O que são vigoréticos? Viciados no exercício físico

A prática de exercício físico é um bálsamo para o corpo e a mente. Mas quando os treinos são em excesso, é necessário estar atento e tomar cuidado para não deixar que a busca pela boa forma se torne uma obsessão. Saiba do que estamos a falar.

Se frequenta um ginásio, provavelmente conhece alguém assim: obcecado pelo próprio corpo, que se olha com frequência ao espelho, que se pesa a toda a hora, que trocou o convívio social por várias horas de exercícios, que treina sem um objetivo claro e pratica uma dieta rica em proteínas. Se for esse o caso, é muito provável que conheça alguém com vigorexia, uma perturbação séria, embora não muito conhecida.
Também designada por complexo de Adónis, esta perturbação é classificada como um transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), afetando, sobretudo, os homens. Por trás do nome complicado existe uma patologia com características semelhantes às dos transtornos alimentares, como a bulimia ou anorexia nervosa: a preocupação pelo corpo ou a ditadura da balança, uma autoimagem distorcida, baixa autoestima, alterações de dieta, personalidade introvertida e tendência para a automedicação. 

 

Perfil dos vigoréticos

Fernando António Magalhães, psicólogo, explica que este “é principalmente um problema psicológico, pois existe uma distorção na auto-imagem corporal” (transtorno dismórfico corporal). Contudo, ao contrário dos anoréticos que se vêm como obesos, os vigoréticos sentem-se demasiado frágeis e consideram-se magros, por mais exercício que façam e mais musculados que sejam. A preocupação com o aumento da massa muscular torna-se o centro da sua existência, sendo por isso quase compelidos a frequentar o ginásio durante um elevado número de horas e a seguir dietas desequilibradas, ricas em proteínas.

Apesar de obcecadas pela saúde, estas pessoas acabam por agredir o seu corpo na procura da silhueta que desejam e desenvolver hábitos de vida que não são saudáveis. A ansiedade por resultados rápidos leva grande parte destas pessoas a recorrer ao consumo de anabolizantes e outras substâncias que potenciam o aumento da massa muscular.

No entanto, na maioria das vezes, o vigorético não têm noção dos perigos a que está sujeito. Tal como nos explica o psicólogo, “como existe uma distorção na forma de ver e interpretar o próprio corpo, muitas vezes o indivíduo não se apercebe do excesso de preocupação, dos riscos que corre ao treinar demasiado e ao consumir drogas ilegais, nem da diferença entre aquilo que vê e o corpo real”.

O vigorético acaba por se sentir fracassado, negligenciando a família, o emprego e as relações sociais. Para além disso, “não consegue deixar de se preocupar com o tamanho do corpo, procurar constantemente certificar-se de que está com o tamanho adequado e comparar-se com os outros”, alerta Fernando António Magalhães.

Geralmente, a vigorexia é associada ao culturismo e às pessoas que gostam de levantar pesos exageradamente, mas qualquer pessoa pode vir a sofrer deste distúrbio, sendo que, de acordo com o psicólogo, este parece ser mais comum por volta dos 20 anos.

Quando se ultrapassa o saudável

Mas qual o limite para a prática de exercício físico? Como podemos saber se estamos a pisar o risco e a ultrapassar a fronteira do que é considerado saudável? Cláudio Moreira, Personal Trainer do Holmes Place, admite que “é difícil definir um limite para a prática de exercício físico, pois cada individuo é único e reage de forma diferente ao treino, quer ao nível do esforço quer ao nível do descanso”. No entanto, para o Personal Trainer, a melhor forma de verificar se estamos a exagerar passa por compreender se nos encontramos bem fisicamente, sem fadiga acumulada e sem tempo ou capacidade para recuperar entre treinos. Caso contrário, pagaremos o preço na pele com o aparecimento de lesões, cansaço permanente e quebra de rendimento. Para além disso, “é necessário entender as nossas motivações para a prática, ou seja, se o realizamos porque nos sentimos bem ou se o fazemos porque não nos sentimos bem”, acrescenta Cláudio Moreira.

Associadas a esta perturbação, também designada pelos profissionais de educação física de overtraining, manifestam-se várias consequências, nomeadamente insónias, falta de apetite, irritabilidade, cansaço permanente e desinteresse sexual. Mas não se ficam por aqui: “a desproporção displásica (quando corpo e cabeça apresentam diferenças de tamanho que causam estranheza), problemas ósseos e articulares devido ao peso excessivo, falta de agilidade e encurtamento de músculos e tendões são outros dos efeitos do overtraining”, sublinha o Personal Trainer.

Por isso, sempre que um aluno lhe pede um plano de treino para ganhar massa muscular quando já não necessita, Cláudio Moreira apela à compreensão do que é ser saudável e ao bom senso de cada um. “No entanto, as pessoas são livres de almejar as metas que entendem e de fazer o que quiserem com o seu corpo”, salienta.

Os problemas de ordem física são ainda maiores sempre que a obsessão por “melhores resultados” leva ao consumo de anabolizantes. O uso deste tipo de substâncias conduz ao aumento do risco de doenças cardiovasculares, lesões hepáticas, disfunções sexuais e maior propensão para o cancro da próstata.

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