Falta de ferro, a importância do ferro para a nossa saúde e evitar anemia

Um dia, chegamos a casa, vindos de mais um extenuante dia de trabalho. Em vez da calma do lar, um cenário que nos devia fazer sentir prontos a desempenhar outras tarefas – arrumar a casa, brincar com os filhos, ver um filme, ler um livro, dar um último passeio nos dias mais longos de Verão –, sentimos que estamos prontos a rumar, depressa, para o vale dos lençóis.

À partida, nada de estranho. Estamos cansados, queremos dormir, mesmo que seja muito cedo. Ao segundo dia, a cena repete-se. Chegamos a casa e queremos ir dormir imediatamente. Forçamo-nos a desempenhar tarefas, mas falta o ânimo. E assim por diante, ao segundo, terceiro e quarto dias. Com agravantes: no trabalho já não somos o que éramos.

Falta de ferro

Pensamos então em ir ao médico, muito tempo depois. Veredicto: anemia. Como? Só isso? Este “só” tem de sair do nosso vocabulário. A anemia “é um problema de saúde pública, que afecta de alguma maneira, em todo o planeta, uma em quatro pessoas”, alerta António Robalo Nunes, presidente do Anemia Working Group Portugal, um grupo multidisciplinar que tem por objectivo o estudo desta doença silenciosa. Os sintomas podem parecer invisíveis ao início, podemos relativizá-los durante algum tempo. Mas quanto mais se espera para ir ao médico, pior. “Há sempre uma justificação para o cansaço, mas é preciso valorizar os sintomas”, acrescenta Robalo Nunes.

A anemia provoca uma dificuldade de transporte de oxigénio no nosso corpo. Dito assim, dá-se uma medida mais justa da gravidade da doença. A produção de glóbulos vermelhos no sangue decresce em quantidade e em qualidade, deixando-nos débeis, pouco resistentes e até expostos a outras doenças. Mas é facilmente detectável num hemograma, uma simples análise ao sangue: os indicadores principais, os valores da hemoglobina, são os primeiros a aparecer no teste.

A partir de então, os médicos podem constatar que estão perante um dos sinais da forma mais vulgar e generalizada da doença, a falta de ferro, cuja assimilação vem com uma alimentação correcta. Estando o mal feito, resta o tratamento, que consiste em compensar essa falta de ferro. Mas é preciso que o caminho seja desde logo bem traçado: “É preciso tratar a causa da anemia”, explica Robalo Nunes.
E é preciso algo mais: desfazer alguns mitos. A doença não é exclusiva das grávidas, como é muito defendido pelo senso comum. As gestantes encontram-se no grupo de pessoas vulneráveis, pela quantidade extra de ferro que o seu organismo precisa de absorver diariamente, mas também as mulheres em geral, logo que entram em idade fértil e têm hemorragias devido aos ciclos menstruais.

Não se pense, porém, que todas são anémicas assim que são confrontadas com esta condição feminina básica. Em situações de perdas menstruais em quantidades anómalas, há de facto risco de anemia. Mas os homens não escapam ao universo da doença, que não discrimina géneros em situações de carência alimentar. Este argumento revela-se assustador, tendo em conta os milhões de pessoas que ainda passam fome sistémica no mundo inteiro. E o chamado 1.º Mundo, a Europa desenvolvida e auto-suficiente, começa a não estar imune: “A situação da crise financeira vai com certeza revelar grandes carências alimentares” e traduzir-se em novos e mais agudos casos de anemia.

A alimentação é fundamental. E em equilíbrio – a carne e o peixe devem ser consumidos, pelo maior teor de ferro que contêm. Mas devem ser equilibrados com vegetais, que acrescentam este elemento químico em doses sustentáveis. Aqui entra outro “grupo de risco”, os vegetarianos puros. Acrescentem-se as alterações súbitas de crescimento, de variação hormonal e metabólica dos adolescentes e o quadro das pessoas expostas fica composto. Os valores a fixar são diferentes para elas e para eles, mas apenas ligeiramente: os valores de hemoglobina nas análises devem aparecer, idealmente, em valores de 12 g/dl na mulher e de 13 g/dl no homem adulto.

Mas é preciso não esquecer outro grupo, os idosos. Neste caso, a origem é desconhecida, mas entre os suspeitos das causas estão regimes alimentares de chazinho e torradas, por exemplo, com a consequente baixa de ferro no organismo. O envolvimento de várias especialidades médicas é essencial também neste caso – uma anemia somada a um problema cardíaco, por exemplo, tende a ser menosprezada, mas deve ser seguida também. E tratada.

Testemunho

Sair da fraqueza

Vera não percebia os cansaços estranhos que sentia ao longo do dia. Com o sono regulado, o trabalho a horas, o quotidiano relativamente sem sobressaltos, chegava “a dar dois passos e a parar, sem conseguir respirar”. Juntava a esta estranheza uma “palidez pouco saudável”, e tudo isto se reflectiu no desempenho no trabalho e no ânimo para os afazeres diários. “Quando chegava a casa, só pensava em ir deitar-me”, ainda antes de serem horas de jantar.
Hoje sente-se outra. Vera Braz, que anda na casa dos 30, achou estranho estar assim e procurou o médico, que observou o caso e, perante a situação de anemia grave de Vera, chegou a ponderar a necessidade de uma transfusão de sangue, recorda a paciente.
Felizmente, não chegou a ser necessário. De qualquer modo, recorda-se, “foram necessárias administrações intravenosas de ferro, e tive de fazer várias”. A causa eram perdas menstruais descontroladas. Entretanto, nunca deixou de trabalhar, apesar da adversidade do seu estado físico. Além de todo o mal-estar que representa para os doentes, recorda Robalo Nunes, a anemia é um factor de “quebra de produtividade e de absentismo” no trabalho.
Feito o tratamento, tudo mudou. “Melhorei bastante, até a moral mudou para melhor”, recorda-se a paciente.

 

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