Como escovar os dentes! Será que sabe escovar os dentes?
Dentes com manchas, cáries dentárias e gengivites, entre outros problemas de saúde oral são muitas vezes preço a pagar por não lavarmos bem os dentes e a boca. E fazer esta higiene correctamente não tem nada de complicado nem de demorado, basta aprender.
A escovagem dentária e o uso de fio dentário tem como função desorganizar a placa bacteriana impedindo dessa forma o seu crescimento e consequentemente prevenir o aparecimento seja de cáries seja de doenças do foro gengival como gengivites e periodontites. São vários os factores capazes de influenciar a capacidade de limpeza dentária nomeadamente:
A ESCOVA DE DENTES
Tipo de escova
É um facto que o critério mais importante no momento da compra de uma escova dentária continua a ser o preço. No entanto a meu ver outros aspectos devem ser tidos em conta no momento de escolher uma escova dentária: a cabeça da escova deve ser pequena, as cerdas devem ser do tipo “macias” (mas se preferir escovas médias pelo menos opte por escovas de cabo flexível de forma a reduzir o impacto abrasivo da escovagem sobre dentes e gengivas) e as pontas das cerdas devem ser arredondadas para não magoarem as gengivas.
Manutenção e longevidade duma escova
As escovas devem ser descontaminadas diariamente dado que nelas ficam retidos muitos microrganismos pressentes na cavidade oral. A utilização de soluções antissépticas à base de cloreto de cetilpiridínio, clorohexidina ou hexitidina são muito úteis neste processo seja como borrifos seja como soluções de emersão. Eu preconizo borrifar a escova após cada utilização e pelo menos 1 vez por semana deixa-la durante 1 noite imergida numa solução antisséptica.
Quanto ao armazenamento, as escovas devem ser guardadas num recipiente (ex. copo), sempre com as cerdas voltadas para cima, sem qualquer capa protetora ou muito menos dentro de estojos porque tal impede a secagem completa das cerdas promovendo um ambiente húmido propício à multiplicação de bactérias.
No que toca à longevidade da escova, mais importante que referir um prazo de validade para uma escova, pois isso depende da forma como cada um usa a escova, do tipo de escova, etc, será referir que uma escova deve ser substituída aos primeiros sinais de deformação.
Sobre as escovas eléctricas
Existem estudos que referem que as escovas eléctricas são mais efectivas na remoção da placa bacteriana que as escovas manuais mas na minha opinião apenas se justifica o seu uso nos indivíduos com pouca destreza manual. Nestes casos a utilização de escovas eléctricas pode ser muito vantajosa na medida que estão programadas para realizarem automaticamente os movimentos desejados, sendo que o paciente que as usa deve apenas imprimir a pressão adequada e posicionar corretamente as cerdas sobre os dentes. Não se pode fazer movimentos manuais com a escova dentária como se fazem com a escova manual.
Grande parte das escovas elétricas modernas já vem com sensor de pressão para evitar uso de demasiada pressão sobre as superfícies dentárias que origina desgaste ou abrasão dentária e consequente enfraquecimento dos dentes, sensibilidade dentária já para não falar do comprometimento estético.
AS PASTAS DENTÍFRICAS
As pastas dentífricas per si tem uma acção muito limitada no que se refere à remoção da placa bacteriana, no entanto, proporcionam um hálito agradável por um curto período de tempo. Mas sobretudo são o veículo seja para o flúor seja para outros compostos como os dessensibilizantes, antimicrobianos caso seja apropriado a sua utilização.
Quanto à polémica dos detergentes associados aos dentífricos nomeadamente o chamado “Lauril sulfato de sódio” convém referir que segundo o National Cancer Institute dos EUA não há quaisquer evidências científicas que o mesmo cause cancro. O risco para um individuo desenvolver cancro está relacionada a diversos factores com destaque para a predisposição genética e exposição a factores de risco.
Quanto à quantidade de pasta a usar em cada escovagem apenas recomendo que seja utilizada a técnica transversal de colocação da pasta de dentes na escova, ao invés da técnica longitudinal mais tradicional.
A LAVAGEM DOS DENTES E BOCA
Técnica de escovagem dentária: 2x2x2
– pelo menos 2X dia (o ideal seria 3x dia o que equivale mais ou menos a 8-8h ou seja após pequeno almoço, almoço e antes de deitar);
– durante 2 minutos,
– não comer nada nas 2 horas que se seguem à escovagem.
Escovar os dentes à noite antes de deitar é muito importante, porque como durante a noite a produção de saliva é reduzidíssima e os nossos dentes ficam mais susceptíveis ao ataque das bactérias.
É de evitar escovar os dentes imediatamente após o consumo de comidas ou bebidas sobretudo ácidas como são os refrigerantes. O ideal é que a escovagem seja feita cerca de 20 minutos após cada refeição para evitar o período de maior acidez bucal reduzindo a possibilidade de erosão/abrasão dentária pela escovagem.
