Alzheimer: números e conceitos da doença
É a mais frequente das demências e faz-se sentir com maior força nos países mais desenvolvidos, acompanhando o aumento da esperança média de vida. Ainda não há uma cura nem uma certeza sobre as coisas. Mas aos poucos a ciência vai desvendando esta doença que ataca precisamente uma parte da nossa humanidade: a memória e a consciência. Saiba um pouco mais sobre a doença de Alzheimer.
A doença de Alzheimer é um tipo de demência que provoca uma deterioração global, progressiva e irreversível de diversas funções cognitivas. A memória e a concentração começam cedo a ser afetadas mas com a evolução da doença as ideias vão ficando cada vez menos claras, aumenta a desorientação espacial e temporal, a memória definha, a linguagem vacila. Finalmente, o próprio corpo ameaça ceder perante as tarefas mais básicas.
Em termos neuropatológicos, a doença Alzheimer caracteriza-se pela morte neuronal em determinadas zonas do cérebro. O aparecimento de tranças fibrilares e placas senis impossibilitam a comunicação entre as células nervosas, o que provoca alterações ao nível do funcionamento global da pessoa. Esta deterioração neuro-degenerativa tem como consequências alterações ao nível do comportamento, da personalidade e finalmente da capacidade funcional da pessoa, dificultando a realização das atividades mais comuns do dia-a-dia. À medida que o impacto no doente aumenta, as responsabilidades de quem cuida dos doentes também.
O conhecimento científico atual diz-nos que é impossível prever quem vai ter a doença de Alzheimer. Trata-se de uma doença que pode atingir qualquer pessoa, independentemente do género ou condição socioeconómica. Sabemos, no entanto, que existem riscos associados. E que o primeiro entre eles é uma inevitabilidade: o envelhecimento.
A doença de Alzheimer pode até ser diagnosticada em pacientes em idades mais novas, por volta dos 50 anos, excecionalmente até em pacientes ainda na casa dos 40. Mas é a partir dos 65 que a incidência é maior. O facto de estar associada tantas vezes associada ao envelhecimento é mesmo uma das primeiras dificuldades num diagnóstico precoce. É importante não confundir os primeiros sintomas da Alzheimer com sinais comuns de envelhecimento.
Esta doença foi descrita pela primeira vez em 1906, pelo psiquiatra alemão Alois Alzheimer. Desde a descoberta oficial, há mais de 100 anos, que a ciência tem feito avanços na pesquisa. A partir dos anos 60 e 70 a comunidade médica passou a dedicar-lhe uma maior atenção, mas as descobertas mais relevantes surgiram já a partir dos anos 90 e mantém-se atualmente. Os caminhos são diversos mas convergem no mesmo objetivo: atacar uma doença que tem aumentado. Em Portugal, um estudo de 2009 da Eurocode referia que 153 mil portugueses sofreriam de demência, entre os quais cerca de 90 mil de Alzheimer. A previsão é que nos próximos 30 anos este número duplique.
Não existe também um teste específico mas é possível o médico especialista fazer um diagnóstico correto, recorrendo a uma exame físico e neurológico aprofundado. Em primeiro lugar procura-se identificar se se trata de um caso de demência – para tal há sinais a que devemos estar atentos. Depois tenta-se especificar a demência em causa.
No decurso da doença pode-se também falar em formas ligeiras, moderadas ou graves, consoante o peso dos sintomas e a incapacidade que provocam. É também por isso que o tratamento – como o de qualquer outra demência – deve focar-se no doente e não apenas na doença. Até porque o principal objetivo, se pensarmos nas “armas” que atualmente temos ao nosso alcance, passa por atacar os sintomas, tentando ao máximo manter os níveis de bem-estar e de qualidade de vida.
Tratando-se de uma doença degenerativa, a doença Alzheimer evolui ao longo do tempo. Quando é diagnosticada, o tratamento passa pela combinação de medicação e de estímulos intelectuais. Novamente: não existe uma cura. Mas atualmente já existem medicamentos que retardam a progressão da doença de Alzheimer, ao mesmo tempo que atenuam os sintomas. A medicação é parte essencial no processo de retardamento da doença, mas os medicamentos sozinhos não chegam. É preciso continuar a estimular o cérebro, adaptando processos e desafios à medida que a doença evolui.
O que sabemos atualmente já nos permite retardar o declínio cognitivo, tratar os sintomas, controlar as alterações de comportamento e proporcionar conforto e qualidade de vida ao idoso e à sua família. Mas falta ainda uma cura para esta doença que continua a crescer, com todos os custos (emocionais, sociais e económicos), com particular incidência nos países desenvolvidos. Mas enquanto a cura não chega, não basta apenas retardar os efeitos da evolução da doença. É preciso continuar a promover o bem-estar e o envolvimento social. Atrás da doença continua um ser-humano. E, para lá de todas as dificuldades, essa pessoa merece que se preserve a sua dignidade.
A doença de Alzheimer em números:
– Segundo as estimativas do projeto European Collaboration on Dementia (Eurocode), ainda de 2009, o número de cidadãos europeus com demência em 7,3 milhões. Em Portugal haverá mais de 153 mil pessoas com demência. 90 mil das quais com doença de Alzheimer;
– Na Europa este número será de um novo caso a cada 24 segundos;
– A cada 72 segundos haverá um novo doente de Alzheimer no mundo inteiro;
– Todos os anos, 1,4 milhões de cidadãos europeus desenvolvem demência; – Até 2040 haverá 180 mil casos de Alzheimer em Portugal;
– O custo total da doença de demência na UE-27 em 2008 foi estimado em 160 mil milhões de euros (cerca de 22 mil euros por pessoa com demência por ano);
– Há cerca de 35 milhões de pessoas que sofrem de Alzheimer. A grande maioria tem mais de 65 anos.
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