busca de prazer e aos jogos de computador cada vez mais violentos, que incentivam alguns deles à violência, à morte e ao conflito. Grande parte das vezes, os pais desconhecem a seu propósito e que não são adequados para a sua idade dos seus filhos.
Desigualdades socias, famílias em risco, escolas cansadas, com níveis de stress tóxico cada vez maior, competição elevada e cada vez mais alicerçada e fundamentada pelo princípio de “há pouco e não dá para todos”, explicaram a violência que prevalece em casa, nas escolas e na rua.
Recentes investigações demonstram que a exposição a stress tóxico alteram a arquitetura definitiva do SNC e têm consequências negativas sobre o bem-estar (físico e psicológico) do jovem, influenciando significativamente o desenvolvimento e o comportamento da criança e do adolescente.
O papel da família na violência dos adolescentes
Não sabemos nesta altura o que contribui mais para o aumento da violência na adolescência, no entanto sabemos da investigação, que as ligações parentais positivas encontram-se intimamente associadas a baixos níveis de depressão, de ideação suicida e a níveis menores de violência, funcionando como fator de proteção.
Também sabemos que a presença de um adulto de referência (pais e professor, p.e.) com laços emocionais fortes com o adolescente oferece menos hipóteses de apresentar problemas como dependência com álcool e drogas, comportamentos agressivos e comportamentos sexuais de risco.
A adolescência traz ao cimo a qualidade relacional que a criança teve durante a infância com a família, nomeadamente com os pais. A forma como se desenvolve, como se relaciona consigo e com os outros, a quantidade de stress tóxico a que teve sujeito na dinâmica familiar terá um peso importantíssimo na forma como será vivida a adolescência.
Precisamos de um país mais responsável e promotor de segurança para os seus futuros adultos, precisamos de pais presentes e conscientes da vivência da adolescência, precisamos de escolas que promovam o “saber-ser” e “saber-fazer” sem esquecer da sua missão de escola e precisamos de uma cultura que promova a cooperação entre os jovens, o respeito, a integridade e a aceitação de todas as diferenças. “Se os adolescentes vivem com expectativas positivas, aprendem a ajudar a construir um mundo melhor” – Doroty Nolte e Rachel Harris.
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