Tabagismo e gravidez: uma péssima combinação

A lista de riscos associada ao tabagismo na gravidez não é animadora. Recordá-la talvez lhe dê a força de vontade necessária para interromper o hábito, mas se isso não for suficiente, peça ajuda ao seu médico. Hoje a maior parte das pessoas, fumadores incluídos, tem noção dos riscos que envolve a opção de fumar, tanto ativa como passivamente. Ao contrário daquilo que acontecia há algumas décadas atrás, a informação relativa aos malefícios do tabaco é conhecida e amplamente difundida através dos media, médicos e campanhas de prevenção e educação para a saúde. De tal forma que já se tornou praticamente uma informação de senso comum.

Quer isso dizer que, com uma consciência mais ou menos apurada das consequências negativas, sabemos os muitos riscos que corremos. E, numa situação normal, trata-se de uma escolha individual de optar ou não por corrê-los. Mas no caso das mulheres, durante a gravidez, o caso muda de figura porque há mais em jogo do que “apenas” elas próprias. O feto é um organismo frágil e em desenvolvimento que, no caso da mãe ser fumadora, se torna num fumador passivo.

fumar na gravidez

Não é um incentivo ao pânico, mas à mudança: não há como escamoteá-lo, a lista de possíveis riscos para a gravidez, para o feto e para o futuro bebé é extensa. Ana Moutinho, interna em Medicina Geral e Familiar, afirma que associados ao tabaco durante a gestação “existe um aumento de complicações como o aborto espontâneo, alterações da placenta e parto prematuro.”

Além disso, a médica esclarece que o consumo de tabaco tem sido “implicado no risco de algumas malformações fetais, como a fenda do palato e em alterações do desenvolvimento neurológico e do sistema respiratório do bebé.” Mais: estes riscos estendem-se para lá da gestação e do desenvolvimento do feto: para além de um aumento da mortalidade ao nascimento, o recém-nascido corre riscos aumentados no futuro, como o Síndrome da Morte Súbita, doenças respiratórias, diminuição do rendimento escolar e leucemia.

Planear a gravidez, planear a cessação:

Está provado que um dos malefícios do tabaco no que toca à gravidez é, desde logo, fazer com que ela seja mais difícil de acontecer. Numa altura que o número dos casos de infertilidade parece estar a aumentar, é de ressalvar que o tabaco é um dos fatores de risco para infertilidade do casal. “O tabagismo tem implicações comprovadas em todo o ciclo reprodutivo da mulher. Os malefícios passam por alterações do ciclo menstrual e diminuição da fertilidade”, explica-nos Ana Moutinho. E é importante ressalvar que também o pai fumador está implicado nos efeitos adversos do tabaco porque também pode ver a sua fertilidade diminuída.

Idealmente a mulher fumadora deveria deixar de fumar antes de engravidar, não só porque as opções de ajuda a deixar o vício estão menos condicionadas, como porque o seu corpo pode mais cedo usufruir dos muitos benefícios de ser não-fumador, nomeadamente facilitar a própria conceção.

O facto de por vezes a gravidez não ser programada nem sempre permite esta antecipação. Mas depois de o teste dar positivo, é bom encarar seriamente a notícia e deixar logo de fumar.

Há ainda muita gente que recorre àquela velha máxima que diz que na gravidez, “faz menos mal fumar dois ou três cigarros por dia do que todo o stress que implica não poder fumar.” Mas… por muito esta afirmação apazigue a consciência da grávida que mantém o vício, ela não é verdadeira. “Quando esta intervenção prévia não é possível, a cessação tabágica na grávida continua a ser uma prioridade. Estudos recentes têm demonstrado que não há benefício em reduzir o consumo e fumar apenas poucos cigarros – o objetivo será sempre a cessação”, frisa Ana Moutinho.

 

A prioridade: deixar de fumar!

A médica refere que a cessação tabágica não é fácil, mas é possível e depende muito da motivação pessoal, sendo que estar grávida ou a planear engravidar deverá funcionar como um estímulo adicional.

A grávida que decide deixar de fumar e sente que precisa de uma ajuda extra além da força de vontade, deve recorrer ao conselho do médico e nunca recorrer a métodos de substituição como pensos ou pastilhas por sua decisão. “Qualquer medicação durante a gravidez deve ser acompanhada por um médico porque este é um período muito particular”, frisa Ana Moutinho.

De acordo com a médica de Medicina Geral e Familiar, na cessação tabágica existem várias alternativas farmacológicas, mas algumas estão contraindicadas na gravidez. “Apesar de alguma controvérsia, os estudos parecem indicar que há benefício na utilização de terapêutica substitutiva de nicotina (pensos, pastilhas para mascar…) mas em casos específicos e sob supervisão médica”, explica a médica. Ou seja, há possibilidade de utilizar algumas terapêuticas, mas essa decisão e o respetivo acompanhamento devem ser efetuados pelo médico.

A sua força de vontade e a ajuda do seu médico vão sem dúvida ajudá-la a ver-se livre deste vício, a bem do seu bebé e, claro, de si própria. E atenção – este bom hábito – é para manter depois da gravidez!

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