Segunda gestação: Mitos e verdades
Vamos quebrar alguns mitos e ratificar verdades sobre a primeira e a segunda gestação.
A segunda gravidez, apesar de algumas mulheres não acreditarem, por já não serem “marinheiras de primeira viagem”, como é comum se dizer, a segunda gestação é sempre diferente da primeira gestação. Vários fatores exercem influência direta no processo gestacional: os biológicos e os emocionais, assim como o tempo transcorrido entre uma gravidez e a outra.
Segundo Renato Kalil, ginecologista e obstetra do Hospital e Maternidade São Luiz e membro da American Academy of Family Phisician, deve-se considerar a idade da futura mãe, as modificações abdominais e pélvicas decorrentes da primeira prenhez e do tipo de parto a que se foi submetida, a qualidade do óvulo fecundado (idade materna), a implantação da gestação no útero (relacionada com abortamentos), o equilíbrio hormonal, o bom desempenho da placenta, entre outros fatores. Uma gestação também é muito influenciada pelos aspectos psicológicos e emocionais.
Aceitar receber a gravidez, assim como as suas implicações na vida da família, conviver com as novas expectativas de vida, recomeçar, aumentar responsabilidades, organizar as rotinas doméstica e profissional, são fatores que transformam a experiência anterior numa experiência completamente diferente e única.
“Se formos comparar duas situações gravidez, observaremos que todas as suas fases são distintas, acontecem em momentos e condições diferentes”, relata Kalil. “Na prática, os seus sintomas podem ou não ser semelhantes. O psiquê feminino costuma ser responsável por 70% dos sintomas na primeira gestação, enquanto apenas 30% são decorrentes de outras alterações, como por exemplo, as hormonais, o que pode ser oposto na segunda gestação”, reforça.
A experiência obtida no decorrer da primeira gravidez, parto e pós-parto tem papel muito importante na evolução da segunda. “Por exemplo, se a mãe teve traumas com o parto ou amamentação, sangramentos, problemas clínicos na primeira vez, é natural que sua ansiedade aumente muito, pelo medo de passar por tudo outra vez. Contudo, é preciso deixar muito claro que estas ocorrências não surgem obrigatoriamente em todas as gestações”, explica Kalil.
“Algumas patologias que se manifestam na primeira gravidez têm maior probabilidade de ocorrer na segunda e, neste caso, realmente a mulher poderá apresentar o mesmo quadro, mas isso também não é uma regra.
Como exemplos temos os quadros de hipertensão arterial, diabetes, patologias placentárias (descolamento de placenta, acretismo – quando a placenta se infiltra no útero), colagenoses , problemas reumatológicos, doenças renais, problemas cardíacos, entre muitas outras doenças. Nos casos mais graves, a segunda gravidez é até contra-indicada. Mas isso varia a cada paciente. É preciso avaliar”, diz o especialista.
Parto e pós-parto
Dentre muitos mitos e verdades que povoam as mentes femininas sobre os aspectos da segunda gravidez, está o tipo de parto. Contudo, segundo Kalil, embora exista relação entre o primeiro e o segundo parto, principalmente no que diz respeito a traumas e complicações, o segundo pode evoluir naturalmente bem, mesmo que o primeiro tenha sido problemático.
“Tanto o sucesso quanto o insucesso do primeiro parto, influenciam no segundo. Mas, existem trabalhos que apontam que se o primeiro parto for cesariana, aumenta-se em 12% o risco de ruptura uterina no segundo parto, devido ao corte uterino já realizado anteriormente.
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Por outro lado, existem 88% de chances do trabalho de parto evoluir com tranqüilidade e culminar em parto normal. Se as condições forem favoráveis, acredito que tenha de ser tentado o parto normal”, relata. “Para as que preferem cesariana, saibam que no Brasil 87% (hospital privado) dos partos são realizados dessa forma, mas 13% desses recém-nascidos irão para UTI por desconforto respiratório, ao passo que, apenas 5% dos recém-nascidos de parto normal irão”, complementa Kalil.
O período pós-parto não deve ser menosprezado por se tratar de uma mãe já experiente (aparentemente). “Se mal assistido, esta fase poderá ser responsável por vários problemas. Porém, se a mulher seguir às orientações transmitidas pelo obstetra e equipe multidisciplinar durante o pré-natal, a incidência de complicações no transcorrer do parto e do puerpério (período que sucede o parto, e durante o qual o organismo materno, modificado pela gravidez e o parto, sofre mudanças destinadas a levá-lo ao estado normal) diminui bastante”, diz.
O aleitamento também é um tema que gera dúvidas na “mãe de segunda viagem”, sobretudo se sua primeira experiência não foi considerada normal. “Quanto mais precocemente forem identificadas as suas dificuldades e seus medos, muito mais facilmente tais situações serão tratáveis e sanáveis.
Assim como a gestação e o parto, cada experiência de amamentação é única e, neste caso, ao contrário do que acredita-se, o sucesso não depende exclusivamente da mãe e, sim, de um bom desempenho de sucção do bebê”, ressalta o especialista.
De acordo com o ginecologista, o principal mito que deve ser derrubado é que uma gravidez é igual a outra. “A segunda gestação sempre será diferente da primeira em todos os seus aspectos. É totalmente outra condição, outra situação…”, reforça.
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