Sabe como cuidar das varizes?
Estima-se que mais de 60% das mulheres sofram de varizes, sobretudo a partir dos 40 anos. Os homens desenvolvem menos este problema que é influenciado por múltiplos factores. Conheça-os neste artigo.
Há alguns anos, chegou-se ao consenso sobre a nomenclatura de doença venosa crónica (DVC). “É aquilo a que habitualmente as pessoas traduzem por varizes”, explica o cirurgião vascular João Albuquerque e Castro. Provavelmente, este termo dir-lhe-á algo mais do que o primeiro. As varizes são veias superficiais dilatadas e os médicos que as tratam (cirurgiões vasculares) têm uma classificação que os orienta a categorizar ou incluir determinada pessoa num grupo. “Existe também uma doença mais avançada e grave – a insuficiência venosa crónica – que, em termos populares, é conhecida por varizes interiores”, diz-nos o especialista.
Costuma pensar-se que as varizes são única e exclusivamente hereditárias mas segundo João Albuquerque e Castro “podemos encontrar gerações sem doença, ou seja, a mãe e a filha têm mas a neta não vai ter”. Ainda não é muito clara “a fisiopatologia da DVC mas sabemos hoje que as pessoas com varizes têm falta de uma série de substâncias ou que as mesmas estão alteradas havendo uma fraqueza da parede da veia.” Além da herança familiar que tem sido estudada por múltiplas linhas de investigação, é importante saber que os factores ambienciais são muito importantes. “As pessoas sedentárias, obesas, as que gostam de sentir muito calor em cima das pernas (não me refiro apenas ao sol que é essencial à vida mas sim à permanência junto a lareiras e outras fontes de calor) têm uma maior propensão de desenvolver a doença”, avança João Albuquerque e Castro. A maior resistência que se sente hoje por parte dos doentes é o uso da meia elástica. “Há uma geração de pessoas que não consegue usar estas meias por se sentir muito apertada.”
Existem também profissões que podem beneficiar ou prejudicar esta tendência: “As cozinheiras têm uma grande predisposição para desenvolver DVC porque estão em pé, ao fogão e a apanhar calor directamente do forno. Por outro lado, os carteiros caminham muito, o que ajuda a não piorar a doença ou mesmo a prevenir o seu surgimento.” O desenvolvimento hormonal também tem o seu papel enquanto factor de risco para o aparecimento de varizes. “É um dos motivos que explica porque que é que as mulheres têm mais varizes do que os homens”, salienta o cirurgião vascular. É frequente que a doença se desenvolva durante a gravidez mas também não será de estranhar que as varizes “desapareçam depois do parto”.
Procura de ajuda especializada
João Albuquerque e Castro afirma que “metade das consultas por doença venosa acontece devido aos chamados derrames, ‘vasinhos’ e sobretudo por razões estéticas. Há derrames mesmo muito pequenos mas que para algumas mulheres são altamente inestéticos ao ponto de não vestirem saias há anos.” Se a perna estiver inchada, se doer, se estiver muito vermelha e com a sensação de calor, se se verificarem veias salientes, deve procurar ajuda especializada. “Muitas vezes, as pessoas têm varizes mas não têm sintomas. No entanto, o facto de uma pessoa ter varizes, só por si, deve conduzir à marcação de uma consulta para avaliação”, diz-nos o cirurgião vascular.
Também é normal que, no Verão, os sintomas se tornem mais evidentes. “Há doentes que passam um Inverno excelente mas que começam a sentir as pernas a latejar, a inchar e a doer com a chegada das temperaturas altas”, sublinha o cirurgião.
