A importância do Cálcio no Corpo humano
O mineral mais encontrado no corpo humano também está presente em muitas fontes vegetais.
O cálcio é um dos minerais mais conhecidos e comentados nos dias de hoje. Um dos principais motivos é o facto de a sua deficiência resultar num problema de saúde bastante comum na atualidade: a osteoporose. Dados da população norte-americana dimensionam esse problema em 1500 milhões de fraturas por ano, com um custo anual estimado em 13,8 milhares de milhões de dólares. Um problema muito comum, mas de custo elevado para a nação.
Tudo isso é decorrente do facto de que, dos 4% de minerais contidos no corpo humano, 75% são representados pelo cálcio. Assim, o cálcio é o mineral mais abundante do corpo e um desequilíbrio do seu teor resulta em sérios problemas para o organismo, especialmente a longo prazo.
Do total de cálcio contido no corpo, 99% é encontrado no esqueleto e nos dentes, sendo o 1% residual mantido no sangue e nos demais tecidos corporais. O mineral tem várias funções no organismo, entre elas a participação na estruturação dos dentes e ossos (veja o quadro “As funções do cálcio no organismo”).
Metabolismo do cálcio
O organismo regula a quantidade de cálcio contida no sangue (entre 9 a 10,5mg/dl). Quando há redução nessa concentração, antes que a hipocalcemia se instale, o organismo diminui a excreção de cálcio na urina e, ao mesmo tempo, estimula as células ósseas (osteoblastos) para que libertem cálcio do osso na corrente sanguínea e também para que o cálcio presente na mucosa intestinal seja absorvido, de forma a que o nível de cálcio no sangue fique dentro dos padrões fisiológicos adequados.
Já quando há uma grande quantidade de cálcio a ser absorvida no intestino, como ocorre após uma refeição rica em cálcio ou mesmo com o uso de suplementos que contêm o mineral, para evitar um excesso de cálcio no sangue (hipercalcemia) o organismo responde aumentando a excreção renal de cálcio e também estimulando as células ósseas (osteoblastos) para que retirem cálcio do sangue e o depositem nos ossos.
Tanto a hipocalcemia como a hipercalcemia são situações danosas para o organismo. A primeira pode produzir hipotensão, arritmia cardíaca e até convulsões, enquanto a hipercalcemia pode causar aumento na contratilidade cardíaca, anorexia, náuseas, vómitos, obstipação, calcificação de tecidos moles e mesmo cálculos renais.Assim, o processo de controlo homeostático do cálcio no organismo, embora pareça simples, é feito em três instâncias: sangue, rins e intestino. Hormonas sexuais e tiroideias entre outras, a vitamina D e os minerais, como o fósforo e o magnésio, atuam modulando o processo.
Vale a pena mencionar que o organismo apresenta duas formas distintas para a absorção do cálcio pelas células intestinais: uma forma passiva, dependente da quantidade de cálcio dentro do intestino (quando há muito, a absorção é reduzida), e outra ativa, predominante quando a concentração de cálcio no intestino é baixa, contribuindo para que mais cálcio seja transmitido do intestino para a corrente sanguínea, que conduzirá o mineral aos tecidos dele necessitados.
Deficiência de cálcio e osteoporose
Os sintomas de deficiência aguda de cálcio são evitados pela remoção orgânica do cálcio do esqueleto e entrega deste ao sangue, que conduz o cálcio aos tecidos, às enzimas e às proteínas, onde a sua presença se faz necessária.
Por outro lado, uma deficiência crónica devida a baixa ingestão de cálcio irá resultar em défice de cálcio no osso, favorecendo a ocorrência da osteoporose (osso poroso). A deficiência na ingestão de cálcio também está associada à hipertensão arterial, cancro do cólon e pré-eclâmpsia em gestantes.
No caso da osteoporose, vale a pena mencionar que a adoção de um estilo de vida sedentário ou mesmo fazer uso de tabaco e de bebidas alcoólicas são fatores modificáveis associados à ocorrência da doença.
Entre os fatores que favorecem a osteoporose, mas que não podem ser modificados, está o biótipo longilíneo do esqueleto (como o observado nas modelos) e a pele clara, característica dos caucasianos ou de origem europeia. Além disso, é necessário mencionar que alterações hormonais podem favorecer a não retenção de cálcio nos ossos. Essa situação é bastante comum entre as mulheres após a menopausa, devido à redução na produção de estrogénio.
Por outro lado, mudanças no estilo de vida podem ter um impacto na ocorrência da osteoporose. Por exemplo, fazer exercícios regularmente, especialmente aqueles que exercem ou promovem certo impacto sobre o esqueleto – como a caminhada com energia – contribui para aumentar a densidade dos ossos.
Se o exercício for feito ao ar livre, com exposição à luz solar (pela manhã ou pelo fim de tarde), mais cálcio ainda será retido no osso, tendo em conta que a síntese de vitamina D através da pele é um fator promotor da absorção de cálcio.
