Grávidas adolescentes – Consequências da gravidez na adolescência!
No nosso país, as taxas de gravidez na adolescência têm vindo a diminuir mas, mesmo assim continuam altas.
De acordo com dados da ONU, durante o ano de 2009 mais de 4000 adolescentes foram mães. E 63 destas adolescentes tinham entre 12 e 14 anos. Que implicações tem a maternidade precoce na vida de uma jovem e como prevenir este fenómeno?
As consequências são pesadas, mas já lá iremos, porque primeiro impõe-se falar sobre as causas e a prevenção. Há informação, há anticoncetivos disponíveis, há consultas de planeamento familiar. Por que ficam então tantas adolescentes grávidas?
Informação e comportamentos são coisas muito diferentes. Como explica Helena Fonseca, pediatra especialista em Medicina da Adolescência, saber que se pode engravidar se não se utilizar o preservativo ou outra contraceção, não quer dizer que depois se concretize, ou seja, que no dia-a-dia se façam as opções corretas que vão ao encontro dos conhecimentos que se tem. E o problema são estas opções de vida no dia-a-dia.
E se até para um adulto por vezes é complicado praticar o que se sabe em teoria, para um adolescente mais ainda. “Até aos 25 anos o córtex pré-frontal – a parte do cérebro que nos permite uma consciência dos nossos atos a médio e longo prazo – não está completamente amadurecida ainda “, explica a especialista. Resumindo, espante-se ou não, mas há uma forte base neurobiológica para a famosa inconsciência dos adolescentes.
É essencial investir na prevenção e, como já vimos, a transmissão de informação embora seja essencial não é suficiente. Qual a resposta, então?
Importa uma vez mais distinguir dois conceitos: é que informar e comunicar são coisas diferentes, e a segunda é largamente mais eficaz que a primeira. De acordo com a psicóloga clínica Sofia Nunes da Silva mais do que a simples transmissão de informação sobre os meios anticonceptivos, a melhor forma de prevenção destas e outras situações que envolvem adolescentes é através de uma comunicação verdadeira.
Importa que os jovens sintam que lhes é permitida uma participação efectiva, bem como manifestar as suas opiniões e dúvidas num espaço onde se sintam compreendidos. De acordo com a psicóloga clínica a “família e a escola têm aqui um papel fundamental onde a discussão sobre este tema pode ser mais alargada abordando temáticas sobre as relações afectivas e a importância da vivência da fase da adolescência para uma conjugalidade e parentalidade plenas e responsáveis.”
Impõe-se que se questione que preparação tem uma jovem de 14 ou 15 anos para ser mãe. As generalizações são uma coisa, os casos concretos outra e, como explica Sofia Nunes da Silva, uma maior ou menor preparação além da maturidade psicológica está relacionada com a “estabilidade emocional, o nível socioeconómico, o apoio da família de origem, o estilo de relação que mantém com o pai do bebé e as características do próprio bebé” enquanto aspectos fundamentais para avaliar a preparação de uma jovem face a esta circunstância.
Lidar com as consequências de ser Grávida adolescente
De acordo com Helena Fonseca, o impacto físico negativo de uma gravidez é mais notório abaixo dos 15 anos, mas o principal impacto, independentemente da idade da adolescente, é o psico-social.
“Há um processo de crescimento que fica como que amputado, uma adolescente que tenha um filho nunca mais é a mesma: vai ter dificuldade em prosseguir estudos, na vida de relação com os pares, nas novas responsabilidades e, de algum modo, vai criar mais dependência face à família caso precise da ajuda dela – que normalmente precisa. Há um sem número de consequências que vão tornar esta adolescência menos saudável”, conclui a pediatra.
Também Sofia Nunes da Silva frisa que não podemos esquecer que uma gravidez nesta fase da vida vai sempre desviar a jovem do seu percurso “normal” de desenvolvimento e obrigá-la a uma profunda alteração das tarefas próprias desta fase para assumir outras, o que exige uma forte capacidade de adaptação às novas condições.
De forma a minimizar possíveis consequências negativas, a psicóloga clínica defende que “estas adolescentes deverão ser acompanhadas do ponto de vista médico em consultas pré e pós natais, de planeamento familiar, e de ginecologia onde poderão ser preparadas para as alterações que o seu corpo irá ter ao longo da gravidez, pois como sabemos as questões da imagem corporal assumem nesta fase uma grande relevância.”
Por outro lado, também as consultas de saúde mental podem ter um papel importante, ajudando a jovem a planear e reorganizar a nova vida, apoiando-a no sentido de desempenhar o melhor possível o novo papel que terá que assumir.
A psicoterapia é sempre um trabalho individualizado, mas de acordo com Sofia Nunes de Oliveira, o trabalho por norma começa por fazer um “mapa deste acontecimento” do ponto de vista do contexto e das expectativas. “O sentimento que temos na maioria destes casos é a dificuldade que as jovens sentem em abdicar do papel de filha para passar a assumir o papel de mãe”, revela a psicóloga clínica Unidade de Psiquiatria da Infância e da Adolescência do Departamento de Pediatria do Hospital de Santa Maria.
No entanto, como refere a psicóloga, o melhor apoio que as adolescentes poderão ter e que nada pode substituir é o das suas próprias famílias, que terão a difícil tarefa de conseguir um equilíbrio entre o apoio emocional, o apoio financeiro e cuidados ao bebé.
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