O lábio leporino, o que deve saber

O lábio leporino (cientificamente chamado de fissura labiopalatatina) é uma abertura na região do lábio ou palato (céu da boca), ocasionada pelo não encerramento dessas estruturas, que ocorre entre a quarta e a décima semana de gestação.
O adjetivo leporino refere-se à semelhança com o focinho fendido de uma lebre. As fissuras podem ser: unilaterais (atingem sómente um lado do lábio) ou bilaterais (fendas dos dois lados do lábio), completas (quando atingem o lábio e o palato), ou incompletas (quando atingem somente uma dessas estruturas), além de atípicas assim variando desde formas mais leves, como cicatriz labial e ou úvula bífida (quando a úvula aparece partida em duas), até formas mais graves, como as fissuras amplas de lábio e palato.

 

As fissuras labiopalatinas também podem associar-se a outras malformações sejam elas de face ou de outras regiões do corpo.

As fissuras do palato deixam o canal oral em contacto com o nasal.

Incidência:

Os caucasianos (raça branca) têm uma incidência estimada em 1,84/1000 nascimentos, sendo maior entre os amarelos e menor nos negróides (raça afroamericana).

A sua incidência com a presença de familiares fissurados ocorre nas seguintes proporções:

a) pais normais = 0,1% de probabilidade de ter um filho fissurado
b) pais normais e um filho fissurado = 4,5% de probabilidade de ter outro filho fissurado
c) um dos pais e um filho fissurado = 15% de probabilidade de ter outro filho fissurado
O tratamento é longo, mas vale a pena, tem início desde o nascimento até a fase adulta, passando por várias cirurgias corretivas e estéticas

Fatores do lábio leporino

Estima-se que a cada 650 nascimentos, uma criança nasça com fissura labiopalatina.
Existem vários fatores que têm sido implicados no seu aparecimento, tais como o uso de álcool ou cigarros, a realização de raios-x na região abdominal, a ingestão de medicamentos, como anticonvulsivantes ou corticóides, durante o primeiro trimestre de gestação, deficiências nutricionais, infeções, além da hereditariedade.
A única forma de os corrigir é através de cirurgia.

Deteção e correção do problema:

Atualmente, graças ao aperfeiçoamento da Ecografia, o lábio leporino pode ser diagnosticado antes mesmo do parto. Isso permite que, logo após o nascimento, a cirurgia corretiva seja realizada.
A primeira cirurgia de lábio é realizada normalmente aos três meses de idade, quando a criança já deve ter 5 kg. Já a cirurgia de palato duro é realizada apenas aos doze meses de idade.
Para uma boa alimentação e a criança não refluir alimento pelo nariz até a cirurgia do palato duro, são desenvolvidas técnicas de amamentação sendo a persistência da mãe fator fundamental para o seu sucesso.
Se mesmo assim a mãe não consegue amamentar, ela é orientada a fazer a colheita e dar o leite materno com biberão, pois a preocupação é que mamando mal o bebé terá pouco ganho de peso.
Alguns autores advogam o uso de placas palatinas pré-moldadas, de fácil manejo para ajudar na amamentação.

Alimentação

No caso da fenda se estender até ao palato, há maior risco das crianças aspirarem o alimento provocando infeções como otites e pneumonias.
As otites podem causar prejuízos no desenvolvimento da fala e linguagem. As anemias também são frequentes nas fissuras labiopalatinas normalmente solucionáveis com uma dieta balanceada e sulfato ferroso.
O aleitamento materno é indicado para evitar infeções, combater a anemia e fortalecer a musculatura da face e boca, além de manter a produção de leite da mãe.
Quando o bebé não ganha peso suficiente, recorre-se à complementação alimentar, mas sem suspender a amamentação, pois o ato de sucção faz com que haja aumento no vínculo entre mãe e bebé.

Sequelas

Sem o devido tratamento, as fissuras podem provocar sequelas graves, como a perda da audição, problemas de fala e deficit nutricional, além do sofrimento com o preconceito.
É possível a total reabilitação do paciente com fissura labiopalatina. Quanto mais cedo a intervenção, melhor. O tratamento é longo, mas vale a pena, tem início desde o nascimento até a fase adulta, passando por várias cirurgias corretivas e estéticas.
“No caso da fenda se estender até ao palato, há maior risco das crianças aspirarem o alimento provocando infecções como otites e pneumonias”

Reabilitação

A Maxfac tem uma equipa multidisciplinar envolvida nesta reabilitação, como médicos, enfermeiros, fonoaudiólogos, nutricionistas, dentistas, psicólogos, farmacêuticos e assistente social.
A troca de informações entre os profissionais é fundamental para o tratamento da criança, pois um fator interfere diretamente no outro, no que diz respeito aos dentes, à fala, à face, às funções alimentares e ao desenvolvimento psicossocial.
Os pais de uma criança com fissura labiopalatina devem procurar todos os tipos de orientações para possibilitarem a total reabilitação do seu filho.
É indicado que os pais permaneçam tranquilos, pois a rejeição, negação e sentimento de culpa podem ser considerados normais no primeiro momento, mas com ajuda profissional, tanto os pais quanto o bebé poderão ter uma vida saudável e feliz.

Amamentação

– Segurar o bebé em posição vertical, de modo que o nariz e a boca fiquem mais altos que o peito.
– Preencher a abertura do lábio leporino com o seio (pode-se usar a placa dentária especial – obturador – para cobrir a fenda palatina)
– Estimular e ajudar a mãe, orientando-a que se for necessário “fechar a fissura” para que o bebé possa mamar bem, e apoiando-a, pois as mamadas costumam ser longas
– Alguns bebés necessitam ser alimentados por sonda orogástrica, copo, biberão, colher, o que o bebe tolerar melhor.
Texto: Dr. Óscar Prim da Costa, Cirurgião Maxilofacial e Diretor clínico da Clinica MaxFac

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