Mãe a dobrar: tudo sobre a gravidez e parto de gémeos

Os desafios de ser mãe de gémeos não se fazem sentir apenas depois nascimento: começam logo na gravidez e no parto. Embora nem uma coisa nem outra seja radicalmente diferente de uma gestação e parto “normais” há pequenas nuances que existem e que, se espera gémeos, deve desde já conhecer.

Logo na primeira ecografia, por norma entre as 11 e as 13 semanas, o casal vai ansioso por saber se está tudo bem com o bebé e muito curioso para saber se deve comprar enxoval azul ou cor-de-rosa… Mas, em alguns casos, o tradicional “é menino” ou “é menina” é substituído por um inesperado “são dois!”

Depois da surpresa, da alegria ou da inquietação, resta a pergunta: isso vai tornar a gravidez diferente das outras? E quanto ao parto? E há dois grandes “papões” que assustam as futuras mães de gémeos: a possibilidade de parto prematuro e a necessidade de cesariana.

parto de gémeos

Comecemos pelo receio de prematuridade: o parto prematuro espontâneo em gravidezes de gémeos, tal como em gravidezes simples tem uma causa multifatorial. No entanto, conforme nos explica a ginecologista-obstetra Ana Bernardino Simões “a principal causa de parto pré-termo e rotura de bolsa de águas (rotura de membranas) em gémeos é a excessiva distensão das fibras musculares do útero, que desencadeia contrações uterinas, resultando na alteração do colo do útero e posterior parto.”

De acordo com a obstetra, apesar de não haver medidas muito eficazes na prevenção de um parto prematuro de gémeos, é consensual que sejam implementadas algumas orientações, como o repouso, o reforço da hidratação oral e a utilização de terapêutica para controlo das contrações uterinas. Medidas que serão, claro, sempre ponderadas caso a caso.

Ana Bernardino Simões, revela ainda que não só o risco de parto pré-termo espontâneo é superior numa gravidez gemelar, como provocar o parto antes das 37 semanas, pode mesmo estar medicamente indicada. Segundo a obstetra, dependendo do tipo de gravidez gemelar, ou seja, do números de placentas e sacos amnióticos o parto pode ser programado para as 32-34 semanas (gravidezes monoamnióticas), 36/37 semanas (gravidezes monocoriónicas/biamnióticas), ou 37/38 semanas (gravidezes bicoriónicas).

 

Tipos de gémeos e de gravidezes gemelares:

Existem dois tipos de gémeos: os monozigóticos (“idênticos” ou “verdadeiros”) que resultam da fecundação de um único ovócito por um único espermatozoide e os bizigóticos (“não idênticos” ou “falsos”) em que há fecundação de dois ovócitos por dois espermatozoides.

No entanto, o obstetra, não utilizará essa classificação, e sim a baseada no número de placentas e de sacos amnióticos: as gravidezes bicoriónicas (duas placentas e dois sacos amnióticos); monocoriónicas/biamnióticas (uma placenta e dois sacos amnióticos) ou monocoriónicas/monoamnióticas (uma placenta e um saco amniótico partilhados por ambos os fetos).

Se por um lado todos os gémeos bizigóticos (falsos) são bicoriónicos (duas placentas e dois sacos amnióticos), os gémeos monozigóticos poderão ser monocoriónicos (dos terços dos casos) ou bicoriónicos (um terço dos casos), dependendo do momento em que ocorre a divisão do zigoto.

 

Fonte: Ana Bernardino Simões, ginecologista-obstetra

Gravidez de gémeos é mais complicada ou nem tanto?

De acordo com o American Congress of Obstetricians and Gynecologists o riscos de certas complicações, já por si possíveis em qualquer gravidez, é mais frequente na gravidez de gémeos, nomeadamente a pré-eclâmpsia, a diabetes gestacional e problemas de crescimento dos fetos.

No entanto, os cuidados a ter pela grávida que espera dois bebés, não são muito diferentes dos que devem ter qualquer outra grávida. A grande diferença, de acordo com Ana BernardinoSimões, é que “as gravidezes gemelares exigem uma vigilância obstétrica mais apertada, que passa por um maior número de consultas e avaliações mais frequentes do bem-estar fetal, desenvolvimento e crescimento, através de ecografias.”

Quanto maior o número de fetos e menor o número de placentas e de sacos amnióticos, maior o risco de complicações fetais na gravidez. Gravidezes em que ambos os fetos partilham a mesma placenta e/ou o mesmo saco amniótico, estão associadas a um risco mais elevado de aborto e morte fetal, entre outros. Por essa razão, a vigilância médica é mais apertada.

Relativamente à grávida e às suas rotinas, a obstetra explica que a grávida de gémeos deverá ter em conta os mesmos cuidados que qualquer outra gestante: uma alimentação equilibrada e variada, com aumento da ingestão calórica diária, ganho ponderal adequado, consumo de água e moderação na atividade física.

 

Parto: uma hora pequenina?

É um facto que nas gravidezes gemelares o parto ocorre mais frequentemente por cesariana, mas não quer isso dizer que seja uma inevitabilidade: mulheres selecionadas, ou seja, “sem contraindicação para parto vaginal e com colo do útero favorável, terão um parto vaginal espontâneo ou induzido”, refere Ana Bernardino Simoes.

A obstetra refere que, por outro lado, todas as mulheres que já tenham sido submetidas a uma cirurgia ao útero ou realizado uma cesariana antes da gravidez gemelar, tenham outra contraindicação para parto vaginal ou um colo do útero muito desfavorável a uma indução de trabalho de parto, terão uma cesariana programada.

Além disso, como refere Ana Bernardino Simões, há outras situações em que existe indicação para a cesariana, nomeadamente quando ambos os fetos partilham o mesmo saco amniótico, quando o primeiro feto (o gémeo mais perto do canal de parto) não está cefálico (de cabeça virada para baixo) ou quando há mais do que dois fetos. Feitas todas estas contas, a maioria das grávidas de gémeos terá pois um parto por cesariana, embora haja muitas exceções.
Mas o parto de gémeos não é um momento especial apenas para os pais. A equipa de saúde que nele participa também comunga do mesmo espírito. Conforme nos conta Ana Bernardino Simões, o parto numa gravidez gemelar é sempre um momento de entusiasmo, mas sobretudo um momento de grande concentração e organização da equipa médica e de enfermagem.

Como explica Ana Bernardino Simões, na sala de parto estão, além de uma equipa obstétrica com experiência em partos gemelares, um médico anestesiologista, um neonatologista por cada bebé e uma equipa de enfermagem reforçada, com a presença de, pelo menos, um enfermeiro por bebé. Todos a postos para a ajudarem a receber no mundo os seus bebés!

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