Ressonar e parar de respirar durante o sono: as soluções da terapia da fala

Ressonar é um problema que afecta mais do que o sono e a disposição da pessoa com quem dorme um ‘roncador’. Afeta sobretudo a saúde de quem ressona. O problema tem de ser abordado de de forma multidisciplinar, e uma das terapias que tem uma palavra a dizer sobre o tema é a Terapia da Fala.

O sono é um fenómeno activo, necessário, periódico, variado e complexo. O acto de dormir permite-nos descansar, activar sinapses, consolidar memórias e permitir a aprendizagem. O sono normal de um adulto varia ente 7 a 8 horas, num período de 24 horas e é constituído pela alternância dos estados REM (rapid eye moviment, com movimento rápido dos olhos e período em que ocorrem os sonhos) e NREM (non rapid eye moviment, sem movimento rápido dos olhos). Quando não estamos no período de sono, diz-se que estamos num estado de vigília. Pela sua importância, é fundamental o sono ser de qualidade a par de uma respiração adequada, já que as alterações no sono podem ter repercussões a vários níveis.

A Roncopatia refere-se ao ruído emitido durante o sono por colapso parcial dos tecidos nasais e/ou orais. O ronco pode ser:

•Simples – Ruído fricativo de baixa frequência, não está associado a apnéias/hipoapnéias, atinge 40 dB, suave e contínuo;

•Ronco Intenso associado a SAOS – ronco alto e frequente, atinge 85dB, pausas respiratórias ou engasgos, esforço inspiratório associado, edema da úvula, edema e alongamento do pilar do palatoglosso, pode causar aumento da pressão arterial, aumenta o risco de isquémia cardíaca e cerebral.

 

APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO:

O termo Apneia deriva do grego “vontade de respirar”. Tem como sinais / sintomas mais comuns (Valera et al3, 2004):

•Respiração oral

•Ronco

•Interrupção da respiração de forma intermitente durante o sono

•Agitação ao dormir / Insónia

•Sensação de sufocamento ao despertar

•Sonolência diurna excessiva (SDE)

•Impotência sexual

•Cefaleia matinal

•Irritabilidade e cansaço

 

O SAOS tem ainda variados efeitos no ser humano, de entre os quais destacamos:

•Depressão, alterações de personalidade, prejuízo das funções cognitivas, atenção, memória e aprendizagem

•Acidentes ocupacionais

•Riscos, como acidentes de trânsito

•Doença cardiovascular

•Hipertensão arterial sistémica,

•Insuficiência cardíaca esquerda

•Enfarto do miocárdio

•Arritmias

•Hipertensão pulmonar

•Morte súbita

 

CLASSIFICAÇÃO DAS APNEIAS

Apneias Obstrutivas: O fluxo aéreo é impedido pelo colapso das vias aéreas superiores, apesar dos esforços repetidos para restabelecer a respiração.

Apneias Centrais: A ventilação cessa porque o sistema nervoso central é incapaz de activar o diafragma e outros músculos respiratórios.

Apneias Mistas: Iniciam com uma pausa do centro respiratório, seguida por aumento sucessivo do esforço respiratório contra uma via aérea obstruída.

Hipopneias: Ocorrem quando o fluxo aéreo se reduz significativamente, porém, sem cessação. Também as hipopnéias podem ser classificadas em obstrutivas, centrais ou mistas.

IMPACTO DAS ALTERAÇÕES DO SONO NA TF

Faringe – tubo colapsável, serve à fala, deglutição e respiração, é desprovida de suporte ósseo, roncopatia – leva a obstrução das vias aéreas superiores (OVAS).

Obstrução das vias aéreas superiores – alterações na anatomia da VAS que reduzem o tamanho da faringe acúmulo de gordura – espessamento e flacidez muscularem da parede da faringe.

•Hipertrofia lingual

•Hipertrofia das tonsilas

•Retrognatia

•Deslocamento inferior do osso hióide

•Aumento da circunferência cervical

O trabalho do terapeuta da fala

O trabalho mioterápico miofucional na apneia obstrutiva do sono e roncopatia consiste em ajustar a estrutura e funcionalidade da orofaringe através do posicionamento de língua para adequar a postura do osso hióide pelo eixo craniomandibular.

Para esta terapêutica é necessário realizar:

•Higiene nasofaríngea (soro fisiológico)

•Redução de edema

•Soltura e flexibilidade da musculatura da musculatura mastigatória

•Liberação do osso hióide

•Aumento da flexibilidade, força e resistência da musculatura facial, de cinturão do bucinador, da língua, do véu palatino, da faringe e da laringe

•Resistência orofaringolaríngea

•Aumento do fluxo inspiratório e expiratório

•Resistência diafragmática

 

O terapeuta da fala, através de exercícios estáticos (para aumento de força) e dinâmicos (para a mobilidade), tem como objectivos:

•Desactivação dos padrões pré-estabelecidos – propriocepção / consciencialização

•Instalação de novas actividades musculares e padrões funcionais

•Automatização de padrões correctos

•Manutenção dos padrões aprendidos

 

À semelhança do que se passa noutro tipo de situações, sejam elas de prevenção ou intervenção na patologia, um trabalho multidisciplinar leva ao restabelecimento de funções e manutenção de posturas corretas de forma mais assertiva e eficaz. Da equipa poderão fazer parte as especialidades de Neurofisiologia, Pneumologia, Otorrinolaringologia, Terapia da Fala e Fisioterapia.

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