No que respeita à prevalência das varizes, se analisarmos a população portuguesa, nas mulheres acima dos 40 anos, andará “acima dos 60%. É também verdade que as mulheres sofrem mais deste problema do que os homens. ”
Doença controlável
Não é possível curar varizes. “Esta doença crónica incurável evolui a maior ou menor gravidade, a maior ou menor velocidade, consoante a componente genética e os factores ambienciais. Se a pessoa fizer exercício físico, se não aquecer demasiado as pernas, se não se deixar engordar, se não usar saltos com mais de 5 centímetros e se usar meias de contenção elástica, o grau de gravidade não é tão alto como para uma pessoa com o mesmo problema mas sem os mesmos cuidados”, salienta João Albuquerque e Castro.
Existem vários tratamentos para a DVC mas a decisão deve passar sempre pelo doente. “Costumo dizer aos meus doentes que a decisão de serem ou não operados deve ser consciente, o que significa que deverão ter noção que podem precisar de ser operados novamente ou submeterem-se a outro tipo de tratamentos. Apesar desta não ser uma doença curável, é facilmente controlável.” O tratamento deve ser contínuo.
Nesta e noutras patologias, são os doentes que têm de se cuidar. “O auto-cuidado é fundamental, até mais importante do que ter alguém que cuide de nós”, explica o cirurgião vascular. A linha de tratamentos para a DVC é muito extensa. Além dos conselhos descritos e que João Albuquerque e Castro considera de “auto-tratamento”, existem múltiplas alternativas à disposição desde a esclerose (secagem) de varizes, à cirurgia, aos tratamentos com laser, à radiofrequencia, e aos tratamentos mecânicos.
Conheça as suas veias
“Temos uma safena major, (interna) que passa do lado de dentro da perna desde a virilha até ao pé e temos uma safena minor, externa, que corre na barriga da perna. Essas veias, quando doentes, conduzem às varizes mais volumosas. Sem tratar essas veias, não conseguimos ‘travar’ as varizes pois estão sempre a recidivar”, defende o cirurgião vascular. Quando se tem uma doença venosa crónica há que perceber em que grau está. “Há varizes que são cirúrgicas e outras que são para esclerose (secar). Noutras situações é importante tomar medicação sobretudo quando começa a haver sintomatologia.”
Mesmo quando é necessário recorrer a uma cirurgia, com as técnicas actuais, as pessoas podem voltar à sua vida normal, no máximo, “uma semana depois”. No pós-operatório, recomendam-se técnicas de fisioterapia, drenagem linfática e drenagem manual. “A estimulação através da drenagem ajuda a que as pernas descongestionem e os sintomas melhorem. Toda o pós-operatório provoca inflamação mas a drenagem manual é um tratamento excelente para atenuar os sintomas”, destaca o especialista que afirma ser muito frequente reencaminhar alguns dos seus doentes para fisioterapia.
O acompanhamento do paciente pelo cirurgião vascular acontece durante toda a vida mas, dependendo dos casos, a frequência das consultas varia muito. “Tenho pacientes que vejo de três em três meses, de seis em seis meses, de ano a ano, de dois em dois anos e até outros que só me procuram quando necessitam. Os pacientes começam a perceber o que têm de fazer e quais os sinais de alarme pelo que também sabem quando devem procurar o médico”, conclui João Albuquerque e Castro. No entanto, há que ter em conta que o tratamento é contínuo.
Dicas úteis:
- A prática de exercício físico é fundamental pois se há movimento, a probabilidade dessa pessoa ter varizes ou de agravar as existentes é muito menor. “Exceptua-se o RPM ou os exercícios com contracção demasiado rápida que não são tão adequados (como por exemplo, o sprint e o spinnig que estão muito na moda).”
- Percebeu-se também que bater com a planta do pé no chão e saltar também não é o mais aconselhado. “Estar repetidamente a saltar agrava a tendência que as pessoas têm para desenvolver varizes (em desportos como o vólei, o basketball, entre outros)”, indica João Albuquerque e Castro.
- Faça pausas se a sua profissão implica passar o dia inteiro ao computador para promover uma maior circulação sanguínea nas pernas.
- Não se deixe engordar.
- Evite o calor excessivo junto às pernas.
“O auto-cuidado é fundamental, até mais importante do que ter alguém que cuide de nós”
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