Adolescência: experiências e consumos perigosos

Para um adolescente, movido pela sede de descoberta de todo um mundo de opções à sua volta, rejeitar uma nova experiência porque ela apresenta perigos, pode não ser uma escolha óbvia. Compete aos pais manterem-se atentos e informados, sabendo informar e conversar com o jovem.

O caminho que vai dar ao abuso ou dependência – seja de álcool, tabaco ou substâncias ilícitas – pode nunca chegar a ser percorrido, mas a verdade é que tudo começa sempre na primeira experiência, quase sempre feita numa perspetiva de que “é só para experimentar”.

De facto, alguns param aí. Mas outros avançam para uma utilização que já pode ser descrita como abuso e outros ainda acabam por se tornar dependentes. Assim, Helena Fonseca, pediatra especialista em Medicina do Adolescente, defende que no que toca a experiências e consumos de drogas é muito (muito!) importante que a situação seja precocemente detetada, para que comece a ser solucionada. A pediatra defende mesmo que quando há muita permissividade dos pais a esse nível, as consequências a médio prazo vão ser muito complicadas, começando obviamente por este risco de se passar de uma utilização “recreativa” para uma situação de dependência.

Além disso, como recorda o psiquiatra Diogo Guerreiro, a relação entre o consumo de drogas na adolescência e vários problemas psiquiátricos, psicológicos e sociais (como  psicoses, depressão, perturbações de ansiedade, dificuldades de memória, problemas de sono, insucesso escolar, comportamentos auto-lesivos, tentativas de suicídio, violência, dificuldades relacionais, entre muitos outros) está provada de forma contundente.

Como prevenir?

Um dos conselhos que várias instituições passam aos pais e educadores é que se informem a si próprios para, por um lado, saberem informar o seu filho e, por outro, saberem reconhecer sinais de consumo. O Departamento de Justiça e o Departamento de Educação norte-americanos, por exemplo, defendem que isso inclui saber os nomes e os “nomes de rua” das drogas, qual o seu aspecto, quais os utensílios que são usados para o seu consumo e que efeitos provocam. E recomendam também que os pais comecem desde cedo a falar sobre estes assuntos, com explicações adequadas à idade, não guardando estas conversas para a chegada da adolescência.

Mas sabemos que a adolescência é uma fase do desenvolvimento em que existe uma tendência normal e natural para experimentar tudo, o que torna vulgares os comportamentos de risco, entre os quais pode estar a experimentação de drogas.

Prevenir problemas de abuso e dependência começa por evitar que haja um primeiro contacto com estas substâncias, ou seja, como refere Diogo Guerreiro, o “melhor é mesmo não experimentar, uma vez que cerca de 10 por cento dos que experimentam uma droga podem desenvolver um problema de abuso ou dependência.” Assim, este deve ser o grande objetivo dos pais: mais do que conseguir detetar o consumo, o foco deve estar em conseguir preveni-lo. Apesar do ditado popular dizer que “há uma primeira vez para tudo”, há coisas que mais vale não chegar a experimentar…

Desta estratégia de prevenção fazem parte, como explica o psiquiatra Diogo Guerreiro, “tomar medidas de diminuição da disponibilidade, por um lado e, por outro lado, tomar medidas de educação que abranjam toda a sociedade (não só os adolescentes) informando acerca das consequências da utilização de drogas, promovendo formas saudáveis dos adolescentes ocuparem o seu tempo e de utilizarem a sua energia (e necessidade normal de experimentação) tais como desporto e atividades artísticas por exemplo.”

O psiquiatra refere ainda que nos grupos de risco para consumo de drogas, torna-se necessário intervir de formas mais intensivas. “É importante uma atempada identificação dos jovens em dificuldades e a alocação de recursos para o ajudar do ponto de vista psicológico, social ou mesmo médico, refere.

E que grupos de risco são estes? Por um lado, adolescentes com vulnerabilidades psicológicas, como traços de fragilidade emocional, problemas de ansiedade ou depressão, adolescentes com famílias problemáticas, elevada impulsividade e personalidades caracterizadas por elevada “procura de sensações”. Por outro, adolescentes que estão inseridos em ambientes sociais adversos, como grupos que aprovem o uso de drogas ou que façam pressão para o uso de forma a que o adolescente seja aceite.

“Em conclusão, apesar de ser muito importante informar acerca dos riscos da utilização de drogas só isto não chega. É preciso criar alternativas saudáveis para onde os adolescentes dirijam a sua vontade normal de experimentação, é necessário apoiar de forma consistente os jovens com mais dificuldades e é fundamental que toda a sociedade esteja envolvida neste processo!”, resume Diogo Guerreiro.

 

Comportamentos de risco levam a comportamentos de risco

“Os jovens que frequentam com regularidade bares e discotecas recorrem ao álcool e outras drogas como forma de facilitar o jogo de sedução”, é uma das conclusões de um estudo levado a cabo pelo European Institute of Studies on Prevention.

Focado na relação dos hábitos recreativos noturnos, consumos e relações sexuais, o estudo – que abrangeu 1341 jovens entre os 16 e os 35 anos em nove países europeus, entre eles Portugal – apurou que 88 por cento dos entrevistados consome bebidas alcoólicas com regularidade. Mas, mais do que isso, demostra que este consumo de álcool e substâncias ilícitas está integrado numa estratégia que visa alcançar objetivos amorosos e sexuais. Ou seja, 33 por cento dos homens e 25 por cento das mulheres confessou utilizar intencionalmente o álcool para se desinibir e iniciar o contato com um possível parceiro.

Muitos destes jovens, questionados sobre os seus comportamentos nas quatro semanas anteriores à resposta ao inquérito, admitem que por essa razão acabaram por ter relações sexuais não protegidas e demostram um certo arrependimento por terem mantido relações sexuais sob o efeito da bebida.

A esse propósito, Helena Fonseca adverte que este é mesmo um dos principais riscos que os jovens correm com a utilização destas substâncias: as implicações na área da não proteção das relações sexuais e o perigo da condução.

“Se temos alguém que tem pouca confiança em si próprio ou tem pouca facilidade em socializar e que bebe para ficar mais solto e mais desinibido…  essa não é boa via para trabalhar ou solucionar essa dificuldade”, defende a pediatra.

Em Portugal a Linha Vida SOS Droga (telefone 1414) faz um atendimento anónimo e personalizado a todos aqueles que queiram tirar dúvidas ou partilhar receios. O atendimento telefónico é efetuado de 2ª a 6ª feira das 10 às 20 horas.

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