O que muda na menopausa? Quais as alterações que o corpo sofre?
A chegada da menopausa não é fácil para a maioria das mulheres. A ideia de que estão a envelhecer afeta-as, geralmente, tanto do ponto de vista psicológico, como físico. Descubra o que se transforma no universo feminino e como adaptar-se a esta transformação.
Há quem diga que é uma nova fase na vida das mulheres. Mas, ainda que este seja um processo previsto e inevitável, a menopausa é também um dos momentos mais delicados pelo qual o sexo feminino tem de passar.
Quando se fala nela a primeira coisa que, geralmente, nos vem à cabeça é: mudanças, mudanças e mais mudanças. E algumas delas podem ser difíceis de lidar. Mas, afinal, do que estamos a falar?
A menopausa corresponde ao fim da menstruação da mulher e ao conjunto de alterações que daí decorrem, nomeadamente a perda da capacidade de reprodução. Surge normalmente por volta dos 50 anos, quando os ovários deixam de produzir estrogénios e progesterona – as hormonas femininas -, fazendo acompanhar-se de sintomas que tiram do sério a maioria das mulheres. Em alguns casos esta fase da vida pode manifestar-se mais cedo, por volta dos 40 anos, considerando-se prematura quando acontece antes desta idade.
Mas este é um fenómeno que se dá de forma progressiva, havendo um período que a antecede e que é designado de pré-menopausa ou perimenopausa. Este estádio é caracterizado pela irregularidade do ciclo e fluxo menstrual – primeiro sinal da diminuição de atividade e disfunção dos ovários -, podendo durar alguns anos.
Na verdade, o diagnóstico definitivo da menopausa só poderá ser feito um ano após a última menstruação, pois durante a perimenopausa a mulher pode estar até cerca de quatro meses sem menstruação e depois voltar a ter. A esta etapa da vida biológica da mulher, que marca a transição entre o período reprodutivo e o não reprodutivo, chama-se climatério.
Não ignore os sinais da menopausa!
Cada mulher vive a menopausa de uma forma diferente. Enquanto algumas atravessam esta fase de mudança praticamente sem sintomas, outras vivenciam-na de uma forma muito conturbada. E isso deve-se, em parte, à biologia de cada uma e ao estado físico e psíquico com que chegam a esta etapa.
Com o anunciar da menopausa chegam as manifestações características deste período, muitas vezes desconfortáveis. Os tão odiados afrontamentos são uma delas. Quem nunca ouviu falar naquela sensação repentina e ardente ou nas vagas de calor que se estendem da cintura até ao rosto, onde se sente um rubor intenso? Com este aumento da temperatura surgem também os suores – sendo mais frequentes à noite -, calafrios e uma sensação de fraqueza e até desmaio.
A frequência e a duração dos afrontamentos variam de mulher para mulher. Por exemplo, há quem sinta um afrontamento por semana, há quem experimente vários afrontamentos no mesmo dia e há, também – embora num número mais reduzido -, quem nunca passe por eles. Apesar de este ser um sintoma que possa prolongar-se durante alguns anos, com o passar do tempo vai sendo menos habitual e menos forte.
Maria João Carvalho, ginecologista-obstetra, explica-nos que a diminuição dos estrogénios pode provocar também “insónia, irritabilidade, secura vulvovaginal e outros sintomas génito-urinários [urinar com mais frequência, incontinência urinária, dores durante as relações sexuais], bem como a diminuição da líbido”, podendo surgir ainda fadiga, ansiedade e dificuldade de concentração e de memória.
À medida que os níveis de estrogénio diminuem, podem surgir alterações na pressão arterial e aumentar os níveis de colesterol e triglicéridos, pelo que o risco de aparecimento de doenças cardiovasculares aumenta.
Outro dos sintomas associados a esta fase é o aumento de peso. As hormonas têm impacto direto no apetite, no metabolismo e no armazenamento de gordura. Como a ginecologista-obstetra nos conta, as mulheres notam que o corpo começa a mudar e “parece haver uma preferência para a deposição de gordura a nível troncular, com um biótipo mais androide [‘forma de maçã’] e menos ginecóide [‘forma de pera’] ”. Ou seja, as mulheres veem a gordura a acumular-se no abdómen, em vez das coxas e ancas, onde tradicionalmente se concentrava. Manter o peso habitual torna-se, assim, mais difícil.
