A anorexia nervosa
A anorexia nervosa é um problema grave do comportamento alimentar cada vez mais frequente.
A anorexia nervosa é um problema de saúde que pode ser mortal.
A disponibilidade e a atenção são indispensáveis para instalar um clima de confiança e ajudar o doente a resolver os seus conflitos.
Durante bastante tempo foi tomada como sendo um capricho, porém a anorexia nervosa veio a adquirir o direito de ser mencionada na lista de patologias do século XIX graças a Laségue e a Gull. Os estudos sobre estes doentes, que após alguns meses, em muitos se resumia a uma recuperação do peso, fez com que a gravidade desta patologia não fosse, naquela época tão evidente.
As investigações epidemiológicas vieram a indicar que, na última década, a anorexia nervosa aumentou, passando de 2% para 5% dos adolescentes. Sendo muito mais comum nas raparigas, que são a maior parte dos casos – cerca de 95%, com maior incidência nas idades entre os 14 e os 25 anos.
A anorexia nervosa surge na maioria dos casos como resposta a conflitos, muitas vezes simples e banais, ligados ao período de evolução da personalidade que é a adolescência. Numa segunda fase, esta conduta perde progressivamente a sua ligação com os conflitos que estiveram na sua génese e dá lugar a uma forma quase automática de resposta a todo o tipo de tensões.
Esta doença provoca uma grande perda de peso que é auto-imposta, por disfunção endócrina e uma atitude psicopatológica distorcida face à alimentação, ao seu peso e à sua imagem corporal. A doença ocorre tipicamente pouco depois da puberdade ou, mais tarde, na adolescência.
Infelizmente o diagnóstico ainda continua, em muitas situações, a ser estabelecido em presença de perdas de peso consideráveis. Uma abordagem e diagnóstico precoces destas situações podem evitar as perdas vertiginosas de peso, por vezes mortais, assim como outras complicações da anorexia nervosa (vide caixa).
Consequências da anorexia nervosa:
• desinserção social: 10 a 25%;
• dependência financeira: 30 a 40%;
• problemas sentimentais: 10 a 25%;
• problemas familiares: 40 a 60%;
• depressão, obsessão, compulsão: 15 a 45%;
• tentativas de suicídio: 4%;
• persistência e cronicidade da anorexia nervosa (mais de 5 anos): 20 por cento dos casos e destes:
– episódios de anorexia-bulimia: 20%;
– bulimia com peso normal (com vómitos): 20%;
– forma restritiva pura: 60%;
– morte: 8 por cento após 10 a 15 anos de evolução.
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Dados de diagnóstico da anorexia nervosa.
A severidade da doença pode ser apreciada através do défice ponderal. Existem três critérios que devem ser tidos em consideração:
• A perda total de peso, quer dizer, a diferença entre o peso máximo, geralmente existente antes do início da doença e o peso medido no momento da primeira consulta;
• A velocidade de emagrecimento, quer dizer a perda total de peso relativamente à duração da evolução da doença;
• A severidade do défice ponderal, aprecia-do pelo Índice de Massa Corporal (IMC = peso/estatura2) compreendidos entre 18,5 e 23 para a mulher jovem.
A anorexia nervosa pode ser considerada como moderada se o IMC rondar os 17,5, severa se for inferior a 15 e crítica se a anorexia for acompanhada de um IMC à volta de 12,5. As complicações podem estar ligadas ao desequilíbrio energético prolongado e ao estado de caquexia (estado patológico caracterizado por extrema magreza e mau estado geral) que se segue, mas também a episódios de vómitos repetidos, observados em 1/3 dos casos.
O quase desaparecimento do tecido adiposo, uma atrofia muscular considerável, uma pele seca acompanhada de problemas de microcirculação, acrocianose (coloração azulada da pele), lanugo (penugem) disseminado e uma hipotensão arterial são alguns dos factores que contribuem para a gravidade da doença.
