Apneia do sono, quando paramos de respirar ao dormir!
Não se trata apenas de um simples ressonar. As paragens respiratórias durante o sono são uma doença – muitas vezes crónica – que deve ser tratada sob pena de, caso contrário, interferir bastante na qualidade de vida do paciente e poder conduzir a problemas mais graves. Saiba mais sobre causas, consequências e tratamentos da apneia do sono.
Se tem constantemente sono durante o dia ou o(a) seu parceiro(a) refere que ressona muito e a sua respiração por vezes pára enquanto dorme, é provável que sofra de sindroma da apneia obstrutiva do sono (SAOS) e não deve adiar uma ida ao médico.
A apneia do sono está muito associada ao ressonar, uma vez que esse é um dos seus principais sintomas, mas é bastante mais do que isso: o que acontece é que as pessoas param de respirar durante curtos períodos durante o sono – que geralmente duram entre 10 e 30 segundos – podendo nos casos mais graves estes episódios acontecerem centenas de vezes por noite. Além da paragem respiratória, a SAOS também pode manifestar-se pela hipopneia, ou seja, pela redução do fluxo de ar durante o sono.
O paradigma mais comum da SAOS é “um homem gordo, com barriga, um pescoço largo, que ressona e que é sonolento”, refere Teresa Paiva. A neurologista, especialista em sono refere ainda que muitas vezes associado ao problema de excesso de peso e da apneia há também tensão alta, colesterol elevado, ácido úrico alto, diabetes e problemas cardiovasculares.
Mas desengane-se quem pensa que a SAOS é exclusiva do estereótipo do homem com excesso de peso referido acima. Embora seja mais frequente nos homens com excesso de peso e mais de 40 anos, também há apneias nos homens magros, nas mulheres – sejam elas fortes ou magras – e nas crianças. Como relata Teresa Paiva, nas mulheres, muitas vezes está associada e confunde-se com problemas de insónias e, nas crianças, pode provocar hiperactividade.
Problemas associados à apneia do sono:
A apneia do sono pode ser obstrutiva – quando a causa está na obstrução das vias aéreas superiores (nariz ou garganta) – central, quando o problema é haver uma pausa no esforço respiratório do diafragma e dos músculos responsáveis pela respiração, nesse caso as causas são variadas podendo estar associadas a doenças neurológicas ou insuficiências cardíacas. Há ainda muitos casos em que se encontra uma apneia mista, ou seja, uma conjugação de apneia obstrutiva e apneia central.
Associados à apneia não tratada, há vários outros riscos, mas importa destacar dois pela sua incidência e gravidade: acidentes de viação e os problemas cardiovasculares.
Uma vez que a apneia está associada à sonolência diurna excessiva e difícil de controlar, o risco dessa sonolência “atacar” ao volante é elevada. Vários estudos demonstram que a taxa de acidentes de viação entre pacientes com apneia é bastante mais elevada do que nos grupos de controlo de pacientes que não sofrem da sindroma. A possibilidade de vir a sofrer um acidente é tanto maior quanto mais grave a apneia e a sonolência diurna, podendo ser entre duas a sete vezes superior a um condutor que não sofra da sindroma.
O investigador espanhol Ferran Barbé, que se tem dedicado à investigação de vários aspectos das apneias do sono, num dos seus estudos com 60 pacientes com apneia e igual número indivíduos num grupo de controlo, concluiu por exemplo que a percentagem de pacientes com apneia que haviam tido um acidente de viação nos últimos três anos era de 33 por cento, por comparação, nos sujeitos do grupo de controlo o valor é apenas de 18 por cento.
Também em Portugal, um grupo de investigadores do serviço de Pneumologia do Hospital de Santa Maria, publicou um estudo que aponta no mesmo sentido.
Já a relação entre apneia e doença cardiovascular, como explica a Sleep Foundation, aparentemente estabelece-se nos dois sentidos: as pessoas com problemas cardiovasculares, como tensão alta e insuficiência cardíaca têm uma prevalência mais alta de apneia sono e, ao mesmo tempo, a apneia do sono favorece o desenvolvimento de hipertensão arterial, que é um fator de risco para problemas cardíacos.
A explicação deste aumento da tensão arterial é relativamente simples: sempre que há uma apneia, os níveis de oxigénio no corpo caem pelo que o cérebro lança um alerta a para que os vasos sanguíneos para se contraiam para aumentar o fluxo de oxigénio para o coração e o cérebro, porque eles têm prioridade. Resultado: tensão alta que ocorre não só durante a noite, como persiste depois durante o dia.
Que soluções existem para a apneia?
As apneias ligeiras podem beneficiar ou mesmo ficarem resolvidas com algumas medidas de higiene do sono e de vida saudável. No caso de o paciente ter excesso de peso, perder os quilos a mais tem por norma um efeito positivo na melhoria da situação de apneia, da mesma forma, a simples mudança de posição de dormir, dormindo de lado e não de barriga para cima, pode em alguns pacientes ajudar a resolver o problema. Depois, bebidas alcoólicas e medicamentos para dormir ou ansiolíticos, tendem a agravar o problema, pelo que devem ser evitados.
Nos casos em que, pelas suas características ou gravidade, estas medidas não são suficientes, outras medidas de tratamento têm de ser implementadas.
“O tratamento de primeira linha na apneia, actualmente, em todo o mundo, é o CPAP, uma máquina que as pessoas devem usar para dormir”, explica a neurologista Teresa Paiva, acrescentando que os critérios para a sua utilização têm de ter em conta fatores como a gravidade da apneia, a existência ou não de sonolência diurna, a idade e mesmo as características morfométricas (anatómicas).
O CPAP (Continuous Positive Airway Pressure) tem o tamanho de um telefone. Dele sai um tubo de ar, ligado por norma a uma máscara que a pessoa coloca sobre o nariz ou nariz e boca e evita os episódios de apneia através da pressão do ar. Embora não “trate” a doença no sentido de lhe alterar o curso futuro, é muito eficaz a evitar a apneia, melhorando a qualidade de vida do paciente e diminuindo o risco de hipertensão arterial.
Outras opções de tratamento, dependendo, claro está, da causa e gravidade da apneia, são o avanço mandibular – que é feito normalmente pelos dentistas – com um aparelho intra-oral ou a cirurgia, caso a origem do problema seja uma obstrução no nariz ou orofaringe.
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