O que é a Diabetes: Números e Conceitos
Somos cada vez mais e temos cada vez mais cedo diabetes. Os dados do Observatório Nacional da Diabetes de 2011 revelam números perturbadores, 991 mil pessoas em Portugal têm diabetes, mais de 12% da população portuguesa. Pior: destas 991 mil pessoas, 44% não estão ainda diagnosticadas. Perceber a doença é essencial para todos os que a têm e para os que a querem prevenir.
Todos sabemos que a diabetes é uma doença provocada pelo excesso de açúcar no sangue, mas será que sabemos porque é que o açúcar no sangue aumenta?
Começando pelo princípio: ingerimos alimentos que, depois de digeridos, nos vão fornecer açúcar, cujo principal constituinte é a glicose, a principal fonte de energia do nosso organismo. Acontece que, para se transformar numa fonte de energia, a glicose precisa da ajuda do pâncreas: é ele que produz a insulina, a hormona essencial para que a glicose entre nas células. Se não há insulina, a glicose não penetra nas células e fica acumulada no sangue… E cá está a razão pela qual os níveis sanguíneos de açúcar aumentam.
Assim, a pergunta mais pertinente deixa de ser “Porque é que o açúcar aumenta?” para passar a ser “Porque é que o pâncreas deixa de produzir a insulina necessária?” E aqui a resposta não é só uma impondo-se por isso a distinção entre diabetes tipo 1 e tipo 2.
Uma doença, vários tipos!
A diabetes mais comum, que corresponde a cerca de 90% dos casos, é do tipo 2, muitas vezes conhecida como não insulinodependente. Apesar de ter por base uma tendência genética pré-existente, está sobretudo associada à obesidade e ao estilo de vida sedentário, pelo que, frequentemente, só se manifesta após os 40 anos. Nestes casos, o pâncreas produz insulina, mas ou esta não é em quantidade suficiente ou o organismo não a consegue utilizar eficazmente. A vida pouco saudável , e sobretudo o excesso de peso, fazem com que o organismo se torne resistente à ação da insulina, obrigando a uma maior produção, até que a insulina produzida deixa de ser suficiente, surgindo a diabetes.
Um dos grandes perigos deste tipo de diabetes é o facto de poder ser assintomática durante largos anos. Por vezes, o diagnóstico chega apenas na altura em que as complicações dos valores de glicemia descontrolados começam a manifestar-se, pelo que fazer análises regularmente é a única forma eficaz de rastreio.
Já a diabetes tipo 1 é causada pela destruição das células produtoras de insulina do pâncreas, por norma, devido a uma reação autoimune. Assim, o pâncreas não produz insulina, ou produz uma quantidade insuficiente para as necessidades do organismo, o que faz com que os portadores da doença sejam insulinodependentes. Como não está associada ao estilo de vida, apesar de poder surgir em qualquer idade, é mais comum na infância ou adolescência, tendo um aparecimento repentino e sintomas bastante evidentes
Quando o aumento dos níveis de açúcar ocorre durante a gravidez, passa a designar-se como diabetes gestacional e, além das mudanças no estilo de vida, a grávida pode ou não precisar de insulina para controlar a doença. Durante a gravidez a diabetes surge porque se dá uma disfunção metabólica relacionada com a produção de hormonas da placenta. Estas hormonas podem bloquear a ação da insulina e, apesar de o pâncreas reagir produzindo mais insulina, ainda assim, “não dá conta do recado”, daí que o risco de desenvolver diabetes gestacional seja mais elevado à medida que a gestação progride e a placenta cresce. Tal como na diabetes tipo 2, o aumento excessivo de peso é um factor de risco. A prevalência da diabetes gestacional tem vindo a aumentar nos últimos anos e, em 2010, afetou 4,4 % das parturientes que usaram o Serviço Nacional de Saúde.
Existem outros tipos de diabetes menos frequentes, como o tipo MODY (Maturity-Onset Diabetes of the Young) que afeta adultos jovens, adolescentes e crianças. Este tipo, muito raro, tem as características da diabetes tipo 2, mas a sua causa é uma mutação genética que leva à uma alteração da tolerância à glicose.
Por fim, não é possível falar dos vários tipos de diabetes sem abordar também a hiperglicemia intermédia, conhecida como pré-diabetes. Esta condição, que se estima que afete 26% dos adultos em Portugal, caracteriza-se porníveis de glicose no sangue superiores ao normal, não sendo, contudo, suficientemente elevados para se ser considerado diabético. Porém, atenção: valores dentro deste intervalo são um fator de risco tanto vascular como de diabetes.
Taxas e percentagens… e recomendações sobre Diabetes!
A nível mundial estima-se que existam 366 milhões de pessoas com diabetes e, ao ritmo atual, as estimativas apontam para que em 2030 sejam mais de 438 milhões.
Em Portugal, o número de novos casos tem vindo a registar um aumento muito significativo na última década: em 2000 registaram-se 377 novos casos por cada cem mil indivíduos e, em 2010, 623 novos casos pelos mesmos cada cem mil indivíduos. O que quer dizer que, numa década, o número de casos quase duplicou. Como já vimos, os grandes “responsáveis” por estes valores são a obesidade, a inatividade física e os erros alimentares frequentes, ou seja, nós próprios.
Os valores apontam também para uma diferença significativa entre homens e mulheres. Com os dados de 2010 a registarem uma taxa de 14,7 % nos homens e 10,2% nas mulheres, uma diferença de 4,5 pontos percentuais. Esta disparidade, de acordo com estudo recente realizado na Escócia, pode ser explicada pelo facto de os homens serem biologicamente mais suscetíveis à doença. A equipa de investigadores, que estudou um grupo de 51.920 homens e 43.137 mulheres com diabetes, concluiu que os homens que desenvolveram a doença tinham um menor Índice de Massa Corporal (IMC) do que as mulheres. Ou seja, por comparação, precisaram de ganhar menos peso para desenvolver a condição.
Outra diferença bem marcada é ao nível da relação inversamente proporcional entre a diabetes e o nível educacional: entre a população portuguesa a prevalência da diabetes é de 30% entre na população analfabeta e 6,5 % entre indivíduos que concluíram o Ensino Superior, o que sugere que os hábitos de vida e comportamentos dos indivíduos com mais instrução são mais saudáveis.
Por fim, lembre-se: apesar de ser uma doença crónica cada vez mais frequente e com risco de complicações associadas, nem tudo são más notícias, e a boa é que além de ser possível controlar a diabetes, essa tarefa depende, sobretudo, de si próprio.
O fundador da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal, Ernesto Roma, dizia que na diabetes, o papel do médico, era na verdade mais o de um educador. O seu objetivo não é “tratar” as pessoas, mas antes ensiná-las a cuidarem de si próprias. Isto porque a informação, o conhecimento sobre a doença e o autoconhecimento são os fatores-chave para ter tudo sob controlo!
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