Alexitimia o que é? Sem palavras para as emoções
A alexitimia afeta muitas pessoas e por vezes sem que elas percebam que sofrem de alexitimia.
À primeira vista parecem insensíveis, demasiado racionais e inflexíveis. Mas por detrás dessa imagem esconde-se a dificuldade em exprimir sentimentos e emoções.
Assim são as pessoas que sofrem de alexitimia, uma espécie de cegueira emocional com a qual é difícil de viver.
Amor, alegria, medo, tristeza… E se não conseguisse expressar o que está a sentir, aquilo que lhe vai na alma e no coração? Provavelmente, estará a pensar que todos já passamos por momentos em que isso aconteceu, mas e se esta incapacidade fosse permanente?
A alexitmia – admitimos que o nome proposto pelo psiquiatra americano E. Sifneos, nos anos 70, é um pouco estranho – é um transtorno de comunicação que nos impede de elaborar mentalmente as emoções, de identificá-las e dar-lhes uma expressão adequada.
Como o próprio termo grego significa (“sem palavras para as emoções“), não se trata da incapacidade de ter ou sentir emoções, mas da dificuldade extrema em perceber o que se sente, dar nome a esses sentimentos e expressá-los verbalmente aos outros.
Sabemos que, por vezes, perceber o que estamos a sentir e traduzi-lo em palavras é uma tarefa bem complicada. Se olharmos para trás, vamos ver que já tivemos alturas difíceis em que passamos por autênticas tempestades emocionais e confessámos nem sequer saber o que estávamos a sentir, mostrando como nos é complicado compreender e pôr em palavras tais experiências. No entanto, há pessoas – designadas alexítimicos – que têm de lidar de forma contínua com esta dificuldade ou até mesmo incapacidade.
Não se pense, porém, que a alexitimia é uma doença, porque não o é. Muitos especialistas consideram-na um sintoma, mas, como o psicólogo Filipe Barbosa nos explica, um dos debates atuais no meio científico passa, exatamente, por perceber “se a alexitimia é uma característica da personalidade (estável e consistente ao longo do tempo) ou um estado temporário (como se fosse um sintoma)”.
Este problema é mais comum do que se possa pensar, embora, o psicólogo, que tem vindo a investigar o tema desde 2004, considere que a sua frequência depende da forma como se classifica o problema. “Se a encararmos como um traço de personalidade, será muito menos frequente (1-3 por cento da população normal); mas como estado – está muito relacionada com acontecimentos de vida –, a sua frequência aumenta significativamente (20-50 por cento)”, esclarece.
Analfabetos emocionais
As pessoas com alexitimia não são tímidas nem avessas a viver em sociedade. Costumam ser descritas como simpáticas, afáveis, sérias, embora, por vezes, um pouco neutras. Ana Sofia Nava, psiquiatra, revela-nos que os alexítimicos “apresentam-se aos olhos dos leigos, como pessoas normais, muito fortes, pois não se emocionam facilmente, parece que não têm problemas e aparentemente lidam bem com as perdas e com o stress“.
Mas por detrás desta imagem de força e estoicidade, esconde-se algo bem mais complexo. A psiquiatra explica-nos que, na verdade, “estas pessoas têm muita dificuldade em elaborar perdas significativas da sua vida, em lidar com o stress e também em empatizar com as emoções e sentimentos dos outros”.
Assim, tal como não são capazes de identificar e lidar com os seus sentimentos, também não conseguem interpretar as emoções dos que os rodeiam, o que lhes impede reagir perante os sentimentos alheios, assim como sentir empatia, ou seja, colocar-se no lugar do outro. E, geralmente, estas dificuldades são bem visíveis para quem é próximo destas pessoas.
Manter relações de proximidade com os alexítimicos é uma tarefa complicada tanto para os próprios como para os que os rodeiam. Na maioria dos casos, é extremamente frustrante tentar aprofundar uma relação com quem tem este transtorno de comunicação, por um lado, porque “são pessoas que falam pouco sobre as emoções, não aprofundam muito o que sentem, nem porque é que o sentem.
Se um alguém intimo lhes pedir para falar sobre isso, ficam muito pelo superficial”, indica Filipe Barbosa; e, por outro, porque não têm consciência dessa dificuldade de comunicação e pensam que nada de errado se passa com elas. Apesar disso, “são pessoas que se inserem bem na sociedade, cumprindo bem as funções sociais. Só em relações mais íntimas é que nos apercebemos do seu sofrimento e das suas dificuldades”, assegura o psicólogo.
Como não têm uma ponte entre os sentimentos e a expressão física e verbal dos mesmos, parece que nada lhes causa grandes emoções. “São aquele tipo de pessoas a quem morre alguém muito querido e vão trabalhar no dia seguinte com se nada fosse”, constata Ana Sofia Nava. Contudo, nestes casos, o problema costuma surgir mais tarde, pois “passados alguns dias desenvolvem uma doença física que aparentemente nada teve a ver com o sucedido”, acrescenta – apenas aparentemente porque, na verdade, a sua manifestação teve tudo a ver.
Emoções dão lugar a sintomas físicos
A incapacidade de identificar e verbalizar aquilo que estão a sentir, assim como distinguir os sentimentos das sensações físicas que os acompanham, faz com que estas pessoas somatizem essas emoções, ou seja, manifestam através de sintomas físicos o que não podem expressar verbalmente.
De acordo com a psiquiatra, a pessoa acometida por alexitimia “pode ocasionalmente sentir cefaleias, tonturas, dores musculares, dores de estômago, ou pode sofrer de úlcera gástrica, hipertensão, chegando mesmo a poder sofrer um enfarte do miocárdio, e uma grande variedade de outras doenças físicas“.
Agora já percebe o que é a alexitimia e certamente compreende quem a sofre!
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