Exames de rotina: quais e quando fazer?
Um exame de rotina ou exame periódico de saúde é a melhor forma de conseguirmos descobrir o que se passa com o nosso corpo e como está o nosso estado de saúde no geral.
Mas nem todos os exames são recomendados. Saiba no que consiste a observação periódica que veio substituir o check-up anual.
É uma daquelas pessoas que só vai ao médico uma vez por ano e quando entra no consultório pede uma bateria de exames para averiguar o seu estado de saúde (vulgo check-up)? Então, saiba que esta prática caiu em desuso e que esta avaliação anual generalista deixou de ser recomendada pela maioria dos profissionais. Em sua substituição, as sociedades médicas e científicas, como a United States Preventive Services Task Force e o instituto Cochrane, passaram a aconselhar a realização de consultas de rotina com o médico assistente e o exame periódico de saúde (EPS).
Qual a diferença entre as duas avaliações? Ora, ao contrário do check-up anual, que consiste numa avaliação clínica pré-formatada em pessoas saudáveis e assintomáticas (sem qualquer sintoma), o exame periódico de saúde é uma espécie de check-up personalizado e não tem propriamente uma regularidade recomendada.
Miguel Melo, especialista em medicina geral e familiar, explica-nos que “no passado eram efetuados ‘exames de rotina’ ou ‘check-ups’ de uma forma generalizada e padronizada. A teoria que suportava esta atitude era de que ‘mais vale prevenir que remediar’, o que fazia sentido dado os conhecimentos teóricos existentes”.
Mas nos últimos anos tem-se vindo a constatar que esta abordagem de medicina preventiva padronizada e agressiva não é tão útil como se pensa. Hoje sabe-se que “este tipo de check-ups indiscriminados não trazem grandes benefícios, podendo mesmo gerar danos para a saúde das pessoas [através de exames invasivos e tratamentos de baixa ou nula utilidade]”, afirma o médico de família.
Mónica Granja, também médica de medicina geral e familiar, partilha da mesma opinião e diz-nos que “a razão desta conclusão deve-se simplesmente ao facto de os check-ups não terem qualquer impacto na mortalidade, no número de internamentos hospitalares nem de consultas urgentes, nem no absentismo laboral”.
Para além disso, como os nossos entrevistados realçam, nem todas as pessoas beneficiam dos mesmos cuidados médicos. Qualquer intervenção médica pode potencialmente causar danos e a bateria de exames e análises que compõe o check-up anual não é exceção: “neste caso, poderão passar por falsos positivos (falso alarme), excessos de diagnóstico, excessos de tratamento, efeitos psicossociais negativos, manutenção dos comportamentos de risco devido a resultados negativos, entre outros”, sublinha Miguel Melo.
Por isso, nos últimos anos, a comunidade médica tem vindo a considerar que os check-ups anuais de rotina, realizados em adultos saudáveis, devem ser abandonados em prol de uma estratégia mais seletiva para prevenir e detetar problemas de saúde. Esta deve passar pela adoção de “medidas preventivas, periódicas, a serem utilizadas ao longo da vida e de uma forma contínua (EPS)”, afirma o médico de família.
Exames específicos, não gerais
Se ainda não conhece o seu médico de família, trate de conhecê-lo, pois as consultas regulares, também designadas de rotina, podem ser bastante úteis. Mónica Granja diz-nos que “não existe uma periodicidade pré-definida ou que seja igual para todas as pessoas para uma consulta “de rotina”, esta deve ser definida caso a caso”. E o mesmo se passa com os exames a realizar.
É durante a consulta de rotina que o médico assistente “irá definir consigo a necessidade de realização de alguma intervenção preventiva ou diagnostica e o intervalo aconselhado até à próxima consulta”, esclarece a médica de família. Mas para isso terá de ter em conta alguns critérios, nomeadamente o seu género, idade, estado de saúde atual, antecedentes clínicos pessoais e familiares, eventuais sintomas que possa ter e, claro, hábitos e estilo de vida.
No entanto, apesar de não haver uma data específica para esta vigilância médica, existem orientações nesse sentido. Miguel Melo explica-nos que “num individuo com doença crónica (como a diabetes, hipertensão, etc.) o controle médico regular é importante para a gestão da doença e a sua periodicidade e abordagem deverá ser feita de acordo com as recomendações dos médicos”. Já num adulto saudável a periodicidade deste exame varia consoante a idade e o género.
Como ambos os médicos sublinham, os exames periódicos têm ganhos para a saúde se não forem aplicados de forma indiscriminada e sem serem realmente necessários para a pessoa em questão. Mas, “mais importante do que ir ao médico efetuar o seu exame periódico de saúde é a aquisição de estilos de vida saudáveis, esta sim com um grande potencial de ganhos em saúde”, assegura Miguel Melo.
De acordo com o médico, evitar o sedentarismo, a obesidade, o consumo de substâncias tóxicas (como tabaco, drogas), fazer uma alimentação saudável, proteger-se contra as DST (doenças sexualmente transmissíveis), cumprir a vacinação do PNV (Plano Nacional de Vacinação) são cuidados essenciais a seguir por todos nós.
Quando e com que periodicidade fazer os exames?
Na maioria das vezes, as consultas periódicas não terminam com a prescrição de uma lista interminável de exames, ainda mais se a pessoa não apresenta qualquer problema de saúde. Por isso, não fique admirado se o seu médico não lhe pedir para fazer uma ecografia à tiróide como aconteceu com a sua irmã ou uma ecografia prostática como o seu amigo teve de fazer.
Para um indivíduo aparentemente saudável e sem queixas, é recomendada a medição do peso e da altura, calculado o índice de massa corporal (IMC) e feita a avaliação dos seus hábitos alcoólicos, tabágicos e de atividade física. É também aconselhada a medição da tensão arterial de dois em dois anos, no entanto, a medição do colesterol no sangue – tão popular entre os portugueses – é uma medida polémica, não havendo recomendações consensuais a esse respeito. Apesar disso, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) recomenda a medição do perfil lipídico (colesterol total, HDL, triglicéridos) a partir dos 40 anos para os homens ou dos 50 anos para as mulheres (mais cedo em caso de obesidade, hipertensão, tabagismo, risco familiar, contraceção oral).
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