Varicela: Como prevenir e tratar esta doença clássica da infância

Na infância são várias as infecções virais que envolvem a pele e a varicela é umas das mais frequentes.

A varicela é considerada uma doença benigna na esmagadora maioria dos casos e um exemplo clássico de uma doença que é mesmo preferível apanhar em criança.

Descubra aqui quais os sintomas de varicela e quais os cuidados a ter.

A erupção característica da varicela, bem como os outros sintomas permitem que o médico reconheça facilmente a doença, geralmente sem necessidade de análises laboratoriais para confirmar o diagnóstico.

E como podem os pais suspeitar de varicela e distinguir esta doença das outras que provocam lesões na pele? De acordo com Jorge Rozeira, dermatologista, director do serviço de dermatologia da unidade local de saúde de Matosinhos e director da clínica Dermoconsulting, na fase inicial da varicela além da febre, arrepios e mal-estar, surgem na superfície da pele vesículas muito características porque têm uma discreta depressão central; além disso a pele apresenta-se nalgumas áreas avermelhada – com eritema -, sobretudo no dorso e da face sendo tudo isto acompanhado de muita comichão (prurido).

De acordo com o Jorge Rozeira, as vesículas rapidamente evoluem para crostas e quando as crostas se começam a soltar formam-se pequenas cicatrizes, sendo frequente a coexistência das 3 lesões (vesículas, crostas e cicatriz) simultaneamente.

sintomas de varicela

Complicações e tratamento de varicela

“A varicela é, na esmagadora maioria dos casos, uma doença benigna, particularmente se apanhada nos primeiros anos de vida”, explica Hugo Rodrigues, pediatra. Apesar de poderem acontecer complicações associadas, como a sobre-infecção bacteriana da pele, infecção do cérebro ou pneumonia, de acordo com o pediatra estamos perante casos raros, sendo que são situações mais frequentes em crianças com défice imunitário, adolescentes e adultos jovens.

Não havendo forma de prevenção eficaz destas complicações, é aconselhável manter as unhas da criança bem curtas para evitar que ao coçar inflamem mais a pele e, além disso, como frisa o pediatra, nestas situações não devem ser usados anti-inflamatórios, nomeadamente o ibuprofeno.

O dermatologista Jorge Rozeira adverte também para o facto de a toma de aspirina e o uso de anti-histmínicos tópicos não estarem indicados nestas situações. Quando estamos perante crianças saudáveis, o tratamento, explica o dermatologista, consiste apenas em medidas de suporte: hidratação, repouso, ambiente com pouca luz (uma vez que pode originar fotofobia, ou seja, sensação de sensibilidade à luz), medicamentos para a febre, anti-pruriginosos tópicos e vigilância do estado geral.

Após o episódio de varicela, o vírus responsável pela doença, o varicela-zoster fica alojado nos gânglios nervosos espinhais ou dos nervos cranianos, onde permanecem “adormecidos”. Muitas vezes, anos depois, acontece uma reactivação do vírus que origina o herpes zoster, também conhecido por zona.

“Geralmente trata-se também de uma situação benigna, com risco de infecções cutâneas semelhantes às da varicela e não existe nenhuma forma eficaz de prevenir esta situação já que geralmente está associada a estados permanentes ou transitórios de imunodepressão”, explica Hugo Rodrigues. Por esta razão é frequente que o herpes zoster se manifeste na velhice. De acordo com o dermatologista Jorge Rozeiras, estima-se que 10 a 20% dos doentes que tiveram varicela venham a desenvolver herpes zoster.

Vale a pena prevenir a varicela?

Embora os pais não gostem de ver as crianças doentes e tenham tendência para afastar os seus filhos do contacto com outras crianças com varicela, impõe-se a pergunta: será que vale a pena prevenir o contágio? “Tenho as minhas dúvidas sobre o interesse de evitar o contágio entre crianças”, defende o pediatra Hugo Rodrigues.

Além de, como vimos, os sintomas serem mais graves e as possíveis complicações mais frequentes na adolescência e idade adulta, na verdade, é bastante difícil evitar o contágio: “as pessoas com varicela começam a eliminar o vírus nas gotículas respiratórias cerca de 2 dias antes de iniciarem as manifestações da doença, pelo que quando surgem as manchas na pele, muito provavelmente já contagiaram outras pessoas.”
Esta prevenção do contágio, pelo contrário, é imperativa para pessoas susceptíveis, nomeadamente grávidas e pessoas com algum tipo de imunodepressão como SIDA, doenças oncológicas ou em quimioterapia)

Vacinação contra varicela: sim ou não?

As recomendações relativas à vacinação contra a varicela  elaboradas pela Sociedade de Infecciologia Pediátrica (SIP) e pela Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP), que seguem as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS) que defende que as vacinas só devem ser utilizadas na criança se estiver assegurada uma cobertura acima dos 85-90% a nível nacional – o que corresponde a uma taxa idêntica à das vacinas constantes no plano nacional de vacinação.

Caso contrário, de acordo com a OMS e o Center for Disease Control and Prevention (CDC) corre-se o risco, por um lado, de haver uma alteração epidemiológica que aumente a população de adolescentes e adultos susceptíveis, o que levaria ao aumento da morbilidade global, por outro, um possível aumento da incidência do herpes zoster.

Na opinião do pediatra Hugo Rodrigues, esta indicações devem ser seguidas pelo que não se deve vacinar por rotina as crianças, pode-se sim “vacinar os adolescentes e adultos susceptíveis, pois isso não altera a chamada ‘imunidade de grupo’. Perante a ausência de uma história de varicela, pode-se fazer a determinação de anticorpos para este vírus nesses indivíduos e, em caso de serem negativos, proceder à sua vacinação.

Quem vacinar?

A Sociedade de Infecciologia Pediátrica (SIP) recomenda que a vacina da varicela seja administrada a adolescentes entre os 11 e os 13 anos e adultos susceptíveis que pertençam aos seguintes grupos de risco:

– Indivíduos não imunes em ocupações de alto risco (trabalhadores de saúde, professores, trabalhadores de creches e infantários);

– Mulheres não imunes antes da gravidez;

– Pais de criança jovem, não imunizados;

– Adultos ou crianças que contactam habitualmente com doentes imunodeprimidos.

FONTE: Sociedade de Infecciologia Pediátrica (SIP)

 

Não é possível saber ao certo os números exatos da doença já que não é de notificação obrigatória. No entanto, de acordo com o Inquérito serológico Nacional de 2001-2002, sabe-se que à data, 77% da população com menos de 9 anos era seropositiva para o vírus, ou seja, já tinha entrado em contrato com a doença e no grupo etário dos 30 aos 44 a percentagem subia para 96,3%.

Resumindo: é muito pouco provável conseguir escapar à varicela e, como já vimos, mais vale tê-la cedo do que tarde na vida.

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