Triagem de Manchester, sabe o que é?
A triagem de Manchester é um sistema que começou a ser usado nas urgências hospitalares em Portugal a partir do ano 2000.
Este sistema serve para classificar a gravidade e a prioridade dos doentes através de protocolos clínicos, atribuindo pulseiras com cores, desde o vermelho (emergência) até ao azul (não-urgente).
Triagem de Manchester. O nome até pode parecer estranho, mas o sistema é bem conhecido por todos aqueles que, na última década, tiveram de fazer uma visita a uma urgência hospitalar, mesmo que não tenham consciência disso.
Se lhe dissermos que se trata do sistema que classifica a prioridade de atendimento de um doente nas urgências, sabe do que estamos a falar? Mas podemos ainda ser mais claros. Lembra-se daquelas pulseiras com cores que lhe colocam sempre que vai a um serviço de urgência? Pois bem, é a isso que nos referimos.
As regras de atendimento no serviço de urgência dos hospitais portugueses têm vindo a mudar desde 2000. Foi nesse ano que começou a ser implementado em alguns hospitais o sistema de triagem de Manchester, que, nos dias de hoje, já se encontra em vigor em todas as unidades hospitalares do sistema nacional de saúde e também em alguns serviços de atendimento da rede privada.
Antes deste sistema, os utentes eram atendidos por ordem de chegada, salvo algumas exceções de caráter urgente. Mas, a partir do momento em que a triagem de Manchester foi implementada nos serviços de urgência hospitalar, a situação mudou e a ordem de atendimento passou a basear-se no nível de gravidade dos casos apresentados pelos utentes.
De acordo com Paulo Freitas, médico do Hospital Fernando Fonseca e membro da direção do Grupo Português de Triagem, o sistema “de triagem de Manchester é um protocolo de avaliação de risco clínico que é efetuado na admissão do serviço de urgência”.
Assim, ao contrário do que acontecia antigamente, na chegada à urgência hospitalar e após a inscrição no respetivo guichet, todos os doentes são observados na sala de triagem onde um enfermeiro – devidamente preparado para a função – faz uma primeira observação e algumas perguntas sobre o motivo da sua ida às urgências. Estas questões – que fazem parte do Protocolo de Triagem – permitem atribuir uma pulseira com uma cor correspondente a um grau de prioridade e sugerir um tempo de espera, até à primeira observação médica.
O que significam as cores das pulseiras de triagem?
O sistema de triagem de Manchester é constituído por cinco cores, consoante o grau de gravidade e o tempo previsto para o atendimento do utente. Aos doentes com problemas mais graves é atribuída a cor vermelha, que corresponde a um atendimento imediato. Essas cores são utilizadas nas pulseiras atribuídas ao paciente no hospital.
Os casos muito urgentes recebem a cor laranja, para serem atendidos num espaço de tempo de dez minutos, enquanto a cor amarela significa um caso urgente, sendo estimado o atendimento no prazo de uma hora.
As cores verde e azul são atribuídas às situações que apresentam menor gravidade (pouco ou não-urgentes) e, como tal, são os casos que demoram mais tempo a serem atendidos, podendo levar entre duas a quatro horas, respetivamente.
Em Portugal foi introduzida uma sexta categoria à qual corresponde a cor branca. Esta diz respeito a todos os doentes que apresentam situações não compatíveis com o Serviço de Urgência, como é o caso de doentes admitidos para transplante, para técnicas programadas, entre outras.
Como saber o que é prioritário?
Antes de mais, é importante frisar uma questão: o sistema de triagem de Manchester não pretende estabelecer diagnósticos mas sim fazer a triagem de prioridades, de acordo com os critérios estabelecidos neste protocolo, assegurando que os doentes mais graves são os primeiros a serem atendidos. Esse é o seu principal objetivo.
A triagem de prioridades constitui, ainda, uma etapa crucial na abordagem e gestão de qualquer situação em que o número de doentes excede a capacidade de resposta das equipes de socorro, seja durante o funcionamento normal dos serviços de saúde ou em situações de exceção.
Como Paulo Freitas sublinha, as vantagens deste sistema são “garantir o acesso aos cuidados de saúde de forma proporcional à necessidade e risco clínico do doente, organizando assim o acesso aos cuidados de saúde nos serviços de urgência”.
Mas como saber o que é prioritário? Para que possamos perceber melhor como este sistema informatizado funciona, o médico explica-nos na prática como tudo acontece: “depois do acolhimento, o enfermeiro identifica de forma clara o motivo da vinda à urgência através da identificação da queixa de apresentação. Depois seleciona um quadro entre 50 disponíveis (que seja o mais adequado entre vários possíveis para aquela queixa)”.
Esses quadros – ou fluxogramas – contêm várias questões que devem ser colocadas ao doente pela ordem apresentada e podem ser específicos para a situação em causa – como por exemplo, um episódio oftalmológico, de dispneia (falta de ar) ou dor abdominal – ou gerais: perigo de vida, dor, hemorragia, estado de consciência, temperatura ou agravamento da situação clínica. Cabe ao profissional que realiza a triagem escolher o fluxograma que melhor se adequa à queixa principal do doente.
Por exemplo, no quadro de dispneia, surgem perguntas como: a respiração é ineficaz? O doente emite um estridor (som que pode ser inspiratório ou expiratório)? Existe dor precordial (dor pesada no centro do peito, que pode irradiar para o braço esquerdo ou para o pescoço)?
O enfermeiro percorre, então, a lista de questões, realizando a medição de parâmetros fisiológicos, como a temperatura, e “quando o identifica uma resposta positiva (ou parâmetro fisiológico) é atribuída a prioridade respetiva e registadas todas as avaliações efetuadas”, conta Paulo Freitas. Se, após a observação inicial, “existir agravamento do doente durante o período de espera, o doente pode ser reavaliado (retriado)”, acrescenta.
A dor constitui, inevitavelmente, umas das queixas de apresentação mais frequentes, sendo também um dos maiores desafios na abordagem que a triagem de prioridades tem de assumir. Compete ao enfermeiro responsável pela triagem estratificar a dor e atribuir uma prioridade clínica em função da sua intensidade, localização e irradiação.
Apesar de ter sido concebido para os serviços de urgência, Paulo Freitas revela que “têm sido desenvolvidos outras aplicações que usam como base este sistema, como por exemplo, a triagem telefónica pré-hospitalar e gestão dos serviços de urgência“.
O Protocolo de Triagem de Manchester teve origem, tal como o nome indica, na cidade de Manchester, em Inglaterra, e já foi adotado por vários países europeus, como a Holanda, Suécia e Portugal, sendo entendido como mais um passo, no sentido de melhor atender quem recorre a um serviço de urgência, o qual exige rapidez, na proporção da gravidade.
A Triagem de Manchester é o sistema mais utilizado e que melhores resultados tem conseguido.
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