Herpes Zóster: quando um vírus “redesperta”
Um vírus, duas doenças. Depois de lhe provocar varicela, o vírus varicela-zóster pode ficar adormecido dentro do seu corpo para mais tarde voltar a atacar, provocando-lhe desta vez um episódio de herpes-zóster. Saiba tudo sobre esta doença.
Em alguns meios rurais, os mais antigos chamam-lhe “cobrão” e acreditam que acontece pelo facto de a roupa, ao secar, ter estado em contacto com algum bicho, como uma osga ou cobra, cujo veneno provoca a doença. Como calcula, esta convicção não podia estar mais longe da verdade.
Na verdade, a zona ou herpes-zóster é provocado pelo mesmo vírus que causa a varicela, o varicela-zóster, e provoca lesões dolorosas na pele, caracterizadas por borbulhas com líquido (vesículas). Depois de ter varicela, por vezes, o organismo não elimina todos os vírus, ficando alguns alojados e adormecidos nas estruturas nervosas. Assim, mais tarde podem reativar-se, sendo isto mais frequente em doentes de idade avançada ou imunodeprimidos, ou seja, com o sistema imunitário debilitado.
“O vírus fica acantonado numa das raízes ganglionares da medula ou dos nervos cranianos e, por razões habitualmente desconhecidas, volta a replicar-se e a causar uma infecção mais moderada, habitualmente ao longo do nervo periférico respectivo”, explica o Jorge Rozeira, dermatologista e diretor da clínica Dermoconsulting.
“O vírus fica acantonado numa das raízes ganglionares da medula ou dos nervos cranianos e, por razões habitualmente desconhecidas, volta a replicar-se e a causar uma infecção mais moderada, habitualmente ao longo do nervo periférico respectivo”, explica o Jorge Rozeira, dermatologista e diretor da clínica Dermoconsulting.
Ou seja, ao passo que a varicela afeta todo o corpo, as lesões da zona por norma só afetam a área da pele que corresponde ao território de um nervo sensorial afetado – por exemplo uma faixa de pele ao longo das costelas, do braço ou perna – e só afetam um dos lados do corpo, com as lesões a pararem mesmo na linha média do corpo, de acordo com a Consulte o Dermatologista, uma iniciativa informativa da Sociedade Portuguesa de Dermatologia.
Os sintomas também tendem a ser mais extensos, como explica Jorge Rozeira, mesmo antes do aparecimento das lesões de pele, os doentes referem uma dor tipo queimadura ao longo do nervo atingido. Este sintoma, muito frequente, pode ser acompanhado de outros como dor de cabeça, dor abdominal, sensação de mal-estar generalizado e febre, entre outros.
Um episódio de zona deve ser sempre vigiado por um médico tanto para controlar o mal-estar como as complicações possíveis. De acordo com Jorge Rozeira, pode haver uma infeção bacteriana secundária da pele e, se for atingido o nervo trigémeo (nervo craniano assim chamado porque tem três ramos: o mandibular, o oftálmico e o nervo maxilar) podem ocorrer complicações oculares, sendo a mais frequente a úlcera córnea, mas que podem mesmo originar cegueira. Nestas situações, o doente deve também ser observado por um oftalmologista de forma a serem despistadas alterações no nervo oftálmico e a evitar complicações oculares graves. Dada a localização do nervo, de acordo com o Medline, outros sintomas podem ser sentidos como problemas de audição, de sentido de gosto, mobilidade ocular.
As lesões e a dor duram “habitualmente algumas semanas” e existe por norma uma boa resposta ao tratamento, afirma Jorge Rozeira.
As lesões e a dor duram “habitualmente algumas semanas” e existe por norma uma boa resposta ao tratamento, afirma Jorge Rozeira.
Quando a dor se prolonga por mais de quatro semanas, podemos estar perante uma das complicações tardias da doença: a nevralgia pós- herpética que pode durar meses, anos ou tornar-se crónica, mas é controlável com medicação. De acordo com o dermatologista acontece particularmente nos doentes mais velhos, maiores de 50 anos, e trata-se de uma dor recorrente, de tipo nevrítico que deve ser controlada logo na fase inicial.
Apesar da comichão nas lesões poder ser forte, o doente deve evitar coçar-se não só porque isso pode dar origem a cicatrizes, como porque favorece a infeção das lesões. Para evitar o risco de infeção a higiene deve ser cuidada, lavando a zona afetada com água e sabonete neutro ou outro produto aconselhado pelo dermatologista e secando imediatamente com cuidado.
Resta dizer que estamos a falar de uma doença frequente, já que 10 a 20% das pessoas terá zona em alguma fase da vida, a boa notícia é que na maior parte dos casos, tal como a varicela, só se tem uma vez na vida!
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