Ambição, a arte de saber sonhar
Temos preguiça de mudar, deixamos de alimentar a ambição. E, assim, todos os dias perdemos um pouco de nós: morremos um pouco cada vez que um sonho fica por alcançar, cada vez que o medo ultrapassa a coragem. Mas, vivemos melhor quando temos consciência que a nossa felicidade só de nós depende. Por isso, é importante aprender como é simples enfrentar mais um dia de sorriso ambicioso na cara.
A maioria de nós – provavelmente todos – deixa que pequenas partes de si morram todos os dias, muitas vezes sem dar conta. Seja por corrermos para o telemóvel mais rápido do que corremos para a felicidade, seja sempre que somos levados pela monotonia e embalados pela inércia, há uma parte de nós que fica para trás.
E vai ficando para trás sem percebermos. Porque desde cedo aprendemos que, sobreviver implica criar rotinas seguras com resultados previsíveis. “Aquilo que conhecemos como seguro é algo que vamos repetir para ter o mesmo resultado. Repetimos comportamentos que, com o passar do tempo, se tornam hábitos”, como explica o psicólogo Pedro Santos.
Mas os hábitos também são uma barreira ao sonho. O especialista refere que a vontade de ambicionar diminui quando o conforto cresce, “com o envelhecimento e à medida que as nossas necessidades básicas vão sendo satisfeitas, na maioria dos casos, existe uma diminuição do impulso para a mudança. Este é o processo habitual. No entanto, quando as pessoas fogem a esta regra são muitas vezes apontadas como exemplo de criatividade e empreendedorismo”.
De facto, viver de acordo com os padrões de grupo, traz só por si um certo de nível de segurança e estabilidade, mas com facilidade nos despersonalizamos e esquecemos de nós. Neste sentido, Pedro Santos alerta o quanto é importante criarmos um tempo de reflexão no dia-a-dia de forma a não entrar numa rotina que nos leva a deixar de ter tempo e vontade para os sonhos e ambições. É importante alimentar a ambição, o desejo de atingir um objetivo específico. Pode ser ter uma casa melhor ou um emprego onde se sinta mais satisfeito, com oportunidade de desenvolver as suas capacidades. A vida é feita de pequenas vitórias.
Porque desistimos de ambicionar?
O medo é uma forma de aviso e prevenção desenvolvido pelas nossas experiências de vida que tem boas razões para existir e que, em muitas situações nos protege. Mas também é ele o responsável por parte da nossa falta de desejo de mudança. O medo de falhar, de saltar fora da zona de conforto, de perder estabilidade e segurança. Pedro Santos exemplifica com um caso prático simples: “imagine uma pessoa que procura mudar de emprego, o medo da mudança poderá fazer com que a pessoa nem sequer veja as ofertas de emprego. Os pensamentos negativos, “nunca vou conseguir!” ou “eu não sou capaz”, devem ser racionalizados e substituídos pela ponderação lógica da realidade da situação”.
Na realidade, isto não é mais do que um exercício de autoconfiança. E a autoconfiança, está intimamente relacionada com o nosso desenvolvimento pessoal, com a forma como integramos a ambição, a motivação e o comportamento. Focar nos factos presentes e não se deixar levar pela instabilidade das emoções, como aconselha o psicólogo. Este é o equilíbrio que podemos encontrar entre o medo e a ambição.
Para muitos, pode fazer sentido agir sobre os sonhos deixados para trás. “Pelos constrangimentos da vida, certas pessoas, sentem que não realizaram ainda o seu potencial. Quer seja pelas aprendizagens que não foram feitas, quer seja pelos locais que não foram visitados ou pelas emoções que ainda não foram sentidas”, explica Pedro Santos. Mas esta insatisfação pode ser um poderoso motor de mudança e de evolução.
Porquê ter ambição?
Por esta altura pode estar a pensar “a minha ambição é conseguir pagar as contas ao fim do mês e fazer a minha família feliz”. Claro que existem obrigações e compromissos a cumprir, mas é importante guardar espaço para a ambicionar um pouco mais, ter espaço para desejos pessoais.
Porque ambicionar é dar uma oportunidade a si mesmo, de desenvolver o seu potencial humano. É fundamental a capacidade de reinterpretação do nosso ser, “perceber que somos diferentes a cada minuto que passa e que não precisamos de ficar presos a uma forma de ser e estar”, explica o psicólogo clínico António Norton no seu texto sobre a ambição.
Com a chegada da idade adulta começamos a mudar: muitas horas de trabalho, cansaço, inúmeras obrigações e tarefas diárias deixam pouco tempo para sonhar mas isso não nos pode fazer abandonar o compromisso para com a nossa própria felicidade.
António Norton aconselha que pergunte a si mesmo se é feliz. Pergunte ao seu íntimo como poderá melhorar tudo aquilo que já tem. E, sem medo, responda. Mesmo que a resposta seja algo que lhe pareça impossível. Ter a coragem de perguntar é tão importante como ter coragem de sonhar. Mas não fique por aqui! Não descarte o sonho por parecer inalcançável, crie pequenos objetivos. Obrigue-se a avançar.
A difícil arte da mudança
Angela Lee Duckworth, professora e psicóloga, explica na sua palestra que a melhor forma de mudar é procurando paixão pelo que se faz. Pode soar a cliché, mas a realidade é que, ao observar durante vários anos várias pessoas em diversos ambientes e estatutos sociais, concluiu que era isto que os mais bem sucedidos tinham em comum: paixão, dedicação, motivação para cumprir objetivos e de planear futuros ambiciosos. A especialista explica que para ter ambição é essencial ser persistente consigo mesmo, estar disposto a falhar e acreditar que esta não é uma condição permanente, mas mais um degrau para chegar aos objetivos.
Neste sentido, o psicólogo Pedro Santos aconselha também a prática da meditação, nas suas variadas vertentes. “Esta vem ao encontro do que muitos de nós sentimos: a necessidade de contrariar a agitação do dia-a-dia”. O psicólogo explica que, “quando meditamos estamos a treinar o foco da nossa mente, quer seja o foco na respiração e função orgânica, ou a observar os nossos pensamentos. Esta capacidade de focar a atenção é um dos antídotos da distração”.
Como conselho final, o psicólogo lembra ainda que “todos nós somos responsáveis pela nossa saúde, física e mental, ter uma alimentação saudável, fazer exercício físico com regularidade, praticar meditação, cultivar relações afetivas e ajudar a comunidade em que estamos inseridos. É a receita com que podemos ser felizes e ter uma vida saudável. Cabe a cada um tomar as suas decisões e seguir o seu próprio caminho”.
É essencial ter coragem e força para olhar para dentro de nós mesmos e identificar as mudanças necessárias e as ambições por cumprir. Depois, fazer delas o combustível para catarses que nos possam melhorar, que nos permitam ver e ter uma vida com mais sensibilidade, poesia e densidade. E ter a coragem de trocar as pequenas rotinas por sobressaltos imprevisíveis mas cheios de cores e risadas.
Atualizado a: