Será que existe stress bom?
Hoje em dia, é uma das frases mais ouvidas no nosso quotidiano: “Ando stressado(a)…”. O estilo de vida atual, caracterizado por uma luta contra o tempo, tem contribuído para esta “epidemia mundial”, assim considerada pela própria Organização Mundial de Saúde (OMS). Mas será que todo o stress faz mal à saúde?
Você conhece bem a sensação. Por culpa do trânsito chega atrasado ao trabalho e quando finalmente entra no escritório, as tarefas de caráter urgente acumulam-se. Como se não bastasse, o seu chefe está de mau humor e tem um trabalho importante para terminar. Ao final da tarde tem de ir buscar as crianças à escola e não se pode esquecer de passar pelo supermercado para abastecer a despensa lá de casa. Enfim, tem um longo dia pela frente.
O stress é um dos males do século XXI, afeta grande parte da população e tem o poder de nos deixar com os cabelos em pé. Os primeiros estudos sobre o stress foram realizados por Hans Selye, na década de 1930. O endocrinologista atribuiu um significado específico à reação de stress, definindo-a como uma “resposta não específica do organismo a qualquer exigência de adaptação”.
Mas, afinal, do que falamos concretamente? De forma simplificada, o stress é uma reação a estímulos externos que a pessoa identifica como sendo ameaçadores ou perigosos e com os quais terá de lidar. A psiquiatra Ana Sofia Nava diz-nos que o stress pode ser um sintoma de ansiedade ou o fator que está na sua origem (causa).
A questão vai um pouco ao encontro da famosa pergunta “Quem nasceu primeiro? O ovo ou a galinha?”, mas é importante perceber que o stress é fundamental para a nossa sobrevivência e pode funcionar de duas formas muito distintas: como um incentivo, ajudando-o a superar o desafio (bom stress) ou como um “bloqueador” (mau stress). Aliás, Ana Nava explica que “todos os seres humanos têm um nível de stress/ansiedade que é útil, pois torna-nos proactivos, interessados e atentos pelo mundo que nos rodeia”.
Para ajudar-nos a compreender o papel desempenhado pelo stress, podemos dizer que este sintoma está para o homem como o vento para um veleiro. Sem vento o veleiro não chega ao seu destino, mas um vento tempestuoso pode afundá-lo. Ora, uma pessoa sem stress (bom stress) não chega ao seu destino porque lhe falta o combustível – a motivação. Porém, uma pessoa com excesso de stress é como um veleiro no meio de uma tempestade. A sua probabilidade de sobreviver (de forma saudável) reduz-se drasticamente.
Focou confusa(o)? Façamos, então, um ponto da situação: o stress é fundamental para a nossa sobrevivência e pode ser benéfico ou prejudicial, dependendo da forma como reagimos e nos adaptamos a diferentes circunstâncias da vida.
O bom e o mau stress…
Agora que sabemos que o stress é o conjunto das reações do organismo e da mente face às situações da vida, e que essas reações nos motivam para a ação, será bem fácil entender os benefícios e os inconvenientes do stress.
Quando estamos em estado de alerta, conseguimos concentrar-nos melhor naquilo que fazemos, os nossos reflexos tornam-se mais rápidos, a velocidade do nosso raciocínio aumenta e se nos mantivermos em condições propícias, podemos até mesmo ser mais criativos e produtivos. Tal como Ana Sofia Nava revela, “o bom stress [também designado de eustress] ajuda-nos nas nossas performances intelectuais, estimula as nossas capacidades cognitivas e em situações de competição saudável melhora significativamente os nossos resultados”. Por exemplo, quando temos um prazo a cumprir ou estamos na véspera de um exame ou apresentação importante, o stress (ansiedade) gerado é, na maioria dos casos, altamente motivador, levando-nos a terminar essa tarefa.
O problema encontra-se no mau stress, igualmente apelidado de distress. Se a falta de algum stress nas nossas vidas nos mantém subexcitados, apáticos e entediados, o seu excesso “torna-se prejudicial, na medida em que retira as nossas perícias de raciocínio, memória e a capacidade de tomar decisões adequadas em nosso proveito”, alerta a psiquiatra. Em casos extremos, quando a situação de stress se prolonga, pode levar ao desgaste do nosso organismo e ao aparecimento de doenças.
Quando começa a ser preocupante?
Dores de cabeça, mau humor, insónias, esquecimentos, batimentos cardíacos muito acelerados, dores musculares, mãos frias e húmidas. Já sentiu alguns destes sintomas? Se a sua resposta for positiva, é provável que seja mais uma vítima deste problema.
Quando ultrapassa os limites do suportável, o stress pode traduzir-se por desordens a nível físico e psíquico mais sérias, como as acima mencionadas, mas também quadros de ansiedade generalizada, depressão, “sensação de despersonalização (a pessoa sente-se fora do seu corpo e, por vezes, a observar-se fora de si próprio) e de desrealização (a pessoa sente que não está no mundo real, que está tudo estranhamente diferente como se estivesse a sonhar) ”, adianta Ana Sofia Nava.
Os sintomas começam a ser preocupantes quando interferem na nossa vida e nos impedem de prosseguir normalmente com o nosso dia. Sempre que isso aconteça, devemos procurar o apoio de um profissional especializado. Segundo Ana Sofia Nava, “o psiquiatra é o especialista indicado para fazer o diagnóstico destas situações. Como tem formação médica, tem a capacidade de fazer o diagnóstico diferencial com outras doenças, cujos sintomas podem confundir-se com a ansiedade”.
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