Gaguez infantil: Palavras que saem aos soluços

Entre os dois e os cinco anos pode surgir um período em que as crianças começam a gaguejar. Normalmente esta é uma situação transitória, mas há casos em que o problema se torna permanente, afetando o discurso e a interação social dos mais pequenos.

As sílabas, palavras ou frases teimam em não sair: parece que ficam presas na garganta e quando se soltam surgem repetidas ou duram mais tempo do que o esperado, atrapalhando o discurso das crianças. Quem já ouviu o relato ou passou por uma situação em que o filho ou o sobrinho, por exemplo, tropeça nas palavras e bloqueia ao tentar dizer alguma coisa, reconhece facilmente este quadro.

A fala é interrompida por silêncios, demoras, bloqueios ou repetições de sons, sílabas ou palavras, e podem surgir associados sinais físicos como piscar de olhos, tremores dos lábios e face, ou movimentos respiratórios durante a fala. A este cenário acresce ainda a frustração sentida pelo pequeno que, ao dar conta de que não consegue dizer aquilo que pretende, fica cada vez mais ansioso e tenso e, consequentemente, com mais dificuldades no discurso. Assim é a disfluência, mais conhecida como gaguez.

Gaguez infantil

Jaqueline Carmona, terapeuta da fala e linguista no PIN – Centro de Desenvolvimento Infantil, diz-nos que esta dificuldade no discurso é mais comum nos meninos e aparece mais frequentemente “entre os 3 e os 4 anos de idade, mas pode surgir aos 5 ou mais tarde. Por vezes, surge aos 8 e até mesmo aos 13-14 anos”. No entanto, quanto mais tarde se manifestar, menor será a probabilidade de desaparecer assim como surgiu: inesperadamente e sem qualquer intervenção especializada.

Se tem filhos e identificou estes sinais no seu discurso, fique atenta mas mantenha a calma, procurando não lhes transmitir a sua preocupação e ansiedade. Durante a aquisição e o desenvolvimento da linguagem da criança, é comum surgirem períodos de disfluência caracterizados pela repetição ocasional de sílabas e palavras, hesitações e o uso de expressões do tipo “hum…” e “aaa…”. Isso acontece porque nesta fase da vida – entre os dois e os cinco anos – há um grande acréscimo de vocabulário e a capacidade articulatória de produção da fala ainda não permite acompanhar a velocidade do pensamento, fazendo com que as crianças “tropecem” e “atropelem” algumas palavras.

Por vezes, esta situação é, como salienta a terapeuta da fala, “designada de gaguez do desenvolvimento, o que não está correto, pois ainda que frequente, não deve ser interpretada como típica do desenvolvimento”. Regra geral, este corte na fluência do discurso desaparece espontaneamente pelo quinto ano, coincidindo mais ou menos com a entrada na escola, mas não deve esperar por esta idade para averiguar o que se passa com o seu filho.

 

Quando o “tropeçar” nas palavras se torna persistente:

No entanto, para algumas crianças a gaguez permanece, acentuando-se nos momentos de ansiedade. E, embora possa haver um certo grau de gaguez ao longo do processo de aquisição da linguagem, há manifestações que não devem ser ignoradas se as dificuldades permanecerem durante algum tempo. Jaqueline Carmona explica que “os pais devem estar atentos se a situação não desaparece no tempo máximo de 6 meses. Durante esse tempo a gaguez não deveria agravar-se. Pelo contrário, deveria aparecer e desaparecer, ainda que os pais fiquem muito ansiosos, cada vez que volta a aparecer, mas este é um bom indício”.

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