A acupuntura infantil no regresso às aulas
O mês de Setembro marcou o reinício das aulas e o começo de um novo ano letivo para as nossas crianças e adolescentes. Saiba como a acupuntura os pode ajudar no regresso à rotina escolar.
Desde cedo que a Medicina Tradicional Chinesa, tal como a Medicina Alopática, não encara a criança como “um adulto em ponto pequeno”. Os clássicos da acupuntura enumeram um conjunto de características fisiológicas próprias de um corpo que ainda está em processo de crescimento e desenvolvimento, características essas que fazem com que a escolha dos pontos e, sobretudo, a forma como são estimulados seja diferente na criança, no adolescente ou no adulto. Para além disso, os avanços tecnológicos registados na última década permitiram não só aumentar o leque de opções para estimular os pontos de acupuntura nas crianças (sobretudo com a acupuntura laser), mas também conhecer melhor os mecanismos de ação que justificam os resultados clínicos obtidos.
Em Portugal, são cada vez mais os pais que, em articulação com a pediatria alopática, procuram na acupuntura uma técnica desprovida de toxicidade que permita melhorar a qualidade de vida e o desempenho académico dos seus filhos. Os principais motivos de consulta variam em função da idade do paciente, incluindo sistemas tão distintos como respiratório (rinite, sinusite, asma, infeções de repetição), urinário (enurese noturna), cutâneo (eczema, dermatite atópica, acne), sem esquecer a melhoria do desempenho escolar, abrangendo situações como défice de atenção ou controlo da ansiedade associada a adaptação a novos meios (mudança de escola) ou a períodos de avaliação.
O ambiente escolar, pelos seus inúmeros desafios (académicos, sociais, afetivos), coloca na criança e no adolescente elevados níveis de stress e ansiedade, existindo uma multiplicidade de formas como estas disfunções se poderão manifestar, desde das mais graves como depressão major, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) ou distúrbios alimentares graves (anorexia e bulimia nervosa), às mais leves como o sono mais agitado ou um quadro de diarreia ligeira nos dias que antecedem a época de testes ou nos primeiros dias numa nova escola. A todas elas o acupuntor, isoladamente ou em articulação com outros profissionais de saúde (pediatra, pedopsiquiatra, psicólogo), pode dar uma resposta positiva.
Na Medicina Chinesa não existe o dualismo corpo/mente. O corpo é a base material da mente que, por sua vez, é vista como a expressão natural das funções do corpo. Este conceito holístico, que não faz a separação entre psique (mente) e soma (corpo), justifica os processos de somato-psiquismo (em que alterações fisiológicas poderão resultar em alterações mentais e cognitivas) e os processos de psico-somatismo (em que as alterações psicológicas poderão ter um efeito positivo ou negativo sobre o funcionamento do corpo).
Desta forma, o acupunctor possui todo um conjunto de técnicas terapêuticas que permitem à criança atingir o seu verdadeiro equilíbrio físico e mental. Ao fazê-lo, a criança poderá utilizar todo o seu potencial na obtenção de um melhor resultado académico ou no processo de sociabilização com os colegas, evitando situações de baixa autoestima ou de isolamento social, potenciadoras de quadros depressivos.
Como funciona na prática?
Uma das técnicas mais utilizadas em clínica para a melhoria das funções cognitivas (memória e atenção) e a regularização do estado emocional (inclui comportamento e alterações de humor) é a técnica dos “3 pontos para o Mental”: Shenting (localizado na linha média) e Ben Shen (2 pontos localizados à direita e esquerda do anterior). A estimulação destes pontos melhora a memória e a capacidade de foco e atenção do aluno (aumentando os tempos e duração de estudo produtivo) e facilita os processos sociabilização e de interação com os outros, essenciais ao desenvolvimento social e afetivo da criança.
A Medicina Chinesa desenvolveu ainda uma multiplicidade de técnicas que permitem, sem recurso a químicos, regularizar os vários sistemas orgânicos que poderão estar a sofrer as consequências das alterações emocionais, a chamada somatização. Esta somatização poderá ser cardíaca (palpitações, taquicardia, aperto no peito), digestiva (náuseas, vómitos, diarreia, dor abdominal), urinária (enurese noturna, incontinência), cutânea (transpiração excessiva), muscular (dor e tensão cervical ou hiperatividade). Na esmagadora maioria dos casos, consegue-se um bom resultado clínico com a estimulação dos pontos Shu-Mu do tronco. Trata-se de pontos acupuntura, localizados no tronco, que promovem o equilíbrio Yin-Yang dos vários sistemas orgânicos (cardíaco, respiratório, digestivo, urinário). O mesmo é dito pela Medicina Alopática pois a estimulação destes pontos atua no arco reflexo somatovisceral que permite o equilíbrio do sistema nervoso autónomo: simpático (Yang) e parassimpático (Yin), conduzindo à regularização das funções do sistema em causa e consequente redução do sintoma.
No caso de uma criança com gastralgia (dor no estômago), com vómitos sempre que tem testes de avaliação ou tem de falar em público, a utilização dos pontos Shu-Mu do estômago controlará estes sintomas, enquanto outro conjunto de pontos irá regularizar o estado emocional do paciente, controlando a sua ansiedade ligada aos processos de avaliação.
O principal receio dos pais em relação à acupuntura prende-se com a utilização de agulhas e a possibilidade de estas causarem dor aquando da sua aplicação. O recurso ao Laserneedle permite a estimulação laser dos pontos de acupuntura, eliminando o receio da criança (e dos pais) da aplicação de agulhas metálicas. A “agulha laser” é fixa à superfície da pele com um adesivo, sendo depois o feixe laser que atravessa as várias camadas corporais até chegar à profundidade desejada. Para além de ser completamente indolor, o recurso a vários tipos de frequências mimetiza a manipulação manual das agulhas metálicas, permitindo um resultado terapêutico eficaz, fazendo desta técnica a acupuntura do futuro e, a mais utilizada por nós, no tratamento de crianças.
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