O meu filho tem um amigo imaginário!
Se encontrar o seu filho a falar sozinho e lhe disser que está a brincar com um amigo imaginário, não se assuste.
As crianças que criam companheiros imaginários simplesmente brincam de uma forma mais imaginativa do que as outras.
Uns encontram-nos de repente, atrás de uma árvore no parque ou numa brincadeira no quarto; outros não sabem ao certo quando é que a “Pipa” ou o “Simão” entraram na sua vida mas sabem que a sua companhia é especial e vão com o seu amigo para todo o lado; e há ainda crianças que guardam a sua amizade imaginária em silêncio porque a querem manter escondida, como se tratasse de uma missão ultrassecreta.
Por volta dos três anos, as crianças vivem uma fase da vida que se apresenta cheia de encantos, aventuras e novas conquistas. É a fase das brincadeiras do faz-de-conta e da chegada dos amigos imaginários. Nesta altura é frequente para muitas crianças brincarem e conversarem sozinhas como se estivessem na companhia de um amigo.
Se o seu filho tem um amigo imaginário, não se preocupe. Está longe de ser o único a partilhar aventuras com alguém que não existe! De acordo com diversos estudos, o fenómeno é mais frequente do que se pensa. Uma investigação realizada pela Universidade de Washington concluiu que cerca de 65 por cento das crianças com idades compreendidas entre os 3 e os 5 anos criam amigos imaginários.
Inês Pinto, pedopsiquiatra, revela-nos que “enquanto alguns se podem desenvolver a partir de um brinquedo especial, a maioria são invisíveis. Eles podem originar-se a partir de uma história, personagem de televisão, pessoa real, animais conhecidos da criança, ou serem completamente inventados por ela”. Por vezes, estes companheiros têm nomes verdadeiros e assumem uma importância grande na vida da criança.
Na verdade, o amigo imaginário é tão real quanto a imaginação da criança que o cria. As famosas personagens de banda desenhada Calvin & Hobbes são o exemplo perfeito deste fenómeno. Quem conhece a história, lembra-se de Calvin a brincar com um tigre que fala, sente, tem vida própria, mas tudo na sua imaginação, pois quando surge outra personagem no enredo, Hobbes é um simples boneco de peluche.
Será normal?
Descansem pais. Contrariamente ao que possam pensar, o amigo imaginário não constitui uma ameaça ao desenvolvimento da criança, sendo, pelo contrário, algo muito natural e um sinal do seu crescimento e evolução. Mais: estes amigos de faz-de-conta constituem uma ferramenta importante na vida dos pequenos, ajudando-os a lidar com o tédio, com a solidão e até com os momentos mais complicados.
“A maioria dos amigos imaginários demonstra uma série de qualidades positivas. As crianças descrevem-nos como amigos interessados, que querem brincar, bons ouvintes e a quem se pode confiar segredos. Mesmo quando são atrevidos ou antipáticos, podem responder de forma positiva ao ajudarem a criança a compreender e a responder a determinadas situações da sua vida”, constata Inês Pinto.
Por vezes, estes companheiros ajudam a exprimir desejos – a criança quer algo, mas atribui essa vontade ao amigo imaginário –, a expiar a culpa – foi o amigo que partiu a jarra, não ele – e a experimentar comportamentos que a sua ética diz não serem os melhores. Afinal, o amigo pode portar-se mal, dado que tem “as costas largas”.
As crianças que criam amigos imaginários não têm qualquer problema em distinguir a fantasia da realidade. Simplesmente, brincam de uma forma mais imaginativa do que as outras crianças. Alguns estudos indicam que estas crianças acabam por desenvolver uma linguagem mais fluente, veem menos televisão e revelam maior curiosidade, entusiasmo e persistência nas brincadeiras.
Há vários fatores que podem influenciar o aparecimento destes amigos. Eles podem surgir quando a criança passa por momentos de stress ou de ansiedade, como por exemplo, quando um amigo muda de escola, nasce um irmão ou os pais se separam, mas também podem ser apenas “resultado da sua curiosidade, criatividade e de alguém que procura dar sentido ao mundo que está a descobrir”, refere a pedopsiquiatra.
Não contrarie a sua existência!
O primeiro impulso dos pais quando descobrem que o filho tem um amigo imaginário é provar que não existe. Mas esta não é a melhor atitude a tomar, pois a criança pode sentir-se incompreendida e afastar-se da família. Em vez disso, devem aceitar esse companheiro de fantasia e respeitá-lo. Nunca se deve questionar a criança acerca da existência de tal amigo ou ridicularizá-la dizendo que é um disparate. Como Inês Pinto aconselha, “não minimize esta relação, mas também não se envolva demais. Pactue com esta criação, mas dentro de limites. Pode, por exemplo, de forma cuidadosa mas firme, dizer ao seu filho que o ‘Mickey’ é um amigo de faz-de-conta”.
O imaginário das crianças deve ser louvado e os adultos temos que aprender a lidar com isso!
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