Grávidas iodadas, bebés mais inteligentes
Se está a pensar engravidar, é altura de começar a tomar iodo. A recomendação é da Direcção-Geral da Saúde (DGS), que considera que as reservas devem feitas três meses antes da concepção para evitar lesões cerebrais nos bebés. O tema esteve em destaque no XV Congresso Português de Endocrinologia realizado entre os dias 23 e 26 de Janeiro.
A Direcção-Geral de Saúde recomenda-o, através de uma orientação clínica, desde o final do ano passado. A suplementação com iodo na gravidez está a dar os primeiros passos em Portugal, mas o assunto é sério, já que a carência deste micro-nutriente é, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a principal causa evitável de atraso mental nas crianças. Para além disso, um estudo da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia (SPE), de 2010, revela que apenas 17% das grávidas em Portugal tem níveis de iodo de acordo com o recomendado pela OMS, ou seja, mais de 80% tem défice deste elemento.
O endocrinologista João Jácome de Castro garante que se trata de um problema de “saúde pública”, mas cujo tratamento é simples e acessível: A suplementação é feita com um comprimido de iodeto de potássio por dia, que já é comercializado em Portugal e custa menos de dois euros mês. “É semelhante ao que já acontece com o ácido fólico, que já é recomendado a todas a grávidas”, explica. O especialista da SPE assegura que as especialidades que lidam de perto com a gravidez – clínico geral/ médico de família e obstetra – estão sensibilizadas para esta realidade e que as gestantes recentes são aconselhadas a fazer esta suplementação. No entanto, lembra que não há uma monitorização e que a prática ainda é muito recente, pelo que considera que deve haver uma divulgação junto da população. “A própria mulher deve questionar o seu médico sobre esta matéria”, afirma.
Portugal sem iodização do sal
O assunto está de tal forma na ordem do dia, que esteve em destaque no XV Congresso Português de Endocrinologia, que teve lugar este mês em Vilamoura. “A carência de iodo durante a gravidez pode causar bócio, hipotiroidismo, aumento da mortalidade neonatal, atraso no desenvolvimento na criança e défices intelectuais”, alerta o endocrinologista.
E apesar de Portugal ser um país costeiro e os oceanos serem principais repositórios de iodo, é difícil, sobretudo para as grávidas, conseguirem níveis deste elemento apenas com a alimentação. Peixe, marisco, algas marinhas, leite e alguns legumes e vegetais são as principais fontes alimentares de iodo. “Estávamos à espera de outros resultados”, reconhece o médico a propósito do estudo.
Em alguns países da Europa há iodização do sal, de forma a garantir o correcto aporte de iodo na população. Mas mesmo que a medida se estenda a Portugal, dificilmente será suficiente para suprir a carência na gravidez. “As grávidas são um grupo de elevado risco para a carência de iodo e uma adequada ingestão deste elemento torna-se necessária para completar as suas necessidades e para assegurar um adequado desenvolvimento do cérebro do feto”, reitera. “Para além disso, o sal deve ser consumido com moderação, ainda mais na gravidez“, acrescenta.
Perguntas frequentes & Respostas:
Quem deve tomar suplemento?
“As mulheres em preconcepção, grávidas ou a amamentar devem receber um suplemento diário de iodo sob a forma de iodeto de potássio (150 a 200 microgramas), desde o período preconcepcional, durante toda a gravidez e enquanto durar o aleitamento materno exclusivo, pelo que deverá ser prescrito o medicamento com a substância activa de iodeto de potássio na dose devidamente ajustada”, diz a orientação clínica da DGS, que data de Setembro de 2013.Quanto custa?
O iodeto de potássio está disponível nas farmácias a preços que oscilam entre os 3,64 e os 4,10 euros, em embalagens de 50 e 56 comprimidos, que dão para cerca de dois meses. É fabricado por um laboratório português.O que previne?
Bócio, hipotiroidismo, aumento da mortalidade neonatal, atraso no desenvolvimento na criança e défices intelectuais.Porque é difícil obter o aporte necessário só com a alimentação?
Não se sabe ao certo o teor de iodo presente nos alimentos. A DGS vai estudar o teor de iodo em vários alimentos, porque isso difere de país para país, de acordo com os solos, e essa avaliação não está feita em Portugal.
“As grávidas são um grupo de elevado risco para a carência de iodo e uma adequada ingestão deste elemento torna-se necessária para completar as suas necessidades e para assegurar um adequado desenvolvimento do cérebro do feto” – Dr. João Jacóme de Castro
Atualizado a: