Dor de cabeça incapacitante, Maldita enxaqueca!

Afeta milhões de pessoas, mas as mulheres são as mais atormentadas por esta dor de cabeça incapacitante. O silêncio e a escuridão apresentam-se como antídotos numa crise de enxaqueca, que pode durar desde algumas horas até vários dias.

Quem sofre deste mal sabe bem do que vamos a falar. Uma intensa dor de cabeça, sob forma latejante, que se concentra sobretudo num dos lados do crânio e é acompanhada de náuseas, vómitos, intolerância à luz e a alguns cheiros. Sentimo-nos irritados, cansados e o mais leve ruído perturba-nos, ao ponto de desejarmos fechar-nos num quarto às escuras, quietos e em total silêncio. É verdade, falamos de enxaqueca, um dos tipos de cefaleias primárias mais comuns, que, segundo dados da Sociedade Portuguesa de Cefaleias, afeta oito a 15 por cento da população dos países ocidentais.

intensa dor de cabeça

Apesar de frequente, esta não é uma dor de cabeça igual às outras. É mais forte, incapacitante e tende a agravar-se com o movimento. Há mesmo quem diga que é como se o coração se tivesse transferido para a cabeça, pulsando de uma forma (quase) insuportável e qualquer esforço ou movimento faz com que a cabeça pareça explodir.

Mas não é só a dor que distingue este tipo de cefaleia. Tal como nos diz Raquel Gil-Gouveia, neurologista responsável pelo Centro de Cefaleias do Hospital da Luz, a sua periodicidade é muito variável, bem como a sua duração. As crises de enxaquecas são recorrentes, surgindo várias vezes por mês ou apenas algumas vezes ao longo da vida, e podem durar apenas algumas horas ou prolongar-se por mais tempo, variando “entre 4 a 72 horas, sem tratamento”, revela. Contudo, todas elas têm um denominador comum: interferem claramente na capacidade das pessoas desempenharem as suas tarefas quotidianas, ao ponto de serem consideradas pela Organização Mundial de Saúde como uma das vinte doenças mais incapacitantes do mundo.

Para algumas pessoas a enxaqueca vai para além dos sintomas comuns. Podem sofrer alterações na visão, vendo luzes cintilantes ou manchas, sentir formigueiro, adormecimento ou perda de força num braço ou perna, e até registar dificuldades ao nível da fala. É assim que se manifesta a chamada aura, um conjunto de sinais neurológicos que precedem ou acompanham a enxaqueca e que ocorrem em apenas cerca de 20 por cento dos doentes.

Com ou sem aura, geralmente a enxaqueca anuncia a sua chegada algumas horas ou até um dia antes de se instalar. “Há pessoas que se sentem estranhas, mais irritadas, cansadas e com o raciocínio mais lento”, adianta a neurologista. Mas há também quem fique invulgarmente enérgico durante essa altura. E quem tenha um desejo específico por determinados alimentos, enquanto outros apenas sabem que se avizinha uma crise de enxaqueca. Esta é a fase premonitória da enxaqueca, da qual nem todas as pessoas têm consciência. Contudo, Raquel Gil-Gouveia explica-nos que “como este é um problema recorrente, que se vai repetindo no tempo, a pessoa aprende a reconhecer o seu padrão de dor” e, desta forma, a identificar a aproximação de uma enxaqueca.

Porquê a sua cabeça?

As razões pelas quais algumas pessoas são mais suscetíveis a este tipo de dor de cabeça continuam, em grande parte, por desvendar. Contudo, a comunidade científica continua à procura de respostas e hoje sabe-se que existem alguns fatores que, embora não sejam a causa da enxaqueca, contribuem para desencadear as crises ou agravá-las. Estes “gatilhos” são muito variados e não têm o mesmo efeito em todas as pessoas. “Por isso, é que é importante perceber quais as situações ou fatores por trás de cada crise”, salienta a neurologista.

De acordo com Raquel Gil-Gouveia, as hormonas femininas – nomeadamente os estrogénios – são um dos principais fatores desencadeantes. “Esta é uma doença mais frequente nas mulheres e é muito típico que as enxaquecas surjam, por exemplo, durante o período da menstruação”, revela.

O cansaço, o stress, problemas emocionais e alterações do sono são outros dos propulsores de uma crise de enxaqueca. Mas nesta balança pesam ainda o consumo de certos alimentos. No topo da lista surge o álcool, apontado como um dos “culpados” mais frequentes. Segue-se “o chocolate, o queijo, os citrinos, alguns aditivos da comida chinesa, entre outros”, indica a responsável pelo Centro de Cefaleias.

As crises de enxaqueca surgem habitualmente entre os 15 e os 40 anos, mas podem aparecer mais cedo, ainda durante a infância. E embora atinjam parte significativa da população, são poucas as pessoas que procuram cuidados médicos.

 

Tratar as dores de cabeça ao primeiro sinal!

Não existe qualquer cura conhecida para a enxaqueca. No entanto, é possível controlar as crises através do tratamento adequado, o qual pretende eliminar a dor e os restantes sintomas durante as crises, bem como diminuir a sua frequência. Tal como Raquel Gil-Gouveia refere, “o que nós queremos é que a pessoa consiga fazer a sua vida apesar da enxaqueca e não tenha limitações por causa disso. Infelizmente, curar ainda não é possível.”
Aliviar a dor é, então, o primeiro passo para quem padece deste mal. E neste caso existem diversos medicamentos que podem ajudar, pelo que deve aconselhar-se junto do seu médico. Por exemplo, nas crises ligeiras, fármacos como o paracetamol e o ácido acetilsalicílico bastam para eliminar a dor, enquanto nas crises mais severas é necessário recorrer a medicamentos específicos anti enxaqueca. O importante é que sejam tomados mal os sintomas despontam, pois “quanto mais cedo a pessoa tomar o medicamento, mais eficaz é”, sublinha a neurologista.

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