Terapia EMDR : Um outro olhar para as Experiências Emocionais Traumáticas
A terapia EMDR (Eye Movement Desensitization and Reprocessing) pode ajudar a lidar com experiências traumáticas e com ansiedade. Esta terapia caracteriza-se por ser uma intervenção breve e focalizada no reprocessamento e dessensibilização de memórias passadas relacionadas com o trauma emocional e/ou com a ansiedade.
Ao longo da vida, cada pessoa depara-se com caminhos, encruzilhadas, escolhas, obstáculos e desafios diários. A cada experiência processada e armazenada na nossa memória, é-lhe atribuído um significado e criam-se pontos de conexão com outras experiências. Algumas memórias permanecem connosco ao longo da nossa vida, outras dispersam-se no nosso passado.
As experiências emocionais exercem um grande peso na vida das pessoas, algumas experiências tocam, marcam, sensibilizam, transformam e despoletam descobertas e aprendizagens. Enquanto outras experiências emocionais são armazenadas na nossa memória com um cunho desagradável e perturbador, não ocorrendo o processamento da informação da experiência nem a diminuição da perceção perturbadora e do sofrimento emocional. Estas experiências são revividas, sem controlo e involuntariamente, no presente.
Vivenciar uma experiência traumática, como a perda de alguém significativo, situações afetivas, situações de perigo, maus-tratos, actos de violência e eventos catastróficos, não significa que a pessoa irá desenvolver um trauma emocional, apenas que ficará mais vulnerável a ter maior dificuldade em lidar com as suas emoções e com a experiência perturbadora para que esta não condicione o seu bem-estar no futuro e/ou desenvolva sintomas de stress pós-traumático.
O efeito intenso da experiência emocional poderá bloquear o processamento da informação vivida, impedindo a ligação do evento traumático a uma conexão adaptativa da informação e a uma descoberta de como lidar com as emoções resultantes da experiência desagradável.
O que distingue uma memória comum de uma memória traumática?
A distinção é feita com análise da narrativa da história da experiência emocional e quão a pessoa percebe que a experiência é perturbadora e lhe causa dor e sofrimento, nublando a forma como vê os outros, o que a rodeia e como se vê no futuro ou pensa acerca do mesmo. Na narrativa da memória comum os detalhes da experiência perdem-se no passado e a intensidade emocional quando se recorda do evento não condiciona significativamente o seu dia-a-dia. Por outro lado, na memória traumática, a memória da experiência permanece inalterada, como se tivesse congelado no tempo.
A pessoa vive o passado como se fosse aqui e agora, no presente. A narrativa da experiência traz detalhes visuais, e por vezes, auditivos, olfativos, gustativos, físicos e emocionas, como se a dimensão temporal não existisse. A pessoa não consegue observar a experiência do passado, sem experienciar emoções intensas e sem reviver o episódio novamente, na primeira pessoa.
A memória permanece inalterada principalmente no hemisfério direito, responsável pela regulação das nossas emoções, não existindo uma comunicação com o hemisfério esquerdo, o responsável pela objetividade e pela racionalidade. Será o hemisfério esquerdo que terá as estratégias necessárias para transformar e reatribuir um novo significado à experiência emocional e diminuir a ativação da memória passada, permitindo que esta memória permaneça no passado e não seja percecionada como um evento atual.
A terapia EMDR através da estimulação bilateral ajudará a que esta comunicação entre os hemisférios seja restabelecida e possa ocorrer o reprocessamento e dessensibilização de memórias passadas relacionadas com o trauma emocional e/ou com a ansiedade resultante da experiência emocional traumática.
Como se processa a intervenção em EMDR?
Na terapia Eye Movement Desensitization and Reprocessing (EMDR), ou seja, Dessensibilização e Reprocessamento através do Movimento Ocular, pretende-se que haja a dessensibilização e reprocessamento de experiências traumáticas por meio da estimulação bilateral.
O método foi desenvolvido pela psicóloga Francine Shapiro, na década de 80, focalizando-se nos elementos da memória traumática (pensamentos, sentimentos, imagens visuais e sensações corporais) e na estimulação bilateral dos hemisférios cerebrais, no qual o resultado da estimulação é a dessensibilização e reprocessamento do trauma emocional.
O processo de intervenção combina métodos terapêuticos como a exposição imagética, reestruturação cognitiva e técnicas de autocontrolo em protocolos específicos e validados cientificamente, que permitem adaptações em função das necessidades de cada pessoa, respeitando a sua individualidade.
O método de estimulação bilateral é conseguido através da utilização do movimento alternados dos olhos (estímulo visual), podendo ser alternado com o uso de estímulos sonoros e tácteis. Os estímulos parecem estimular uma capacidade natural e intrínseca do sistema neurofisiológico humano para processar experiências emocionais e adoptar insights adaptativos, recriando um estado semelhante a um período de sonho ou um estado semelhante à fase do sono REM (Movimento Rápido dos olhos).
Com a intervenção a pessoa consegue ter uma sensação de maior distanciamento da memória traumática e consegue reunir recursos para reavaliar a experiência. É criada uma ligação adaptativa entre o passado, presente e futuro. Ao promover o reprocessamento das experiências emocionalmente traumáticas reforça-se o processamento das experiências de forma adaptativa, recordar a memória, sem o efeito perturbador. A terapia EMDR não provoca amnésia nem o esquecimento dos eventos perturbadores, apenas modifica e transforma a forma de a pessoa experienciar a memória traumática ao promover a construção de narrativas coerentes e resolução de conflitos emocionais atuais resultantes de memórias passadas.
Em que situações é recomendado a terapia EMDR?
A terapia EMDR tem vindo a ser intensamente estudada, sendo comprovada a sua eficácia por estudos científicos como uma terapia eficiente e com resultados duradouros no que diz respeito a perturbações de stress pós-traumático (situações de guerra, catástrofes naturais, actos de violência e acidentes). Poderá ainda ser útil em situações em que haja uma componente de ansiedade e de trauma, mais concretamente, na resolução de pensamentos intrusivos, fobias, dor crónica e perturbações emocionais, como o lidar com a culpa, raiva, luto e medos.
Qual o contributo da Terapia EMDR para a intervenção de experiências traumáticas?
A terapia EMDR trouxe uma nova visão de olhar para o trauma, concentrando o seu foco no desenvolvimento pessoal e compreendendo a redução dos sintomas como um produto do reprocessamento da experiência a par da assimilação de nova informação (reatribuição de um novo significado à experiência), do aumento da autoconsciência e da regulação emocional (Shapiro, 2009).
Fonte: Psicóloga Catarina Carreto, Fale Connosco – Saúde Personalizada
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