Como se faz o pânico? Porque temos pânico?
Muito frequentemente ouvimos no nosso dia-a-dia as pessoas dizerem: “quase tive um ataque de pânico!” Mas, afinal, o que é o pânico?
O pânico pode ser descrito como um período de tempo de medo ou desconforto intensos durante o qual quatro (ou mais) dos seguintes sintomas se desenvolvem abruptamente e atingem um pico num espaço de 10 minutos. Estes podem ser palpitações cardíacas, batimentos cardíacos fortes ou coração acelerado, suores, tremores, dificuldade em respirar, sensação de sufoco, dor no peito ou desconforto nessa zona, náuseas ou perturbações gastro-intestinais, tonturas, sensação de estar zonzo, sensação de desmaio, desrealização (sensação de irrealidade) ou despersonalização (sensação de estar separado de si próprio), medo de perder o controlo ou enlouquecer, medo de morrer, parestesias (sensação de formigueiro ou dormência), arrepios ou calor súbito ou suores frios…
O sistema de “alerta” normal do organismo, ou seja, o conjunto de mecanismos físicos e mentais que permite que reajamos a uma ameaça, tende a ser desencadeado desnecessariamente numa crise de pânico, sem que haja perigo iminente. Algumas pessoas são mais suscetíveis ao problema do que outras, existindo, por isso, o fator hereditário (genético) na determinação de quem desenvolverá esta problemática. No entanto, existem casos em que esta problemática se desenvolve não existindo nenhum antecedente familiar.
E como é que o pânico funciona no cérebro? O cérebro produz substâncias chamadas neurotransmissores que são responsáveis pela comunicação que ocorre entre os neurónios (células do sistema nervoso). Estas comunicações formam mensagens que irão determinar a execução de todas as atividades físicas e mentais do nosso organismo (ex.: andar, pensar, memorizar, etc.). Um desequilíbrio na produção destes neurotransmissores pode conduzir algumas partes do cérebro a transmitir informações e comandos incorretos. Por outras palavras, é exatamente o que ocorre durante uma crise de pânico: existe uma informação incorreta que alerta e prepara o organismo para uma ameaça ou perigo que na realidade não existe. É como se tivéssemos um despertador que passa a tocar o alarme em momentos desadequados.
Esta problemática é nitidamente diferente de outros tipos de ansiedade, caracterizando-se por crises súbitas, sem fatores aparentemente desencadeadores e, frequentemente, incapacitantes. Depois de ter uma crise de pânico – por exemplo, enquanto conduz, ou enquanto está a fazer compras numa loja com bastantes pessoas ou dentro de um elevador – podem desenvolver-se medos irracionais relativamente a estas situações e, a partir daí, começar a evitar determinados contextos associados a estas situações. Gradualmente, o nível de ansiedade e o medo de uma nova crise podem atingir proporções tais, que podemos começar a sentir uma incapacidade de fazer algumas tarefas diárias como o conduzir ou até mesmo sair de casa. Por isso, a perturbação de pânico pode ter um impacto bastante significativo na sua vida diária, a menos que receba um tratamento eficaz.
Além do acompanhamento individual, a psicoterapia de grupo é reconhecidamente eficaz para redução/eliminação de sintomas com vantagens também do ponto de vista económico. E como funcionam? Os grupos psicoterapêuticos agregam pessoas que sofrem de uma mesma perturbação e permitem, num curto espaço de tempo, lidar com a sintomatologia mais representativa através de técnicas de intervenção direcionada para a problemática.
Além disso, neste contexto, são criados momentos de partilha com outras pessoas que lidam diariamente com o mesmo problema, o que revela sempre um efeito terapêutico significativo. Assim, desta forma, torna-se um grande passo, quer para a normalização daquilo que sente, quer para a aceitação de si próprio. E, várias pessoas a observar uma mesma realidade podem obter uma riqueza de perspetivas, impossível de conseguir em outro contexto.
Fonte: Cristiana Pereira, psicóloga clínica da Oficina de Psicologia
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