Eczema atópico: conhecê-lo para o prevenir a dermatite atópica

Um eczema atópico é mais do que uma questão estética. Embora seja mais frequente entre as crianças, este problema pode surgir na idade adulta. E se a comichão persistente que provoca não for tratada, o incómodo subsiste. Saiba mais sobre o eczema atópico, para o poder debelar.

Para início de conversa, um esclarecimento: falar de dermatite atópica e de eczema atópico é falar do mesmo problema. Seguimos a sugestão da imunoalergologista Cristina Santa Marta e optámos pelo segundo termo. Falemos, então, de eczema atópico.

Esta doença inflamatória crónica, recorrente e não contagiante da pele pode surgir logo nas primeiras semanas de vida do bebé. Durante a adolescência tem tendência a desaparecer mas embora seja mais prevalecente entre crianças, a verdade é que a idade adulta não é um fator de exclusão. “As causas destes fenómenos que constatamos diariamente, não estão clarificadas”, confessa ainda a imunoalergologista, que apesar de tudo nos explica que passam “por uma deficiente coesão entre as células da pele, por alteração de filamentos que promovem essas ligações”.

Eczema atópico

Tratando-se de um problema crónico, o eczema atópico caracteriza-se também por crises de agudização, ou seja, fases em que se manifesta de forma mais visível e o prurido (comichão) se faz sentir.

Este prurido que provoca é o principal sintoma e também o que causará maior incómodo mas o eczema deixa também a zona da pele afetada com um edema (inchaço) e aspecto descamativo. A pele fica ressequida, podendo ganhar crosta. E como o prurido é persistente, até o sono pode vir a ser afetado.

O que o distingue relativamente a outros eczemas é a sua localização que, como nos explica Cristina Santa Marta, “nas idades mais jovens tende a atingir sobretudo a cabeça, face, pescoço e região central do tronco; na criança mais velha passam a ser mais atingidas as dobras dos braços (à frente dos cotovelos), das pernas (atrás dos joelhos), as mãos e os pés”. A imunolalergologista acrescenta ainda que “na adolescência, o mesmo tipo de lesão atinge muito frequentemente a face, sobretudo pálpebras e região peribucal”, ou seja, a zona à volta da boca.

 

Um problema muito incómodo a dermatite atópica!

Em o ABC das Alergias, obra do imunoalergologista Manuel Branco Ferreira, podemos ler que “a prevalência mundial do eczema atópico, avaliada nos estudos ISAAC (International Studies of Asthma and Allergies in Childhood), varia entre 1 e 20 por cento, consoante as diferentes regiões do globo, sendo mais elevada na região norte da Europa”. Em Portugal esses mesmos estudos apontaram para uma prevalência na ordem dos 17 por cento – sem que se verifique diferenças substanciais entre sexos. De salientar ainda que é relativamente comum o número de crianças que, sofrendo de eczema atópico, poderão mais tarde vir a desenvolver outra doença, como asma ou rinite.

Cristina Santa Marta explica-nos que “existem tratamentos muito eficazes no controle do eczema atópico”. Apesar de tudo, “o seu objetivo não é de todo curativo”. O que não quer dizer que a história fique assim. Ora tratando-se de um problema que não tem uma cura, existem ainda assim coisas que podemos fazer.

Em termos de prevenção primária, Cristina Santa Marta adianta que existem “intervenções dietéticas, relativamente a grupos de risco” – sendo que nestes grupos de risco se incluem familiares diretos com historial de eczema atópico ou de alergia alimentar. Nestes casos o que se procura é “no sentido de protelar o seu aparecimento, mais do que reduzir a sua incidência”, conclui a imunoalergologista. A este aspecto convém ainda recordar que determinadas alergias alimentares podem provocar uma fase aguda, ou até agravar o eczema. Ora se o alimento estiver identificado e puder ser evitado, esta simples escolha dietética pode ser essencial.

 

Como tratar no dia-a-dia o eczema atópico!

“O tratamento de eczema atópico é complexo, incluindo um conjunto de medidas não farmacológicas a aplicar diariamente, sem as quais o tratamento farmacológico se torna ineficaz”, diz-nos a imunoalergologista. Que fazer então no nosso dia-a-dia para protelar o problema?

Cristina Santa Marta e o dermatologista Orlando Martins sugerem a este respeito algumas opções muito práticas: preferir roupa 100 por cento algodão (particularmente a que se usa junto à pele); evitar excesso de vestuário para obviar sudação que agravem o eczema; lavar qualquer peça nova de vestuário antes da primeira utilização, para eliminar produtos químicos, potencialmente irritantes para a pele; tomar banho com água não muito quente seguido de secagem suave da pele e, não menos importante, a aplicação imediata de um creme emoliente (ou hidratante, para utilizarmos um termo mais comum).

Para além destes cuidados diários, a imunoalergologista adianta ainda que, “após aplicação do emoliente, sem o qual não será viável controlar um eczema, pode ser necessário recorrer à utilização de um creme anti-inflamatório nas zonas mais afetadas, por períodos limitados no tempo”.

Finalmente, também o tratamento com anti-histamínico pode ser muito útil para diminuir a comichão e subsequente coceira. Pode parecer coisa simples mas este é um fator determinante para se lidar com as fases mais agudas de um eczema, já que o simples coçar agrava o próprio eczema. É, portanto, essencial quebrar este ciclo.

Finalmente, aproveitemos para recuperar dois conselhos dados por Manuel Branco Ferreira, no seu ABC das Alergias: em primeiro lugar, quanto mais precocemente se adotarem medidas terapêuticas, numa fase de agudização do eczema, menos intensa e menos duradoura será essa agudização; em segundo lugar, nunca esquecer que, por mais eficaz que a terapêutica seja, nada substitui a aplicação diária dos cuidados, nomeadamente dos emolientes. A verdade é que ainda que possa ser uma parte maçadora da rotina, este pequeno incómodo é bem menos irritante e desconfortável que um eczema atópico.

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