Proteção e reforço do pavimento pélvico
O pavimento pélvico, grupo muscular situado na base da bacia, é um ilustre desconhecido para muitas mulheres. O pré e pós-parto são alturas em que os cuidados com estes músculos devem ser reforçados, mas os bons hábitos comportamentais, de postura e exercício devem perdurar vida fora.
Durante a gravidez, no pré-parto, as mulheres andam ocupadas e preocupadas com o enxoval do bebé, com o parto propriamente dito, com a organização de tudo em casa. No pós-parto ficam absorvidas com os desafios da amamentação, os cuidados ao bebé, o desejo de perder peso. São poucas as que, numa fase ou noutra, se ocupam e preocupam com uma importantíssima parte do corpo, sobretudo no pré e pós-parto: o seu pavimento pélvico… Até porque, na verdade, muitas mulheres nunca em tal ouviram falar.
O pavimento pélvico, também chamado de musculatura do assoalho pélvico (MAP) é um grupo muscular (13 músculos) que se encontra na base da bacia, sendo responsável pelo suporte do útero, da bexiga e do intestino. Explicamos melhor, para que possa começar a entender o valioso papel destes músculos: a bacia feminina – mais larga do que a masculina precisamente para permitir o parto – termina na cavidade pélvica, numa cavidade em forma de funil com cerca de 10 centímetros de diâmetro. Ora, o fundo deste “funil” é fechado precisamente pelos músculos do pavimento pélvico como se de uma rede elástica se tratasse.
Ou seja, como entretanto já deve ter percebido, este grupo muscular acaba por ter como função fechar e conter a uretra, a vagina e o ânus, o que é o mesmo que dizer que é em larga parte responsável pela continência urinária, pelo prazer sexual e pela continência fecal.
A anatomia da mulher por si só já faz com que todos estes órgãos, com a ajuda do pavimento pélvico, estejam em luta diária com a gravidade: de cada vez que a mulher tosse, espirra, ri ou faz um esforço físico os órgãos estão a ser empurrados para baixo, pelo que a musculatura pélvica contrai-se para os empurrar para cima. Agora imagine o que o peso de uma barriga de nove meses e um parto fazem a estes músculos.
Reeducação do pavimento pélvico: conselhos práticos
Isabel Ramos de Almeida, fisioterapeuta especialista na área de uroginecologia, é uma enorme defensora da educação das mulheres sobre o próprio pavimento pélvico e acredita que a altura do pré ou pós parto é uma oportunidade para ministrar ensinamentos que ficam para o resto da vida.
Conforme nos explica, no curso pós-parto o trabalho desenvolvido com as mães é dividido em três grandes grupos: a postura, os abdominais e a hipopressão abdominal.
A postura porque, como é natural, com o aumento de peso e o volume da barriga e depois com as tarefas relacionadas com o bebé, a coluna é um pouco sacrificada, pelo que é importante retomar uma boa postura e melhorar algum desconforto é essencial.Depois os abdominais: a grande preocupação das mulheres é a barriga com que ficaram, mas ir para um ginásio fazer exercícios de impacto não é a melhor opção! Os abdominais podem e devem ser feitos, mas não da forma com a maior parte das mulheres os fazem – com grandes flexões e de forma rápida – porque no pós-parto é essencial não haver pressões na zona pélvica. De acordo com a fisioterapeuta é importante fazer bons abdominais: com respiração, sempre no sentido de puxar o umbigo para dentro e contraindo ao mesmo tempo os músculos do pavimento pélvico. E isto deve ser feito assim não apenas no pós-parto, mas toda a vida.
A hipopressão abdominal, embora seja já usada por mais gente, é uma forma privilegiada de recuperação pós parto. Os exercícios desenvolvidos por esta ginástica envolvem a região abdominal e pélvica com a finalidade de reduzir a pressão intra-abdominal, fortalecer a musculatura interna do abdómen e do períneo. Consiste em exercícios posturais que em conjunto com a respiração promovem a tonificação do pavimento pélvico, prevenindo problemas como a incontinência urinária e os prolapsos, além de melhoram globalmente a postura e tonificarem a zona abdominal.
Implementar mudanças no dia-a-dia
A juntar a estes três tipos de exercícios, complementares e muito relacionados, Isabel Ramos de Almeida, defende ainda que é essencial a terapia comportamental, ou seja, as mudanças de hábitos do dia-a-dia. “Por exemplo, não devemos fazer força para urinar, devemos ter uma posição correta para evacuar (com banco debaixo dos pés e costas ligeiramente curvadas), não devemos dormir com cuecas e não devemos usar penso higiénico por rotina”,explica a fisioterapeuta. Mais uma vez, estas alterações comportamentais, não são apenas para o pós-parto, mas sim para o resto da vida, até porque com o passar dos anos, há um natural envelhecimento muscular que pode trazer-nos disfunções.
De acordo com Isabel Ramos de Almeida, o pavimento pélvico é constituído por duas “redes”: uma mais interna, que são músculos tónicos trabalham dia e noite integrados na força muscular basal, a segunda “rede” são músculos com fibras fásicas, ou seja, somos nós que voluntariamente os podemos contrair. “Para trabalhar as duas ‘redes’ em conjunto os músculos tónicos são trabalhados através da postura e da hipopressão abdominal, e as fibras fásicas (…) com os exercícios de kegels”, explica a fisioterapeuta.
Os famosos exercícios de kegels consistem precisamente na contração voluntária dos músculos do pavimento pélvico. O movimento de contração que deve ser feito é idêntico à interrupção do fluxo urinário – mas atenção que não os fazer nessa altura, a não ser só para experimentar e perceber se está ou não a fazer bem. De resto, podem ser feitos em qualquer altura e em qualquer lugar como treino e nas alturas de esforço (espirrar, tossir,etc) para amortecer esse esforço. Para as mulheres para as quais é difícil perceber se estão a contrair os músculos certos e com a força suficiente, existe em consultório a opção do biofeedback: através de uma sonda que “mede” os movimentos musculares, a contração dos músculos é mostrada no ecrã do computador, o que permite que a mulher perceba a força e duração da contração.
Lembre-se, em especial se já teve filhos, as alterações ou enfraquecimento nos músculos do pavimento pélvico podem levar a problemas de incontinência, disfunções sexuais e prolapsos, além de alterações posturais e dores. Com algum treino e pequenos cuidados diários – ou tratamentos de fisioterapia se os problemas já existirem – é possível fortalecer e reabilitar esta musculatura.
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