Como perceber e tornar-se mais consciente das suas emoções
“Hoje sinto-me triste.“, “Hoje estou feliz!” ,“Aquela pessoa tem o dom de me deixar irritado!” Identifica-se com estas expressões? Sente-se habitualmente assim e não percebe o porquê? Estas são algumas das emoções que experienciamos ao longo da nossa vida. Mas, na realidade, o que é isto a que chamamos de emoções e que, no fundo, são o espelho daquilo que sentimos?
De uma forma simples as emoções são sinais internos do nosso corpo que nos dizem que alguma coisa está a acontecer. Quando algo de bom nos acontece nós sentimo-nos bem, quando, pelo contrário, algo corre mal, sentimo-nos tristes, ansiosos. No fundo, as nossas emoções são como o telejornal ou a rádio, que nos dão constantes atualizações sobre aquilo que estamos a fazer e a experienciar. Para além deste aspeto mais geral, verificamos que as emoções podem ser primárias e/ou secundárias. Mas o que é isto de primário e secundário? As emoções não são todas o mesmo? Não.
As reações iniciais ao que está a acontecer são denominadas de emoções primárias. Estas são sentimentos, sensações fortes que surgem muito rapidamente e que não dependem de um pensamento sobre o que aconteceu para surgirem. Por exemplo, se ganharmos o euromilhões, sentimo-nos automaticamente surpreendidos. Se alguém que nos é querido morre, rapidamente nos sentimos tristes.
Por outro lado, as emoções secundárias são reações às emoções primárias, ou seja, são “feelings about your feelings”. Por exemplo, imagine que o João gritou com a sua irmã porque esta lhe disse algo que o irritou. Esta raiva/irritação surgiu muito depressa. Pouco depois sentiu-se culpado por se ter irritado com a irmã. A irritação foi a primeira emoção e a culpa a emoção secundária.
Porém, é também possível experienciar numerosas emoções secundárias em resposta a uma emoção primária. Por exemplo, a Maria ficou ansiosa quando lhe pediram para fazer uma futura apresentação no trabalho. Com o aproximar do dia, a Maria ficou cada vez mais deprimida ao pensar em quão ansiosa estava a ficar, e começou a sentir-se inútil, a sentir que não conseguiria fazer uma simples apresentação. No dia depois da apresentação, a Maria começou a sentir-se culpada por ter feito um grande aparato acerca desta situação. Aqui conseguimos ver como as emoções de uma pessoa se tornam muito complexas, de um momento para o outro. A ansiedade foi a primeira emoção, a depressão, a inutilidade, a culpa foram as emoções secundárias em resposta à ansiedade.
Mas como é que as emoções funcionam/trabalham?
As emoções são sinais químicos e eléctricos do nosso corpo que nos alertam para o que está a acontecer. Estes sinais começam, muitas vezes, com as nossas sensações visuais, toque, cheiro e sabor/paladar. Então estes sinais viajam até ao nosso cérebro, onde são processados numa área que chamamos sistema límbico, o qual é especializado em observar e processar as emoções para que possamos responder em situações emocionais. O sistema límbico está, também, ligado/conectado com todo o cérebro e corpo para que possa dizer ao nosso corpo o que fazer para responder em determinadas situações emocionais.
As emoções são, extremamente, importantes por variadas razões, especialmente em situações de sobrevivência. Imagine que vai a andar pela rua quando de repente um cão grande e raivoso ladra e corre atrás de si. Nesse preciso momento, um sinal emocional foi enviado, pelos olhos e ouvidos para o seu cérebro. O sistema límbico processou a informação sem que pensasse no que estava a fazer. Este tipo de resposta é chamado de “luta ou fuga”, e determina se fica para lutar com o cão ou foge da situação. Imagine que sabiamente escolhe fugir e escapa ilesa. As suas emoções ajudaram-na a sobreviver e a evitar qualquer sofrimento/dor.
Vamos supor que duas semanas mais tarde está novamente a andar pela mesma rua e rapidamente começa a sentir medo. A isto se chama de resposta condicionada. O seu sistema límbico está a tentar protegê-la fazendo com que ela se recorde do cão perigoso que viu nesta rua. Sensatamente, ela escolhe outra rua para evitar o cão. Neste exemplo, as suas emoções inicialmente ajudam-na(o) a escapar do perigo e do sofrimento, e posteriormente ajudam-na(o) a evitar um potencial dano. No fundo, as nossas emoções são sinais que nos ajudam a: sobreviver; relembrar pessoas e situações; lidar com situações do dia-a-dia; comunicar com os outros; evitar a dor/sofrimento e procurar o prazer e o bem-estar.
Como se tornar mais consciente das suas emoções?
Como todos sabemos as emoções estão sempre presentes ao longo do nosso dia-a-dia e, invariavelmente, ao longo de toda a nossa vida. No fundo … fazem parte de nós. E por isso mesmo é importante perceber o que estamos a sentir e tomar consciência disso, pois assim conseguimos alcançar o equilíbrio emocional, que tanto desejamos nas nossas vidas. Mas o que posso fazer para ter mais consciência das minhas emoções e dar-lhes respostas adequadas? – pergunta a si mesmo.
Pode fazê-lo de diversas formas. Estas são algumas das coisas que pode fazer no seu dia-a-dia:
Seja curioso e questione o que está a sentir! Tente encontrar uma ou duas palavras que melhor descrevam o que está a sentir;
Quando reparou pela primeira vez naquilo que estava a sentir? Ou seja, esta emoção é recente? Ou quase que já faz parte de si e da sua vida?
O que despoletou esta emoção? Tente perceber a causa, o motivo pelo qual este sentimento surgiu.
Que outros fatores podem estar a contribuir para o surgimento e manutenção dessa emoção?
Como responder à emoção? Depois de a identificar e ter consciência da mesma, reflita sobre qual a melhor forma de dar resposta ao que está a sentir. Por vezes é benéfico agir automaticamente em situações relacionadas com a sobrevivência, mas noutras devemos ponderar o que fazer!
Não queria não sentir a emoção! Suprimir só irá fazer com que ela surja mais vezes e fique cada vez mais intensa! Estarmos com as nossas emoções, por mais difícil que pareça, é a melhor resposta … E quando se sentir preparado deixa-a ir!
As emoções são temporárias … não duram sempre! Por isso mesmo não tenha receio em estar com elas, mesmo que dolorosas … não duram para sempre!
A capacidade de pensarmos sobre as nossas emoções ajuda-nos a criar um amortecedor entre aquilo que sentimos e as nossas respostas, fazendo com que deixemos de agir no “calor do momento” e/ou de forma impulsiva.
Já reparou que muitas vezes a carga negativa que atribuímos às nossas emoções é apenas o nosso cérebro a sinalizar que alguma coisa não está bem connosco … a sinalizarmo-nos que temos de dar resposta ao nosso sofrimento, desafios e vivências de vida? Hoje escolha reparar no bom, nas emoções tal como elas são … porque no fundo não podemos mudar o espelho daquilo que sentimos (emoções) mas sim a forma como olhamos e lidamos com o espelho! Comece hoje a dar outro rumo às suas emoções. Seja o principal condutor da sua vida!
Texto de: Cláudia Sintra Vieira, psicóloga da Oficina de Psicologia
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