A escovagem dentária deve ser realizada metodicamente, por grupo de dentes, limpando as faces mastigatórias dos dentes, as faces internas (do lado da língua ou céu-da boca) e as faces externas (do lado da bochecha), segundo a técnica que melhor se adapte. Exemplos de técnicas aceitáveis:
Limpeza das faces mastigatórias com movimentos de vai e vem e limpeza das restantes faces com movimentos verticais da gengiva para o dente;
ou
Limpeza das faces mastigatórias com movimentos de vai e vem e limpeza das restantes faces com movimentos circulares;
As faces externas dos dentes devem ser escovadas com os dentes cerrados, pois assim a bochecha relaxada permite alcançar facilmente as zonas mais posteriores dos maxilares.
A higienização dos espaços entre dentes
A higienização dos espaços entre dentes deve ser feita não somente para efetuar a remoção de restos alimentares mas também porque é indispensável para que ocorra desorganização das colónias de bactérias nestas zonas contribuindo para a prevenção de cáries, gengivite, periodontite e halitose. Para tal são usados consoante o caso:
– Fio/fita dentária apenas;
– Fio/fita dentária montado em passa-fio (muito útil em espaços muito apertados e para limpeza de “pontes” (prótese fixa para substituir dente/s em falta)
– Escovilhões dentários de tamanho adequado a cada caso (alguns são reutilizáveis tal como as escovas dentárias)
A técnica de uso de fio/fita dentária orienta a enrolar uma generosa porção de fio entre os dedos indicador e polegar e, com movimentos suaves tipo “serrar”, forçar o ponto de contacto e de seguida movimentar o fio para cima e para baixo encostado a cada uma das faces dos dentes envolvidos. No final deve-se introduzir ligeiramente o fio dentário no sulco gengival sem causar desconforto para não traumatizar a gengiva. A remoção deve ser feita puxando o fio e não forçando-o através do ponto de contacto sobretudo se for portador de coroas de revestimento dentário.
Escovagem da língua
É sabido que aos restos alimentares retidos no dorso da língua se aderem microorganismos e células descamadas formando a chamada “saburra lingual” que pode contribuir seja para a disseminação de bactérias seja para a halitose (mau hálito).
Pelos motivos apresentados a higiene da língua deve ser realizada regularmente após cada refeição com o auxílio da escova dentária ou de “raspadores linguais” apropriados. A limpeza deve ser efectuada sempre de dentro para fora, até porque é o método que causa menos reflexo de vómito. O uso de raspadores linguais, além de mais efectivo, causa também menos vómitos.
A língua deve apresentar uma coloração avermelhada sem a presença de uma camada branca esbranquiçada ou mesmo amarelada.
Bochechos pré escovagem
Trata-se de um assunto controverso. Existem estudos que apoiam esta prática e outros que revelam que os bochechos não proporcionam benefício significativo à saúde gengival. Na minha opinião, o bochecho pré escovagem deve ser feito apenas quando existem razões para tal, nomeadamente, em casos de risco elevado de cárie dentária ou doença gengival devendo-se usar para o efeito colutórios adequados a cada caso.
Bochechos pós-escovagem
Para não se perder o efeito do flúor veículado pela pasta dentífrica, recomenda-se enxaguar brevemente a boca após a escovagem dentária, utilizando pequena quantidade de água.
Particularidades em relação às crianças
– A escovagem dos dentes das crianças deve começar logo que os mesmos erupcionem (entre o 1º e 2º ano de vida). Não é consensual o uso de pastas dentífricas fluoretadas para crianças até aos 2 anos de idade. Na minha opinião em crianças até aos 2 anos de idade deve ser feita a escovagem dos dentes com escova adequada (cabeça pequena e muito macia) sem uso de qualquer pasta dentífrica dado o alto risco de ingestão e consequentemente alto risco de fluorose dentária. Deve ser considerada a ingestão de fluór por outras fontes que não as pastas dentífricas (falar com os pediatras).
– A fluorose dentária é o único efeito adverso conhecido da ingestão de flúor durante o período de mineralização dos dentes. O esmalte dentário afetado por fluorose torna-se mais poroso prejudicando a aparência dos dentes afectados.
– Crianças a partir dos 2 anos de idade, devem escovar os dentes com dentífricos fluoretados específicos para crianças (com flúor solúvel na concentração de 250-1000ppm), pois essa é uma medida comprovadamente eficaz na prevenção e controle da cárie dentária. Nesta altura deverá ser suspensa qualquer outra fonte de ingestão de flúor.
– No entanto com a finalidade de diminuir o risco de desenvolvimento de fluorose dentária por ingestão de continuada de doses elevadas de flúor, deve-se evitar, ou pelo menos reduzir, a ingestão de pasta dentífrica. Para isso, recomenda-se que a escovagem dos dentes das crianças seja sempre supervisionada por um adulto de forma a garantir que seja colocada pequena quantidade de pasta de dentes na escova e que no final seja apenas cuspido o excesso de pasta dentífrica, uma vez que o bochecho com água aumenta o volume liquido na boca, facilitando a respectiva ingestão.
fonte: Coimbra de Carvalho, médico-dentista
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