Existem alguns objectivos incontornáveis e intimamente ligados que se devem ter em conta aquando da abordagem e tratamento longo e difícil destas pessoas:
• Obter um peso mínimo aceitável: IMC de 18,5;
• obter aportes energéticos compatíveis com a necessidade de manutenção de peso;
• obter um comportamento alimentar normal “sem medo e sem culpa”;
• abrir portas mentais: direito à palavra, luta contra a angústia e a desvalorização de si, mas também contra o narcisismo e o perfeccionismo.
A fim de conseguir um peso mínimo normal, seria importante obter do doente a concordância no preenchimento de um diário de registo alimentar, para se poder avaliar, o mais rigorosamente possível, qualitativa e quantitativamente a ingestão alimentar quotidiana.
Com bom senso e precaução para não obter resultados contraproducentes, deve recomendar-se a reintrodução progressiva de gorduras e de hidratos de carbono complexos, os dois nutrientes mais frequentemente excluídos na anorexia mental.
Poderá reintroduzir-se o azeite para temperar e cozinhar e também a manteiga em cru já que, praticamente, devem ter desaparecido da refeição. Será de exigir a introdução de farináceos e feculentos (fornecedores de hidratos de carbono), em pequena quantidade, no início, mas atingindo em poucas semanas a meta de 200 a 250 gramas por refeição principal.
Acompanhamento da anorexia nervosa.
O aporte proteico normalmente encontra-se um pouco melhor conservado nas anorécticas. No entanto, pode existir uma autêntica fobia, por exemplo, às carnes vermelhas. Aconselhar modos de preparação mais criativos, em que se possa misturar e disfarçar um pouco a presença da carne, pode ajudar estas adolescentes a ingerir carnes mais vezes por semana.
Durante muitas situações será possível, no decurso do tratamento, abordar a questão do comportamento alimentar, explicando que a alimentação é uma actividade vital mas também um prazer individual e partilhado. Devem promover-se refeições com amigos e familiares, sobretudo com os menos ansiosos com estas situações, com os quais o doente poderá encontrar maior serenidade à volta de refeições simples e partilhadas. Pode existir risco associado com a passagem a comportamentos bulímicos e tentativas de suicídio.
Este é um problema grave do comportamento alimentar que se caracteriza pelo desejo de emagrecer, o medo de comer e de se tornar obeso. A desnutrição que se instala pode tornar-se extremamente severa e conduzir à morte. A abordagem deste tipo de doentes implica muita paciência, mas também firmeza para que não se entre facilmente nos jogos e estratégias perversas muitas vezes comuns a estes pacientes.
Pode ser possível resolver este problema sem hospitalização, mas os clínicos devem conhecer bem os seus limites e planificar, se necessário, uma hospitalização em que seja possível restabelecer um equilíbrio nutricional mínimo. Nestes casos a realimentação não deve nunca fazer esquecer a necessidade de resolver as questões psicológicas subjacentes a esta doença.
Sinais da anorexia nervosa:
O diagnóstico de anorexia é muito importante e repousa sobre alguns critérios essenciais:
• perda de peso acentuada, superior a 15% do peso inicial,
• aparecimento da patologia antes dos 25 anos de idade,
• uma distorção implacável do comportamento alimentar,
• a ausência de qualquer outra patologia orgânica ou psiquiátrica,
• um medo terrível de ganhar peso e de se tornar obeso.
Ainda segundo alguns investigadores é importante juntar aos critérios anteriores, a existência de pelo menos, dois dos seguintes sinais:
• amenorreia;
• lanugo;
• bradicardia (menos de 60 batimentos por minuto);
• hipotermia;
• hiperactividade física;
• vómitos;
• episódios bulímicos* (em cerca de 1/3 dos casos).
Texto de João Breda, Nutricionista
Resta lembrar que a anorexia nervosa é um assunto sério que precisa ser resolvido com cuidado.
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