Endometriose: fonte de dor ou de infertilidade
O que é a Endometriose, como se manifesta e o que fazer?
A Endometriose pode começar por dores intensas no período menstrual. Um desconforto que se prolonga com a menstruação, dor nas relações sexuais ou ao evacuar. Mas a endometriose também pode ser silenciosa e estar por trás da dificuldade de engravidar de uma grande parte das mulheres em todo o mundo. Muitas vezes, a solução passa pela cirurgia e o diagnóstico precoce.
Segundo os estudos populacionais, cerca de 15 por cento das mulheres entre os 15 e os 45 anos de idade sofrem de endometriose. Uma percentagem que pode subir para 70 por cento nos casos em que a mulher apresenta um histórico de infertilidade ou forte dor pélvica.
Nos Estados Unidos, a endometriose atinge mais de cinco milhões de mulheres. Em Portugal, é responsável por uma grande maioria dos casos de infertilidade e de fortes dores menstruais. Mas de que se trata esta patologia, muitas vezes silenciosa, e que leva tantos casais aos serviços de infertilidade dos hospitais portugueses?
Sendo uma doença que atinge as mulheres em idade reprodutiva, a endometriose consiste na presença de endométrio – a camada interna do útero, que se renova mensalmente pela menstruação – em locais fora do útero. Quando a doença ocorre significa que focos de tecido endometrial existem em locais como os ovários, trompas, bexiga, parede da pelve, intestinos, entre outros, que sofrem alterações com as variações hormonais do ciclo menstrual.
As causas não geram consenso, como explica Elsa Pinto Delgado, ginecologista e obstetra da Maternidade Alfredo da Costa. “A causa da endometriose ainda é controversa existindo várias teorias que a tentam explicar. Estas vão desde a hipótese de que a endometriose resultaria da implantação pélvica de fragmentos de endométrio viável, provenientes de uma menstruação retrograda durante o período menstrual, até à teoria autoimune, ou seja, um conjunto de alterações que permitem que algumas mulheres estejam predispostas a desenvolver a doença, enquanto outras nunca a desenvolvem.”
Muitas vezes a patologia não dá qualquer sinal e só é detetada quando a mulher não consegue engravidar. Na investigação das causas para a ausência de uma gravidez, a responsabilidade de muitos dos casos em que a infertilidade é atribuída à mulher tem um só nome: endometriose.
Na Unidade de Reprodução do Hospital de Santa Maria,muitas mulheres que procuram os seus especialistas para engravidar sofrem de endometriose, explica Carlos Calhaz Jorge, Director do Serviço de Ginecologia do Hospital de Santa Maria e do Centro de PMA da Unidade de Reprodução do mesmo hospital.
“A endometriose é daquelas doenças que é difícil atribuir à sociedade atual, se bem que pareça mais frequente do que era há uns largos anos atrás. Não se consegue perceber se tem a ver com características exclusivamente genéticas ou se tem a ver com alguma razão ambiental, alimentar ou outra.
Mas há de facto, uma faixa de casais afetada por esta doença, que neste centro é seguramente muito elevada, por se tratar de um serviço de referência na área da endometriose”. O especialista em medicina de reprodução e infertilidade salienta que “a endometriose pode ser uma doença muito perturbadora da anatomia da pelve e dificultar, por isso, mecanicamente a existência de uma gravidez”.
De acordo com Carlos Calhaz Jorge, para quem a endometriose é uma das causas identificáveis “mais espampanantes” de infertilidade, se os ovários tiverem quistos da endometriose não serão ovários completamente saudáveis, pelo que o amadurecimento de células, e as características dos óvulos que lá se colhem podem ter menor qualidade, o que se repercute nas taxas de êxito das técnicas de reprodução medicamente assistida. O clínico deixa porém um alerta: tudo isto é ainda muito discutido e “um mundo complexíssimo onde não há consensos”.
Quando a dor dá o alerta de endometriose!
Se para muitas mulheres, a endometriose desenvolve-se sem manifestar qualquer sinal, noutras o difícil é ignorar os sintomas de endometriose. Dores menstruais e pré menstruais fortes, cólicas, dores nas costas, diarreia, fadiga, dor profunda na relação sexual são sintomas duramente experienciados em muitas mulheres que sofrem desta patologia.
Calhaz Jorge assegura: “A endometriose não ligada à infertilidade também é muito importante porque é uma fonte de dor crónica extremamente grave e intensa que, em algumas senhoras, transforma a vida num inferno completo”.
Elsa Pinto Delgado acrescenta: “A dor pélvica é um sintoma muito frequente e de intensidade variável, podendo ser referida apenas durante o fluxo menstrual, a chamada dismenorreia, ou existir ao longo do mês, chegando ao que designamos por dor pélvica crónica. Outra forma de dor frequente nesta entidade é a dor desencadeada no coito.”
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