Terapia de flutuação: deixe o peso do mundo lá fora
O objetivo da terapia de flutuação é a supressão dos sentidos e o relaxamento profundo. A flutuação terapêutica promete afastar o stress do dia-a-dia colocando-nos a flutuar numa cápsula que nos isola do mundo exterior. Mas aqui no Inspire Saúde surgiram-nos muitas dúvidas e, por isso mesmo, fomos conhecê-la.
Ao deparamo-nos com o conceito pela primeira vez, a cabeça enche-se de questões. Vão fechar-me numa cápsula? Não me irei sentir claustrofóbica? Mais ainda, como é que vão suprimir-me os sentidos? Será que aguento 50 minutos praticamente sem ver, ouvir ou tocar em nada? Porque, no fim de contas, vai-nos ser induzido um estado completamente diferente do que é habitual, algo que nem consigo imaginar. Qual será a sensação? Como é que vou reagir?
Não soa a ambiente apelativo ou confortável, mas a partir daqui entrego-me à experiência. Ao desconhecido, ao desligar do corpo, ao iluminar da mente através de uma experiência que, segundo os testemunhos do Float In, já foi descrita tanto como um momento relaxante e tranquilo, como uma viagem astral onde todo o corpo deixa de existir para dar lugar a algo maior.
Dentro da cápsula percebemos imediatamente o conceito de flutuar sem esforço, pois todo o corpo “levita” involuntariamente nos 30 centímetros de água salgada que se encontram no seu interior, e os seus efeitos começam a notar-se. Ao deitarmo-nos na água, perdemos agradavelmente o contacto tátil e a força da gravidade desaparece. Todos os estímulos externos como a temperatura, a luz e o som são praticamente eliminados.
Não temos frio nem calor porque a temperatura é a mesma que a do nosso corpo (cerca de 35,5º), o que faz com que a pele não tenha de se adaptar, ao mesmo tempo que dilui a capacidade de diferenciar o corpo da água. E a noção de tempo e espaço é suprimida, deixando-nos apenas com os nossos pensamentos, o som da nossa respiração e o bater do coração.
É esta privação sensorial, ou ausência dos sentidos, que nos permite usufruir do principal objetivo da flutuação terapêutica: um profundo estado de relaxamento e paz interior. Mas nada disso seria possível se não fossem os 300 quilos de sal Epsom que se encontram na água e promovem a ausência de gravidade, deixando o corpo em suspensão, como se estivéssemos a levitar.
O sal Epsom é um sal terapêutico que sofre menos processos de refinamento em relação ao sal de cozinha e ao sal marinho, sendo mais concentrado em magnésio do que em sódio, sendo habitualmente utilizado em situações de rejuvenescimento da pele, prevenção do aparecimento de celulite, eliminação das toxinas do corpo e em casos de artrites e artroses.
Mas se ficou preocupada(o) com a ideia de estar imersa em água com 300 quilos de sal, com medo de sair de lá com a pele a estalar de tão seca, descanse. Este sal não lhe vai secar a pele, pelo contrário, é bastante hidratante e benéfico para a sua saúde. A única recomendação que lhe podem dar é no caso de ter algum pequeno ferimento no corpo, como um corte ou um arranhão. Nestes casos, para evitar um ardor desnecessário, é recomendada a aplicação de vaselina, fornecida pelo spa.
Dentro do flutuário – outro dos nomes que se dá à cápsula – encontramos quatro botões que nos permitem ligar e desligar a música e a luz, abrir e fechar a tampa da cápsula de flutuação e um outro que serve para pedir auxílio em caso de emergência. Toda a experiência é controlada por nós, os utilizadores, de forma a que possamos sentir os benefícios da libertação das tensões e stress do quotidiano.
No entanto, descansem os mais receosos ou claustrofóbicos, pois para usufruírem dos benefícios da terapia não precisam de estar fechados na cápsula. Existem dois tipos de experiências de flutuários à escolha, a cápsula fechada ou o flutuário aberto (semelhante a uma grande banheira), ambos igualmente equipados. Independentemente do formato, o objetivo é o mesmo: proporcionar uma experiência confortável, serena e não forçada, uma vez que esta será uma situação intensa para o organismo, sendo indispensável o total controlo do utilizador.
Os benefícios da flutuação
Tiago Valente, diretor do Float In, contou-nos que, apesar da técnica ainda ser pouco conhecida em Portugal, existe um variado leque de razões para quem procura a flutuação: “desde quem pretende apenas relaxar e libertar o stress, passando pelos atletas que procuram prevenir e recuperar de lesões desportivas e também melhorar as suas performances, até às gravidas que precisam de recuperar de noites e dias mal passados com os desconfortos da gravidez”.
Os efeitos da flutuação atuam principalmente no relaxamento e na regulação do sono, sendo, como nos diz Tiago Valente, “uma hora de flutuação equivalente, em média, a cinco horas dormidas”. Mas esta não serve apenas para pôr o sono em dia. A flutuação alivia as dores no corpo, mesmo as crónicas, as tensões musculares, promove um “reset” ao relógio biológico, estimula a circulação sanguínea, melhora a distribuição de oxigénio e nutrientes no organismo, reduz a pressão arterial, aguça os sentidos e ainda lhe traz momentos de tranquilidade meditativa.
Na verdade, não é à toa que se diz que esta terapia é um atalho para a meditação. Tiago Valente explica que “o estado de relaxamento que a flutuação permite atingir altera o funcionamento do cérebro, fazendo com que entre num registo de ondas theta, a mesma frequência alcançada com a meditação profunda”. Enquanto o cérebro se encontra nesta frequência é favorecido o equilíbrio dos hemisférios esquerdo e direito do cérebro, a libertação de endorfinas, a estimulação da criatividade, o aumento da concentração e da capacidade de aprendizagem.
Atualmente, são vários os estudos que comprovam os efeitos benéficos da flutuação terapêutica, demonstrando que, ao provocar um estado de relaxamento tão completo, a privação das sensações e dos sentidos traz mudanças relevantes no funcionamento emocional, cognitivo, comportamental e psicofisiológico. De acordo com as investigações, a utilização desta terapia, quando acompanhada por profissionais, mostra também avanços na cura de insónias, no controlo de transtornos alimentares, adições – como por exemplo, o tabaco – e de comportamentos inadequados em pacientes com doença de Alzheimer e autismo.
Fora de Portugal, a privação sensorial pela flutuação é usada no tratamento de diversos problemas, existindo para o efeito clínicas especializadas na utilização dos flutuários para fins exclusivamente terapêuticos. Esta terapia é designada internacionalmente de Restricted Environemental Stimulation Therapy (REST).
Apesar dos múltiplos benefícios, Tiago Valente alerta que a privação sensorial pela flutuação não é indicada para todas as pessoas pois, além de poder ser uma experiência intensa e até desorientadora, “não é aconselhável a quem sofra de epilepsia, esquizofrenia ou patologias mentais graves, tensão arterial desregulada e condições dermatológicas”.
Se este não for o seu caso, atreva-se a experimentar a flutuação terapêutica e a usufruir de pelo menos 50 minutos de pura tranquilidade, profundo relaxamento e renovação de energia. Afinal, como nos confessa Tiago Valente, “não há nada como a meio de um dia cansativo de trabalho poder ‘dar um pulo’ ao flutuário para refrescar as ideias”.
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