Mas a patologia que surge associada à menopausa e é apontada como “a complicação tardia mais grave é a osteoporose”, afirma a ginecologista-obstetra. De facto, a osteoporose pós-menopáusica é a consequência mais frequente, uma vez que a perda de estrogénios provoca o aumento de perda da massa óssea. No entanto, é possível prevenir ou retardar o seu aparecimento. Fale com o seu médico para fazer uma avaliação clínica da sua situação e saber quais as medidas e cuidados que deve seguir.
Vida sexual também é afetada na menopausa!
Às mudanças físicas e biológicas que a menopausa acarreta juntam-se ainda as transformações psicológicas e emocionais – que desempenham um papel importante na autoestima feminina e no humor-, mas não só.
Os sintomas – provocados pelas flutuações hormonais – causam também impacto na vida sexual das mulheres e, consequentemente, na sua autoestima e bem-estar. De acordo com Letícia Martins e Vera Carnapete, psicólogas e terapeutas sexuais, as principais alterações apontadas relacionam-se com uma diminuição no interesse sexual e na vivência do orgasmo. “De facto, sabe-se que as alterações hormonais estão na origem, por exemplo, de modificações a nível dos tecidos da vagina e da maior dificuldade em lubrificar, podendo, por isso, provocar desconforto e/ou dor nas relações sexuais vaginais”, explicam as terapeutas.
No entanto, as hormonas não são as únicas culpadas. Existem outros fatores associados a esta situação. Falamos, por exemplo, de alterações próprias do envelhecimento, nomeadamente em termos físicos, da existência de um parceiro(a) sexual e/ou da qualidade dessa mesma relação, assim como da presença de outras situações de vida causadoras de mal-estar ou stress – como a necessidade de cuidar dos pais ou outros familiares (normalmente mais velhos) ou a saída dos filhos de casa. “As circunstâncias da vida da mulher, assim como a forma como vive cada um destes acontecimentos, será determinante na satisfação e bem-estar global à qual a sexualidade não será alheia”, sublinham as especialistas.
Tratar a menopausa sem sem dramatizar!
A boa notícia é que não vale a pena dificultar ainda mais este período da vida. Com acompanhamento médico e os cuidados adequados a cada mulher é possível ultrapassar ou minimizar a maioria dos sintomas que temos vindo a mencionar. “As mulheres devem procurar o apoio do ginecologista com vista à instituição de terapêutica hormonal da menopausa, quando indicada e na ausência de contraindicações, ou outra terapêutica adjuvante”, constata Maria João Carvalho.
A modificação de determinadas rotinas de vida e a implementação de novos hábitos, como fazer uma alimentação equilibrada e cuidada, praticar regularmente exercício físico e – caso seja fumador – deixar de fumar, são medidas que ajudam não só no bem-estar geral mas também permitem aliviar os sintomas deste estádio da vida.
Viver com a menopausa não significa o fim da vida ativa, mas o início de uma nova fase. Como tal, é importante encará-la com uma atitude positiva e reconhecê-la como uma etapa natural e de maior maturidade a nível familiar, intelectual e sexual, em que surgem novos objetivos e interesses pessoais. “A mulher nesta fase já passou diversas etapas da vida reprodutiva, estando neste momento particularmente apta a compromissos profissionais e familiares, fruto de uma maior experiência de vida”, reconhece a ginecologista-obstetra.
Letícia Martins e Vera Carnapete partilham da mesma opinião e realçam ainda que com o fim da menstruação “algumas mulheres sentem uma ‘libertação’ do medo de engravidar e como tal passaram a viver este período com grande e maior satisfação”.
Com uma atitude positiva e algum planeamento é possível fazer desta fase uma experiência agradável e vivê-la com a melhor saúde – física e mental – possível. Porque a menopausa não é o fim, é o início de um novo ciclo de vida.
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