Hábitos saudáveis de vida devem ser incentivados na infância e adolescência, fases em que as células formadoras de massa óssea (osteoblastos) estão mais ativas, devido aos níveis de hormonas produzidos. Brincadeiras e exercícios que estimulem o movimento ao ar livre devem ser realizados nessas fases da vida.
O pico de massa óssea é atingido por volta dos 30 anos, tanto para homens como para mulheres. E quanto maior for a densidade do osso nessa faixa etária, menor será o risco de o indivíduo sofrer com a osteoporose na idade avançada.
Fontes alimentares de cálcio
O teor de cálcio presente em alimentos e bebidas é muito variável. Produtos lácteos geralmente apresentam alto teor de cálcio, com exceção da nata do leite e da manteiga. Os peixes geralmente apresentam maior teor de cálcio em relação às carnes de outros animais.
A gordura do leite, pelo facto de conter vitamina D que é lipossolúvel, favorece a absorção do cálcio no intestino. Por esse motivo, o cálcio contido no leite integral é melhor aproveitado pelo organismo em relação ao cálcio presente no leite desnatado.
É importante salientar que, além de aparecer em diversos alimentos, a vitamina D é a única que pode ser sintetizada pelo organismo humano mediante a exposição à luz solar.
Entre as fontes vegetais, cabe mencionar o tofu (queijo de soja), o qual usualmente recebe cálcio durante a sua elaboração. Leguminosas como o feijão, grão-de-bico e feijão-de-soja, além dos brócolos, também são ricos em cálcio (veja quadro “Fontes vegetais de cálcio”).
Devido ao aumento da prevalência da osteoporose na população, o enriquecimento de alimentos tem sido uma estratégia para garantir o maior consumo do mineral. Cereais matinais processados são exemplos de alimentos enriquecidos com cálcio disponíveis no mercado.
Todavia, não basta ter cálcio. Alimentos vegetais, como o espinafre e o tomate, apresentam cálcio associado ao oxalato, de forma que o mesmo apresenta absorção extremamente diminuída (em torno de 2% apenas). Outros compostos presentes nos alimentos, como os fitatos, também têm a propriedade de reduzir a absorção de cálcio.
A questão da proteína
É estimado que, do total de cálcio ingerido numa alimentação mista, apenas 20 a 30% será absorvido. Entre os fatores que reduzem a absorção de cálcio, deve mencionar-se o teor proteico da alimentação, em especial se for de proteína de origem animal.
Um estudo envolvendo mulheres com idades entre os 55 e os 59 anos mostrou maior risco de fratura do antebraço quando elas consumiam 95g ou mais de proteína animal por dia.
A pesquisa ainda observou que as mulheres que consumiam carne vermelha cinco ou mais vezes por semana apresentaram maior risco relativo para fraturas em relação às que comiam menos frequentemente a carne vermelha. A explicação proposta para esses resultados reside no facto de a proteína de origem animal possuir maior teor de aminoácidos com enxofre (metionina e cisteína) que favorecem a excreção renal de cálcio.
É necessário dizer que, embora a soja não seja uma grande fonte de cálcio, ela apresenta compostos que agem no organismo humano de forma a favorecer a retenção do cálcio no osso, estimulando o aumento da massa óssea. Adicionalmente, a leguminosa apresenta um teor dos referidos aminoácidos sulfurados que supre as necessidades humanas, sem a exceder, de forma que não promove a eliminação urinária de cálcio. Assim, é prudente que vegetarianos restritos (vegans) tenham cerca de 50g/dia de proteína de soja na sua alimentação, visando evitar problemas como a osteoporose.
Não há recomendações especiais para gestantes ou lactantes. Por outro lado, não é recomendável a ingestão superior a 2,5g/dia, uma vez que tal quantidade pode resultar em desequilíbrio de outros nutrientes, entre eles o zinco, o fósforo, o magnésio e a vitamina D. Sabe-se que é muito mais frequente o consumo de quantidades abaixo do recomendado do que acima de 2,5g/dia, sendo este encontrado em alguns poucos casos, como resultado do uso de suplementos nutricionais sem a devida orientação.
Pesquisas recentes sobre o cálcio
O aumento na ingestão de cálcio durante a adolescência (1300mg/dia) eleva a retenção de cálcio no osso, resultando em maior densidade óssea nessa fase da vida. A densidade óssea está inversamente associada ao risco de fraturas, mesmo em crianças. Ou seja, quanto menor é a massa óssea, maior é o risco de fraturas.
Tem sido demonstrado que a suplementação de cálcio com a vitamina D reduz o risco de fraturas em idosos. Então, no caso da osteoporose já estar instalada, é importante usar suplementos combinados e, se possível, fazer reposição hormonal associada à atividade física, visando estimular as células ósseas formadoras de massa óssea. Todos esses procedimentos devem ser realizados com a assistência de profissionais médicos e nutricionistas.
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